Resex Jaci-Paraná, em Rondônia, sofre com ausência do poder publico e invasão de fazendeiros
A ausência de fiscalização para proteger a reserva tem causado seu desmatamento e destruição, fato comprovado pelo Mapbiomas, que mostra que agropecuária saltou de 43.104 hectares (21% da área total) para 145.973 hectares (74%) entre 2012 e 2022.
Com base nos dados da Plataforma MapBiomas, o InfoAmazonia identificou que o espaço da Reserva Extrativista (Resex) Jaci-Paraná, em Rondônia, vem sofrendo uma diminuição de sua área, fruto das tentativas do governo do Legislativo de ceder o espaço para criação de gado.
A ausência de fiscalização para proteger a reserva tem causado seu desmatamento e destruição, fato comprovado pelo Mapbiomas, que mostra que agropecuária saltou de 43.104 hectares (21% da área total) para 145.973 hectares (74%) entre 2012 e 2022.
Em novembro, o Brasil de Fato fez uma matéria denunciando a expulsão dos últimos moradores legítimos da Resex. “Eu estou impedido de voltar para a minha colocação [como são chamadas as áreas que compõem um seringal]. Os jagunços estão me esperando lá, armados de carabina. Eles chegam lá e fazem o que querem. Quem ficou está em constante ameaça”, afirmou um morador que se manteve anônimo para proteção.
Moradores ameaçados
“Hoje, os nativos precisam sair para buscar trabalho fora da reserva para sobreviverem, mas são pessoas que sempre viveram apenas do extrativismo. Então, elas chegam nas cidades e não têm oportunidade de trabalho lá”, disse Lincoln Fernandes de Lima, presidente da Associação Bem-Te-Vi, que reúne seringueiros e agroextrativistas do local, para o InfoAmazonia.
Além disso, em setembro do ano passado, grileiros tocaram fogo na casa de um morador, que perdeu todos os bens no incêndio. O extrativista denunciava crimes como retirada de madeira, grilagem e o envenenamento de cultivos, e era ameaçado por isso.
Sem fiscalização
O InfoAmazonia foi atrás da Secretaria Estadual do Desenvolvimento Ambiental de Rondônia (Sedam-RO) e, por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI), a reportagem solicitou ao órgão o número de fiscalizações e operações realizadas pela pasta na região. Em resposta, a Sedam-RO disse não possuir esta informação sob a justificativa de ser “impossível delinear ação em determinada área”
Essa ausência do estado em se dedicar a preservar a Resex já vem de anos, como quando em 2021, por iniciativa do governador Marcos Rocha, a Assembleia Legislativa aprovou em 2021 a redução do tamanho da Resex em 90%, de 191 mil para 22 mil hectares.
A justificativa era que a área já estava quase toda invadida e devastada e, portanto, não fazia mais sentido protegê-la. As consequências foram vistas em poucos meses, quando o desmatamento na reserva aumentou 2.700%.
Segundo a promotora de Justiça aposentada Aidee Maria Moser Torquato Luiz, que atuou por 17 anos no MP-RO em pelo menos 47 Ações Civis Públicas (ACP) relacionadas à reserva, as primeiras invasões começaram em 2002.
“As fiscalizações feitas pela Sedam ocorrem de forma precária e esporádica. Também no âmbito da Polícia Judiciária não há vontade política para investigar e identificar os reais invasores. A dificuldade maior reside no fato de que, em razão da existência de ‘laranjas’ que constantemente são substituídos, existe uma enorme dificuldade em localizá-los, assim como os verdadeiros pecuaristas e proprietários do gado.”