Por Patrícia Zupo

A representatividade feminina marcou presença na 14ª edição do Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba. Dos 90 filmes selecionados para esta edição, mais de 14 contaram com mulheres na direção, produção ou como protagonistas. Como em todos os anos, o evento propôs diferentes olhares sobre temas diversos, estilos de produção, faixas etárias e linguagens artísticas.

Entre os dias 11 e 18 de junho, a capital do Paraná recebeu equipes de longas e curtas-metragens, atores, atrizes, cineastas e entusiastas da sétima arte. Estiveram presentes profissionais do mercado audiovisual nacional e internacional, além de uma programação intensa com mostras competitivas, retrospectivas e debates.

Estrelado por Marieta Severo, o filme “Torniquete” (dir. Ana Catarina Lugarini | Brasil | 2025 | 75’) teve sua estreia mundial durante o festival. Selecionado para a Mostra Competitiva Brasileira, o longa foi dirigido e roteirizado pela curitibana Ana Catarina Lugarini, com sessões lotadas e ingressos esgotados antes mesmo da abertura oficial do evento.

O drama retrata três gerações de mulheres sob o mesmo teto: Lucinda (Marieta Severo), sua filha Sônia (Renata Grazzini) e a neta Amanda (Sali Cimi). A história gira em torno das tensões familiares após um episódio de violência que atinge Amanda, funcionando como metáfora para feridas profundas e difíceis de curar. A jovem atriz Sali Cimi é formada pelo curso técnico de Teatro do Colégio Estadual do Paraná, referência em formação artística no estado.

Em entrevista ao Cine Ninja, Marieta Severo destacou a importância da presença feminina no audiovisual:

“Muito significativo, dentro do nosso cinema, que as mulheres assumam os lugares, os seus lugares”, disse.

A diretora Ana Catarina Lugarini levou sete anos para concluir “Torniquete”, inspirado em uma experiência familiar pessoal. O filme foi escrito em parceria com Alice Name Bontempo e rodado em Curitiba. Ana define a obra como “um filme sobre marcas que o tempo não apaga”. A produção segue agora rumo a outros festivais nacionais e internacionais e tem previsão de estreia em salas comerciais no primeiro semestre de 2026.

Além de “Torniquete”, outras duas obras com direção feminina se destacaram:

Cais

Direção: Safira Moreira

Vencedor de três prêmios: Melhor Filme pelo júri oficial, crítica e voto popular. Produzido com apoio do Rumos Itaú, Fundo Avon Mulheres e Sundance Documentary Fund, o filme parte da dor da perda para construir uma jornada poética sobre luto, memória e reconexão. Filmado nos rios Paraguaçu (Bahia) e Alegre (Maranhão), “Cais” é marcado pela delicadeza e pelo silêncio.

A diretora relata que o projeto era originalmente sobre sua avó, mas ganhou novos contornos após o falecimento de sua mãe. Ao lado da produtora Flávia Santana e do diretor de fotografia Bernard Lessa, seguiu com a produção com apenas “quatro pessoas e um bebê” — seu filho.

Glória e Liberdade

Direção: Letícia Simões

Primeiro longa de animação selecionado para a Mostra Competitiva de Longas. Ambientado no ano de 2050, o filme apresenta uma república fictícia onde uma documentarista da Bahia investiga a fragmentação do Brasil após as Revoltas Regenciais. A narrativa mistura ficção, política e identidade cultural.

Outros filmes dirigidos e/ou produzidos por mulheres no festival:

  • Aoquic iez in Mexico! – Dir. Annalisa D. Quagliata Blanco (México | 2024 | 80’)
  • Eu, A Pior de Todas – Dir. María Luisa Bemberg (Argentina | 1990 | 105’)
  • Explode São Paulo, Gil – Dir. Maria Clara Escobar (Brasil/Portugal | 2025 | 97’) – Gildeane Leonina foi premiada pela atuação
  • Fire Supply – Dir. Lucía Seles (Argentina | 2024 | 156’)
  • Hot Milk – Dir. Rebecca Lenkiewicz (Reino Unido/Grécia | 2024 | 92’)
  • Invenção (Invention) – Dir. Courtney Stephens (EUA | 2024 | 72’)
  • Medidas para um Funeral – Dir. Sofia Bohdanowicz (Canadá | 2024 | 142’)
  • Na Passagem do Trópico – Prod. Amanda Carvalho e João Pedro Bim (Brasil | 2025 | 86’)
  • Os Lobos (Les Loups) – Dir. Isabelle Prim (França | 2024 | 96’)
  • Paraíso – Dir. Ana Rieper (Brasil | 2025 | 76’)
  • Quando o Telefone Tocou – Dir. Iva Radivojević (Sérvia/EUA | 2024 | 73’)

O Olhar de Cinema é um dos principais festivais independentes do Brasil. Além das Mostras Competitivas (Internacional e Brasileira), a programação conta com categorias como: Novos Olhares, Mirada Paranaense, Olhares Clássicos, Mostra Foco, Pequenos Olhares (infantojuvenil) e a Retrospectiva, que nesta edição homenageou a cineasta Agnès Varda, com a exibição de seis longas e quatro curtas.

A presença de mulheres na direção e produção reafirma a potência de novos olhares na construção de narrativas sensíveis, corajosas e transformadoras.