por Taísa Machado

Uma vez tive a oportunidade de entrevistar a Conceição Evaristo e no final pedi que ela deixasse uma dica para os artistas pretos da nova geração, ela com toda elegância respondeu que é preciso manter o equilíbrio entre a tática e a estratégia. Que uma fala sobre atitudes para curto prazo e a outra sobre atitudes para longo prazo.

O pedido de prisão do Dj Rennan da Penha e a insistente perseguição do Estado contra o funk me obrigam a respirar fundo e buscar esse equilíbrio com lucidez.

Artistas pretos que utilizam temáticas pretas em suas obras tomaram o “pódio” do prêmio Shell de Teatro, o mais importante da categoria no Brasil, eu vejo artistas plásticos pretos da nova geração realizando exposições na Europa, o rap/hip hop agora tem identidade mais profissional e tem conseguido cada vez mais sustentar o talento de uma geração de mcs, djs, beatmakers, produtores de áudio visual que fazem questão de serem bem sucedidos financeiramente e não só ocupar os guetos culturais. O funk e aí eu puxo sardinha pro Funk Carioca também se profissionalizou no seu últimos anos e cada vez menos se permite abrir mão de uma estética q não represente a favela, os djs, mcs, dançarinos estão fazendo grana sem precisar virar pop. A arte, a cultura e a produção de conteúdo preta cada vez está mais infra estruturada, despertando os ouvidos de um público cada vez mais disposto a escutar.

A possível prisão do Rennan da Penha fere todos esses avanços, a insistente perseguição do Estado contra o funk e as culturas de favela mais uma vez interditam o direito do artista Preto de desenvolver opinião e arte sobre sua perspectiva.

Quando eles dizem que vão prender o Rennan porque ele é olheiro do tráfico, inclusive umas das “posições” mais baixas dentro da hierarquia do tráfico de drogas é na intenção de tirar dele o título de artista, é desconsiderando esse direito, quando eles dizem que o Baile é financiado pelo tráfico eles querem tirar a autonomia da Favela de se organizar pra produzir eventos, pra produzir arte e cultura.

Porque produzir um evento que recebe de 10 a 25 mil pessoas numa área pobre, considerada de “risco” pensar divulgação, programação, contratar equipe técnicas de montagem, cuidar do lixo e principalmente gerar centenas de empregos não é uma tarefa fácil e podemos dizer que a Favela aprendeu sozinha. No quesito sucesso a cultura de favela é autodidata!

O Rennan é um artista, o funk é uma linguagem cultural, ontem, 28, as dezoito horas foi realizado um ato no Circo Voador um espaço que historicamente apoia artistas, saíram ônibus gratuitos de varias favelas, o evento foi um ato cultural em apoio ao Dj Rennan da Penha, artistas pretos prestem solidariedade ao colega de profissão injustamente perseguido. Isso é sobre nós, é necessário que todas as pessoas que lutam por uma política anti racista e também quem apoia a livre liberdade de expressão apoiem o Rennan e o Funk Carioca de Favela.

O Rennan não é um bandido.
O Rennan não é um mártir.
O Rennan é um profissional da música e merece ser respeitado.

Então eu peço aos meus amigos, aos meus colegas de profissão, as pessoas que acompanham e respeitam meu trabalho, botem o cu na reta!

Confira fotos do evento em apoio a Rennan da Penha:

Foto: Jorge Pereira / Mídia NINJA

Foto: Jorge Pereira / Mídia NINJA