Resumão do 2° dia: Abertura Olímpica traz representatividade e mensagens político-sociais
Cerimônia relembra os princípios da Revolução Francesa e reafirma compromisso com a diversidade, equidade e inclusão.
Por: Joyce Maia
No fim do século XVIII, sob o lema “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, a Revolução Francesa causou mudanças políticas e sociais que marcaram a história contemporânea ocidental. Nesta sexta-feira (26), na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de 2024, em Paris, capital da França, os ideais voltaram a ecoar por todo o país para que a promessa não seja esquecida.
A primeira abertura feita fora de um estádio não economizou simbolismos e combinou uma série de elementos históricos e socioculturais, incluindo atos com o lema da revolução, que reforçaram o compromisso do país com a inclusão e a diversidade. Além disso, diversas questões emblemáticas mereceram destaque nesse evento tão esperado.
Representatividade negra
Um dos momentos iniciais da abertura foi o desfile das embarcações de cada país pelo Rio Sena. Como tradição, a Grécia inicia o desfile por ser o berço das Olimpíadas e proporcionou que a primeira bandeira da cerimônia fosse carregada por um homem negro, Giannis Antetokounmpo, jogador da NBA. Em semelhança, a Alemanha traz seu primeiro porta-bandeira negro, Dennis Schröder.
Pioneirismo foi o que não faltou em Paris, Guillaume Diop, primeiro dançarino da Ópera de Paris, um homem negro, fez uma apresentação solo na cerimônia de abertura ao lado da bandeira de Paris, ao som de “La Carmen”, interpretada pela cantora Marina Viotti. E ainda no meio artístico, a cantora franco-maliana, Aya Nakamura, vítima de ataques racistas ao ser anunciada como atração, brilhou em sua apresentação com a Guarda Republicana. Vale destacar que Aya é a cantora de língua francesa mais ouvida mundialmente nos streamings.
Um dos momentos mais simbólicos foi a interpretação da La Marseillaise pela cantora Axelle Saint-Cirel vestida com as cores da bandeira, uma mulher preta, que na ocasião representava Marianne, personificação feminina branca da República Francesa e da democracia advinda da Revolução de 1789. É possível ver essa figura alegórica em artigos cotidianos e até mesmo nas medalhas olímpicas de 2024. Foi início do 5º capítulo, “Sororité”, sobre a participação fundamental das mulheres na história da França.
E a cereja do bolo foi Marie Jose Perec e Teddy Riner, um casal negro, acendendo a pira Olímpica e dando a largada oficial para o começo das Olimpíadas.
Representatividade queer
Não podendo ficar de fora, a moda parisiense também esteve presente de forma representativa nessa abertura. Com performances e coreografias icônicas, drags queens marcaram presença no desfile comandado por Barbara Gucci, reforçando o apoio e o compromisso com a comunidade LGBTQIAPN+, celebrando a diversidade.
Heroínas francesas
A cidade de Paris conta com 270 estátuas que homenageiam figuras masculinas e apenas 40 de mulheres. Os Jogos Olímpicos imortalizaram mais dez mulheres que foram importantes na história da França: Simone de Beauvoir, Olympe de Gouge, Gisele Halimi, Paulette Nardal, Jeanne Barret, Christine de Pizan, Louise Michel, Alice Guy, Simone Veil e Alice Milliat.
Atos simbólicos
A delegação argelina jogou flores no Rio Sena em memória ao massacre de outubro de 1961, quando compatriotas foram afogados pela polícia em meio a Guerra da Argélia. Em 1998, a França reconheceu 40 mortes (número menor que o estimado).
A delegação da Palestina não deixou de marcar presença importante. O porta-bandeira Wasseem Abu Sal trouxe um emblemático bordado em sua vestimenta que relembra a história de 77 anos de genocído palestino. Outra situação emblemática é que em junho de 2024, Majed Abud, primeiro porta-bandeira da Palestina, foi assassinado pelos sionistas. Enquanto isso, o porta-bandeira israelense assinou uma das bombas jogadas na Faixa de Gaza.
E teve ainda, o prêmio de reconhecimento para Filipo Grandi pela criação do movimento de refugiados. Grandi identificou a importância do esporte para essas pessoas que vivem e viveram em meio a hostilidade de conflitos políticos e geográficos.
Cinema, literatura e a arte francesa
Na Cidade da Luz, referências cinematográficas e literárias notáveis aparecem através do ator franco-marroquino, Jamel Debbouze que atuou em filmes como Amélie Poulain e Asterix. Teve homenagem feita para os irmãos Lumière, pioneiros do cinema, e para George Méliès, diretor de “Viagem à lua”. Antoine de Saint-Exupéry também foi lembrado na cerimônia com o clássico “O pequeno príncipe”. E para resgatar a herança cultural e artística, referências visuais remetendo a um dos museus mais significativos no mundo da arte, o Louvre.