Aspirinas, sabonetes, antifúngicos, pomadas, vitaminas…quem não tem um desses produtos em casa? Esses, dentre outros tipos de mercadorias da indústria são alguns dos produtos fabricados pela gigante alemã Bayer, que atua no Brasil desde 1896. Uma empresa química e farmacêutica que atua nos setores de saúde (Bayer HealthCare) e agronegócios (Bayer CropScience).

Tendo um valor de mercado atual de cerca de 49,29 mil milhões de euros, a Bayer é uma das principais financiadoras da Bancada do Agro, e teve mais de 60 reuniões com o então Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) do governo Bolsonaro, além de 16 reuniões com o Mapa fora do registro oficial, isto é, sem aparecer na agenda oficial de autoridades do governo. A empresa alemã também conseguiu uma audiência com o próprio Bolsonaro e com a então chefe do Ministério, Tereza Cristina, como informa o relatório Os Financiadores da Destruição, do observatório De Olho nos Ruralistas.

A Bayer também aparece como a única empresa privada convidada para um evento promovido pelo Ministério do Meio Ambiente. No dia 27 de outubro de 2021, Silvia Menicucci, chefe de Assuntos Públicos da empresa, esteve junto a representantes do Banco do Brasil, do IPA, da CNA e da Abrapa para o lançamento do programa Floresta+ AGRO. Segundo registro realizado pela recepção da entrada privativa do Mapa, “aparentemente em evento promovido pelo Gabinete do Ministro”, conforme informou a pasta via Lei de Acesso à Informação (LAI), como constatou o relatório.

Como justificativa, a Bayer informou que “mantém diálogos transparentes com autoridades públicas dos países onde atua e com as entidades que representam seus clientes e os demais elos da cadeia da agricultura, assim como também participa ativamente de debates na sociedade e acompanha de perto o desenvolvimento de políticas públicas”.

Contudo, ao mesmo tempo em que uma das maiores empresas agroquímicas do país se reunia com o governo da época, foi também durante esse período que o Brasil aprovou cerca de dois mil novos agrotóxicos para comercialização. Somente de 2021 para 2022, a empresa anunciou que teve um lucro de 4.150 milhões de euros, mais 315% que no ano fiscal anterior.

Em reportagem feita anteriormente pela Mídia Ninja, mostramos que ao menos 12 estudos publicados nos últimos seis anos no Brasil que buscam avaliar o efeito da exposição aos agrotóxicos nas células, os resultados indicaram que os agentes químicos podem provocar dano ao DNA e, por consequência, levar ao desenvolvimento de câncer.

De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), há pelo menos oito ingredientes autorizados pela Anvisa cuja exposição está relacionada ao desenvolvimento de alguns tipos de câncer como linfomas, leucemias, pulmão e pâncreas.

A imunologista Mônica Lopes-Ferreira, diretora do Laboratório Especial de Toxinologia Aplicada e pesquisadora científica do Instituto Butantan chegou a conclusão, através de seus estudos, que “Não existem quantidades seguras” e completou “se (os agrotóxicos) não matam, causam anomalias”.

Se é Bayer, é lucro

A empresa alemã acumula além de dinheiro, processos bilionários com acusações sobre o uso de seus pesticidas e o envenenamento que eles possivelmente causam. Somente em abril de 2020 a companhia foi processada por 52.500 demandantes. Neste mesmo ano, a Bayer fechou um acordo bilionário, de até US$10,9 bilhões para encerrar processos nos Estados Unidos relacionados a alegações de que o herbicida Roundup causa câncer. O produto é feito à base de glifosato, o agrotóxico mais vendido no mundo e no Brasil.

O herbicida à base de glifosato é aplicado nas folhas de plantas daninhas, aquelas que nascem espontaneamente no meio das lavouras e prejudicam a produção agrícola. Ele bloqueia a capacidade da planta de absorver alguns nutrientes. Ou seja, é um produto usado para matar plantas.

Em 2021 o grupo anunciou que iria criar uma reserva adicional de US$4,5 bilhões (cerca de R$22,7 bilhões) para enfrentar as possíveis consequências dos processos por glifosato na Justiça dos Estados Unidos.

Ao mesmo tempo em que vem sendo apontada como causadora do problema, a empresa vem expandindo seus negócios para vender a solução.

Enquanto sofre processos por supostamente causar câncer nas pessoas, a farmacêutica amplia seu mercado: em matéria publicada na Veja deste ano, foi divulgado que atualmente, a Bayer conduz 12 estudos na área de oncologia, com mais de 2 mil centros de pesquisa espalhados pelos países. Ou seja, ao mesmo tempo em que vem sendo apontada como causadora do problema, a empresa vem expandindo seus negócios para vender a solução.

Com o bem sucedido Nubeqa (darolutamida), medicamento para tratar câncer de próstata, a Bayer colocou o Brasil na lista de países com os maiores mercados de Oncologia. Comparando o desempenho da Oncologia no país no último trimestre de 2022 com o mesmo período do ano anterior, houve um crescimento de 40%. Em 2023 a área está crescendo mais de 50% nos dois primeiros meses ante o mesmo período do ano passado.