Rio Madeira corre risco de colapso que pode impactar toda bacia do Amazonas
Hidrelétricas, garimpos, desmatamento e agropecuária são as atividades que mais o ameaçam ao longo dos seus 3.315 km
Se o rio Madeira pudesse falar, certamente pediria socorro. Uma reportagem do InfoAmazônia alerta que o rio, que é um dos mais importantes para a Amazônia, corre o risco de colapsar diante da superexploração de seus recursos. Hidrelétricas, garimpos, desmatamento e agropecuária são as atividades que mais o ameaçam ao longo dos seus 3.315 km, entre Rondônia e o Amazonas, como aponta reportagem do jornalista Fábio Bispo.
A reportagem cita levantamento do projeto Aquazônia, que lançou um indicador para medir o Índice de Impacto nas Águas da Amazônia (IIAA), e revela que a bacia do Madeira é uma das mais afetadas pela ação humana na Amazônia.
“Um rio não deve ser considerado saudável somente pela qualidade da água. Outros fatores como queimadas, desmatamento e a mudança na dinâmica do fluxo das águas têm influência sobre esses ecossistemas. São impactos difíceis de medir e muitas vezes silenciosos”, explica a bióloga Cecília Gontijo Leal, da Universidade de São Paulo (USP) e consultora científica do Aquazônia.
O projeto mapeou 11.216 microbacias na área de influência de 26 rios, atribuindo a cada microbacia um indicador sobre a presença de atividades com impactos sobre a vida dos rios, como barragens hidrelétricas, garimpo, agropecuária, cruzamentos de vias, mudanças climáticas, hidrovias e áreas degradadas.
O Madeira é impactado por todos os indicadores do IIAA, sendo que 86% da bacia é afetada pela presença de agricultura e pecuária, 41% por mineração e garimpo e 41% por áreas degradadas. O cruzamento de estradas por rios e igarapés atinge 28% da bacia do Madeira, com uma média de três cruzamentos por km².
Cada uma das atividades medidas têm um peso sobre o indicador, sendo que as hidrelétricas, o garimpo e as áreas urbanas, por exemplo, têm maior grau de degradação. Leal explica que o índice serve como um resumo dos diferentes impactos em cada uma das microbacias.
Uma atividade de impacto abre caminho para outras igualmente nocivas. As hidrelétricas impulsionam o desmatamento, que por sua vez permite aberturas de estradas e de áreas agrícolas.
“Muitas dessas atividades ocorrem ao mesmo tempo numa mesma região, gerando um efeito cumulativo. Uma atividade de impacto abre caminho para outras igualmente nocivas. As hidrelétricas impulsionam o desmatamento, que por sua vez permite aberturas de estradas e de áreas agrícolas” , destaca a bióloga.
Leal comenta que comumente as legislações e os estudos de impacto ambientais costumam enxergar os ecossistemas aquáticos apenas como recurso natural disponível, o que impede a análise de aspectos mais amplos, como a biodiversidade.
O projeto Aquazônia, desenvolvido pela Ambiental Media com apoio do Instituto Serrapilheira, aponta que um quinto das microbacias hidrográficas da Amazônia brasileira estão significativamente impactadas pela ação humana. A agropecuária é a atividade mais presente, com impactos identificados em 90% da bacia amazônica.
“Há toda uma conexão dos ciclos de vida no rio. Os corações dos sistemas aquáticos são os fluxos, as cheias, as secas, a matéria orgânica que vem das árvores nos igarapés. As espécies entendem esses sinais e a partir deles que muitas migram, ou emigraram. O impacto das hidrelétricas é muito drástico porque muda completamente o cerne do rio ”, revela a bióloga Cecília Leal.
O rio Madeira é formado pela junção de dois grandes complexos fluviais: o Guaporé/Mamoré e o Beni/Madre de Diós, formados nos Andes. O rio Guaporé nasce no sudeste mato-grossense e o rio Mamoré se forma a partir do encontro dos rios Chaparé, Ichilo e Grande, nas terras baixas bolivianas.
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