O período de estiagem chegou mais cedo esse ano na Amazônia e vem causando preocupação em diversos territórios.

Em Rondônia, os principais rios estão com níveis abaixo da média histórica para o período de estiagem. O governo federal reconheceu situação de emergência em 18 municípios do estado.

Poucos dias depois, a prefeitura de Porto Velho também assinou um decreto de emergência por conta do que foi classificado como “cenário de extrema seca” na cidade. De acordo com o Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam), a cidade de Porto Velho completou quase dois meses sem registro de chuva.

Nesta segunda-feira (22), de acordo com a Defesa Civil Municipal, o nível do rio Madeira em Porto Velho estava em 2,85 metros, o menor registrado no ano.

Como comparação, no mesmo período de 2023, quando também foi registrada uma seca severa, o rio Madeira apontava 5,40 metros. Ou seja, o nível atual é quase metade do ano passado.

A situação no Amazonas

No Amazonas, a situação ainda é mais grave: 20 das 62 cidades do estado estão em emergência por causa da seca.

Em Parintins, no baixo Amazonas, o rio chegou ao nível máximo de cheia em junho, mas ficou 1,27 metro abaixo da última cheia, resultado da seca histórica de 2023. Isso obrigou embarcações de grande porte, com turistas, a atracarem em balsas no meio do rio por não conseguirem chegar à orla.

“Nós nos antecipamos. Lá no ano passado, a gente trouxe esse aprendizado: por exemplo, cesta básica, água e filtros, tudo isso já conta com processo licitatório”, informou o governador Wilson Lima (União Brasil) ao jornal O Estado de S. Paulo.

A coordenadora executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Amazonas (Apiam), Mariazinha Baré, afirma que foi sugerido, numa reunião com órgãos do estado, que indígenas deixassem suas aldeias para evitar o isolamento na seca.

“Não queremos ser refugiados climáticos. Queremos tecnologias que nos ajudem a manter nossos modos de vida nos territórios. Têm parentes que cavam com a mão para ter água. Vamos ter que passar por quantas secas para sermos ouvidos e termos medidas estruturantes?”, disse ela à Folha.

A vendedora de peixe Tayane Paz relembrou as dificuldades enfrentadas no ano passado. Ela contou ao g1 que foi complicado conseguir água potável e fazer compras, principalmente nos dias de chuva em que a região da Marina do Davi, onde trabalha, ficava toda enlameada.

“Este ano, para se preparar, a vendedora decidiu sair da zona rural e se mudar para a zona urbana de Manaus antes do agravamento da seca”, afirma o G1.

Explicações

Ao g1, o ambientalista e professor da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Erivaldo Cavalcanti, explicou que dois fenômenos naturais têm sido determinantes para os níveis dos rios.

“O fenômeno El Niño associado a La Niña são os fatores naturais que mais influenciam na normalidade hidrológica da região, com um impacto determinante na mudança climática e a ação humana através de queimadas e desmatamentos”, apontou o especialista.

Foster Brown, pesquisador da Universidade Federal do Acre e membro do Grupo Trinacional MAP, explicou que o “adiantamento” da seca este ano não necessariamente pode ser algo anormal e que pode ocorrer uma variação “natural” desse período como em 1925/1926. Para o Brasil de Fato ele afirmou: “Os efeitos das atividades humanas, seja desmatamento, seja emissão de gases de efeito estufa, amplifica a variabilidade natural do clima. Tivemos secas prolongadas no passado, naturalmente. Agora temos a aceleração causada por atividades humanas”, disse.