Por André Borghi e Mayhan Araujo

A depressão é uma doença psiquiátrica que causa alterações de humor, profunda tristeza e pode levar a inúmeras consequências negativas na vida daqueles que a enfrentam. Ela está presente em diversos setores da sociedade, e no mundo do futebol, não é diferente. Muitas vezes, os jogadores são vistos como “super-heróis”, “máquinas” e até mesmo “extraterrestres”, mas eles também precisam lidar com suas emoções, sentimentos, problemas pessoais e frustrações no dia a dia.

Jogadores famosos como Ronaldo Fenômeno, ex-atacante da Seleção Brasileira, já sofreram com essa doença. O jogador sofreu uma grave lesão no joelho em 2000, enquanto jogava na Inter de Milão, e enfrentou uma batalha para voltar aos gramados. O que ninguém imaginava na época era que, além da questão física, ele também estava lidando com essa doença psicológica.

Em 2017, durante uma entrevista ao Esporte Espetacular, da Rede Globo, Ronaldo afirmou: “Era muito difícil lidar com a incerteza, porque era uma lesão sem precedentes. Então, não tínhamos referência de como tratar, e essa incerteza diária era terrível. Mas, à medida que você vê a evolução do seu quadro, isso te dá esperança. Acho que é importante focar nas coisas positivas da recuperação.” Outro caso conhecido é o do ex-jogador Nilmar, que em 2017 solicitou afastamento do Santos para tratar a doença, encerrando sua carreira no clube.

Um estudo realizado em 2015 pela FIFPro (Federação Internacional dos Jogadores Profissionais) revelou que, dos 600 jogadores entrevistados, 228 (38%) apresentaram sintomas de ansiedade ou depressão, uma porcentagem superior à média global.

Existem inúmeras razões que podem levar um jogador a desenvolver depressão, como lesões, pressão por resultados, desempenho, distância dos familiares, entre outros. Muitos atletas dedicam grande parte de suas vidas aos centros de treinamento e estádios desde a infância e adolescência. Em um país como o Brasil, onde muitos jogadores vêm de favelas e periferias, o período longe de casa, somado à desigualdade social e racial, pode resultar em dificuldades psicológicas.

Essas questões destacam a importância de os clubes de futebol oferecerem terapia com profissionais da psicologia para seus atletas. Segundo um levantamento do site Trivela, apenas dez clubes da Série A do Campeonato Brasileiro masculino de futebol têm psicólogos (Atlético-MG, Botafogo, Coritiba, Fluminense, Red Bull Bragantino, Fortaleza, Palmeiras, Santos, São Paulo e Vasco), o que equivale a 50% dos clubes do campeonato. Grêmio e Flamengo informaram à Trivela que, embora não tenham profissionais da área em tempo integral, os jogadores podem solicitar atendimento psicológico ao Departamento Médico.

Durante uma conversa com o psicólogo formado pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), Robert Messias, ele afirmou:

“O ambiente do futebol é muito intenso, tanto em relação às conquistas quanto às derrotas. Na mesma semana em que você é o melhor jogador do campeonato, muitas vezes pode se tornar a pior contratação da temporada. Portanto, essa intensidade, juntamente com os estressores comuns desse universo, como lesões, insatisfação no trabalho, cirurgias e dificuldades nos relacionamentos interpessoais, podem contribuir para o surgimento de sintomas e até transtornos mentais.

Na literatura científica, já são apontados alguns cenários comuns, como ansiedade, depressão, burnout e a exigência por alta performance. Nesse contexto, o trabalho do psicólogo é fundamental para lidar com essas questões, tanto em nível individual quanto em grupo, buscando compreender e ensinar estratégias mais funcionais para todos. É importante termos em mente que ignorar ou negligenciar a saúde mental é o primeiro passo para um ambiente disfuncional.”

O futebol está se tornando cada vez mais competitivo, e os atletas, consequentemente, enfrentam uma pressão maior à medida que o esporte evolui. Equilibrar os aspectos técnicos, táticos, físicos e, acima de tudo, psicológicos não é uma tarefa fácil. Portanto, é essencial que as discussões sobre saúde mental sejam incorporadas ao ambiente esportivo, que muitas vezes ainda é conservador. É um processo longo e complexo, mas absolutamente necessário. Dessa forma, teremos mais alegria nos campos e menos tristeza nos vestiários.