Salas sensoriais na Copa do Catar são uma inspiração para os estádios brasileiros
A Copa do Mundo do Catar apresenta uma novidade nas iniciativas de inclusão: a criação de salas sensoriais destinadas aos espectadores neurodivergentes
Por Monike Lourinho e Stefanie Veras
A Copa do Mundo do Catar apresenta uma novidade nas iniciativas de inclusão: a criação de salas sensoriais destinadas aos espectadores neurodivergentes. São espaços fechados dentro dos estádios, equipados com materiais que auxiliam na regulação e recuperação de pessoas com sobrecarga sensorial ou que precisam de mais estímulos ambientais.
Quando o assunto é acessibilidade, a primeira ideia que vem à mente é a de espaços adaptados a pessoas com deficiências físicas, visuais e mobilidade reduzida. Pouca ou nenhuma atenção é dada aos neurodivergentes, aqueles cujo cérebro funciona de forma diversa ao que é considerado padrão.
O Transtorno do Espectro Autista (TEA), o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) e o Transtorno do Processamento Sensorial (TPS) são exemplos de neurodiversidades. Para quem tem esses transtornos, os estímulos ambientais como luzes, sons e texturas podem ser percebidos de forma muito mais intensa que o normal ou, até mesmo, de forma insuficiente. Esse jeito diferente de processar o ambiente pode dificultar a experiência de torcer em estádios. A multidão, o barulho e, por vezes, a iluminação nesses lugares são capazes de desencadear crises sensoriais em neuroatípicos, o que faz com que muitos evitem uma simples ida ao estádio para torcerem pelos seus times do coração.
Pensando na inclusão desses torcedores, a FIFA instalou salas sensoriais em três dos oito estádios da competição: Al Bayt, Lusail e Education City. Vinte e sete partidas contarão com esse recurso, incluindo a abertura e o encerramento da competição. Essas salas são espaços fechados, seguros, com vista para o gramado e contam com iluminação ajustável, equipamentos e brinquedos que ajudam na regulação de pessoas com sobrecarga sensorial ou que precisam de mais estímulos. Essa iniciativa possibilita que autistas e seus familiares possam permanecer no estádio acompanhando as partidas com mais conforto.
Iniciativas brasileiras de inclusão
Aqui no Brasil temos os exemplos de dois times que já possuem espaços adaptados ao TEA em seus estádios: Corinthians e Coritiba. Graças a um movimento vindo de torcedores que conseguiram ganhar visibilidade, os Autistas Alvinegros, em um jogo contra o Santos estenderam sua faixa e foi quando chamou a atenção de diversas famílias atípicas a começar movimentos esporádicos do seu time do coração.
O Corinthians inaugurou a primeira sala TEA no Brasil, dando total suporte às famílias atípicas que tinham o sonho de frequentar os jogos, mas tinham receio por se tratar de um lugar muito cheio e o barulho os deixava com medo de um eventual desregulamento e crises.
“Nós dos autistas alvinegros somos imensamente gratos pelo espaço que temos na Neoquimica Arena, um lugar sensacional que foi pensado pelo clube para a inclusão e bem-estar dos autistas. O espaço TEA da Neoquimica Arena foi inaugurado no ano de 2019 e desde então vem recebendo mais e mais pessoas autistas e seus familiares durante os jogos, esse ano de 2022 podemos ver o quanto cresceu a procura por ingressos no setor. A pessoa com autismo tem seu ingresso totalmente gratuito com direito a mais 3 acompanhantes que pagam meia entrada” esclareceu Rafa Lopes, Presidente dos Autistas Alvinegros.
Mesmo com grande amor por futebol, muitos ainda não conseguem frequentar os jogos no Brasil por falta de inclusão. Arquibancada é um movimento popular e quando uma pessoa não pode torcer, se torna um lugar excludente e o futebol é para todos, logo a importância de um local para atípicos nos estádios no Brasil e em todos os clubes do mundo. A Copa do Catar com suas salas para TEA dá um grande exemplo para o futebol mundial.
Infelizmente o autismo ficou anos esquecido na nossa sociedade, com diagnósticos tardios, falta de amparo, terapias, rede de apoio e ajuda do poder público. E a inclusão nos tempos atuais com tantos recursos é algo necessário. E nunca será apenas futebol! “Na verdade, a inclusão precisa realmente sair do papel. De forma verdadeira, a sala TEA da Arena Neo Química já é uma conquista para a inclusão, ela é real e física. Que outras coisas também possam se tornar reais e físicas. Nossos autistas precisam disso” contou Rodrigo Souza, pai atípico e idealizador do Autistas Galo.
“Nada sobre nós sem nós”
Veja as torcidas aqui no Brasil que já estão nesse movimento:
- Autistas alvinegros (Corinthians)
- Fogo serrano (Botafogo)
- Autistas Rugro-Negro (Flamengo)
- Soutricolor autista (São Paulo)
- AutistasFlu (Fluminense)
- Gremistas no espectro (Grêmio)
- Autistas Galo (Atlético-mg)
- Autistas Rubro Negro (Flamengo)
- Tubautistas (Londrina Esporte Club)
- Autistas Furacão (Atlético Paranaense)
- Cearautista (Ceara)
- Esmeraldinos autistas (Goiás)
- Autistas Alviverdes (Palmeiras)
Mesmo com rivalidades em campo, fora das quatro linhas as torcidas estão mostrando grande união por maior inclusão nos estádios. Se você torce para algum time acima, siga e apoie essa causa! Mostre a força da sua torcida. Essa causa precisa ser ouvida e apoiada por todos os clubes do Brasil, os autistas já tiveram anos vivendo excluídos na sociedade e a inclusão no futebol será apenas o pontapé para a causa ser ouvida e respeitada! A inclusão nos estádios é algo indiscutível e precisa ser realizada o quanto antes!
Texto produzido em cobertura colaborativa da NINJA Esporte Clube