Associação Gira Mundo denuncia que a falta de água potável é registrada em 23 escolas do arquipélago de Bailique

Mais de 11 mil pessoas moram no Bailique (Dayane Oliveira/ Associação Gira Mundo)

Por Maria Silveira, especial para a Casa Ninja Amazônia/Mídia Ninja

Sofrendo os efeitos da salinização da água causada pelo avanço do Oceano Atlântico sobre a Foz do Rio Amazonas, moradores do arquipélago do Bailique, conjunto de comunidades ribeirinhas no Amapá, estão sem água potável para beber e preparar alimentos. Enquanto isso, ficam na expectativa da chegada das chuvas, uma das principais fontes do recurso vital, diante da situação de vulnerabilidade social e desassistência do poder público.

Meses atrás, o Governo do Estado iniciou a entrega de caixas d ‘água para as famílias no arquipélago, distrito da capital Macapá. Mas a Associação Gira Mundo, em contato com os moradores, denuncia que no Bailique, a situação permanece a mesma. Mais de 11 mil pessoas que vivem no arquipélago formado por oito ilhas com mais de 50 comunidades estão sem acesso à água potável.

O governo divulgou em seu site, na ocasião das entregas das caixas d´água, que “os beneficiários recebem kits com produtos químicos que auxiliam no tratamento de água”, e que “esses equipamentos podem ser utilizados para tratar e armazenar o líquido durante o período de estiagem, que ocorre no segundo semestre, quando o fenômeno de salinização se intensifica”.

As doações aconteceram no dia 27 de novembro, mas a Gira Mundo denuncia que, no caso do Bailique, as comunidades estão há mais de duas semanas sem água potável, ou seja, a entrega ocorreu após o período que deveria acontecer a coleta de água.

Maria Aparecida Miranda Dias, da comunidade de Franco Grande, é uma delas. À Gira Mundo reforçou que a situação é desoladora.

“Depois que a água salga ninguém mais pode consumir. É difícil, nossa comunidade é humilde, muitos não têm dinheiro para comprar água potável e consomem ela insalubre mesmo. As crianças passam mal, vomitam e até tem diarreia”, relata.

Escolas

E como não poderia ser diferente, além das casas, a falta de água potável atinge também as escolas: das 26 unidades de ensino, 23 estão sem água para atender os alunos.

“Aqui na Comunidade Carneiro estamos sem água para beber. Arrumo o que posso. Água de bebedouro não tem condições, muito salobra. Hoje um tentou beber, mas não conseguiu. Então, por favor, façam uma mobilização para chegar água doce aqui no Bailique”, pediu uma professora.

 

Alunos estão sem água potável nas escolas (Dayane Oliveira/Associação Gira Mundo)

A coordenação escolar já denunciou o caso para a Secretaria de Educação do Estado do Amapá (SEED), para a Prefeitura de Macapá e o Governo do Estado, mas até o momento, não obteve resposta. Rayane Penha, coordenadora da Gira Mundo, alerta que a situação é grave.

“Precisamos fazer essa denúncia chegar aos órgãos competentes para que o problema seja solucionado”.

Ambientalistas creditam ao desmatamento de mata ciliar e à instalação das hidrelétricas, o agravamento dos efeitos da salinização. A entrada de água do oceano se deve em boa parte à perda de força dos rios, como o Araguari, que tem três das cinco hidrelétricas do Estado.

Segundo eles, os rios não têm força para empurrar a água do mar e, então, ela entra nos rios que banham essas comunidades. Os moradores têm convivido com o problema há muitos anos e costumam se preparar por conta própria, mas com a falta de chuvas, o problema se intensificou.

Ao G1 Amapá, o extrativista Geova Alves, morador da Vila Macedônia, explicou que a salinização da água fica mais intensa no segundo semestre do ano, mas este ano se agravou ainda mais nos meses de novembro e dezembro. A população tenta se virar com sistemas de coleta improvisados, como por exemplo o reaproveitamento da água da chuva.

“Nesse momento a água está muito salgada. A gente se vira da mesma forma de sempre: por conta própria. As comunidades usam o sistema de coleta de água das chuvas. Apenas algumas comunidades receberam caixas de 5 mil litros que estão em situação melhor”, disse.

Alves relata que uma das atribuições do dia-a-dia dos ribeirinhos é aprender a melhorar esses sistemas de coleta de água para “poder passar por esse período sem muito aperto”.

Gira Mundo

A Associação Gira Mundo é dedicada a trabalhar com projetos e ações de arte, cultura, educação e cidadania. No Amapá a Gira Mundo estreitou laços com o Bailique através do projeto TecnoBarca, uma residência artística no arquipélago, e da Campanha “Bosque firme no Bailique”, que tem o objetivo de reconstrução da Escola Bosque. Além disso, a associação também realiza cinemas itinerantes e outras atividades culturais na região.

A Gira Mundo está usando as redes sociais como mais uma forma de denúncia e pressão para os órgãos responsáveis resolverem a crise no Arquipélago do Bailique.

Assista e compartilhe:

Contato: [email protected]