Seca, ondas de calor e chuvas intensas: Os eventos climáticos extremos no Brasil
O Painel Intergovernamental de Mudanças do Clima da ONU (IPCC) alertou que os eventos extremos estão se tornando mais frequentes e intensos em todo o mundo
Por Isabella Rodrigues
Os eventos climáticos extremos estão se tornando cada vez mais comuns no Brasil, e especialistas alertam que as mudanças climáticas agravam esses fenômenos. Com base nas últimas informações e relatórios, o Brasil tem enfrentado desafios significativos relacionados à seca no Amazonas, ondas de calor, ciclones extratropicais e eventos devastadores causados pela chuva. O que todos esses eventos têm em comum? A resposta está nas mudanças climáticas e no aquecimento global.
O Painel Intergovernamental de Mudanças do Clima da ONU (IPCC) alertou que os eventos extremos estão se tornando mais frequentes e intensos em todo o mundo. Isso se deve, em grande parte, ao aumento das emissões de gases de efeito estufa na atmosfera. No Brasil, essa tendência está se manifestando através de eventos climáticos que variam de secas severas a ondas de calor implacáveis, de ciclones extratropicais a inundações no litoral. O aumento das temperaturas é uma combinação de várias causas, incluindo o aquecimento global e o fenômeno El Niño, caracterizado pelo aquecimento das águas do Oceano Pacífico, que tem afetado o país em 2023.
Seca no Amazonas
O Rio Negro, o sétimo maior rio do mundo, atingiu a menor marca registrada desde 1902, com apenas 13,59 metros, segundo dados do Porto de Manaus. A seca tem dificultado a navegação e o fornecimento de alimentos e combustível para as áreas afetadas, levando o governador Wilson Lima a declarar Estado de Emergência Ambiental. As queimadas também têm contribuído para a seca, com incêndios criminosos e desmatamento agravando ainda mais a situação.
Durante a apresentação das medidas adotadas pelo governo federal para conter os incêndios na região, na sexta-feira (13), a Ministra do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, Marina Silva, enfatizou que os incêndios na Amazônia resultam da ação criminosa intencional ou da transformação da vegetação para fins específicos.
“Há um cruzamento de três fatores. O primeiro deles é a grande estiagem provocada pelo El Niño, que é agravada pela mudança do clima; matéria orgânica em grande quantidade ressecada; e ateamento de fogo em propriedades particulares e dentro de áreas públicas de forma criminosa”, disse a ministra em coletiva.
Enchentes em Santa Catarina
Santa Catarina tem enfrentado uma série de alagamentos, deslizamentos e enchentes devido às fortes chuvas que atingem o estado. De acordo com a Defesa Civil, a média de chuvas esperada para o mês de outubro já foi superada. No Vale do Itajaí choveu três vezes mais do que o esperado para o mês inteiro. Em Blumenau, o Rio Itajaí-Açu atingiu 10 metros, tornando essa enchente a maior que o município enfrentou desde 2011. Esse cenário, agravado pelo El Niño, deve persistir, com previsões de mais temporais e inundações no estado. Até o momento, mais de 27 mil pessoas estão desabrigadas e 160 abrigos foram disponibilizados em 71 municípios. Foram registradas ocorrências em 149 municípios e 133 municípios estão em situação de emergência.
Ondas de calor
Nos últimos dias de inverno, o país também enfrentou ondas de calor extremas em agosto e setembro em nove estados brasileiros, com temperaturas ultrapassando os 40°C em algumas regiões. Enquanto o El Niño exerceu alguma influência, a principal causa foi o aquecimento global causado pela ação humana, como aponta o estudo recentemente publicado pela Rede Mundial de Atribuição (WWA, sigla em inglês). A análise mostrou que, sem as mudanças climáticas induzidas pelo homem, essas ondas de calor teriam sido significativamente mais brandas. A tendência é que eventos de calor se tornem mais frequentes e intensos com o aumento das temperaturas globais.
Ciclone extratropical
Na primeira semana de setembro, o Sul do Brasil foi duramente atingido pela passagem de um ciclone extratropical que se formou na costa leste do Rio Grande do Sul. A região do Vale do Taquari sofreu o impacto mais severo, com o rio Taquari alcançando quase 30 metros de altura, um aumento de quase 20 metros após as intensas chuvas. A passagem do ciclone causou inundações e alagamentos, resultou em pelo menos 50 mortes e deixou milhares de pessoas desabrigadas.
Chuvas no litoral norte de São Paulo
Em fevereiro, durante o carnaval, o litoral norte de São Paulo sofreu inundações e deslizamentos de terra após chuvas torrenciais, sobretudo na Barra do Sahy, em São Sebastião. O cenário é resultado de uma combinação de fatores, incluindo a geologia da região, ocupação irregular, mudanças climáticas e a falta de políticas públicas adequadas. Na época, as cidades do litoral norte paulista registraram uma chuva histórica, com 682 milímetros em 24 horas, o maior acumulado de chuva que se tem registro no país, segundo o governo do Estado de São Paulo.