“Exu matou um pássaro ontem com uma pedra que só jogou hoje”
(Ditado Iorubá)

No dia 24 de novembro, é comemorado pela primeira vez, no estado do Rio de Janeiro, o Dia dos Sacerdotes e Sacerdotisas de Matriz Africana. Essa lei avança na valorização dos povos de terreiro, na medida em que a Assembleia Legislativa do Rio reconhece um dia inteiramente dedicado às lideranças das religiões dos povos tradicionais de matriz africana, do povo de terreiro, das religiões do povo preto. A pesquisa Egbé da Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial (IDMJRacial), realizada nas áreas da Baixada Fluminense e da Zona Oeste, revelou que 75% dos terreiros abordados já foram alvo de algum tipo de violência.

A lei nº 10.008 de 2023 é parte de uma necessária reparação histórica, pois foram os sacerdotes e sacerdotisas de matriz africana, de umbanda e de candomblé, os mais vilipendiados em nossa história pela perseguição, pelo apagamento, pelo racismo religioso. Quando lideranças são reconhecidas com uma lei como essa, são valorizados os que cuidam de pessoas marginalizadas, apedrejadas, criticadas, que têm o seu sagrado discriminado e que sofrem agressão a todo tempo.

Quando uma casa legislativa valoriza nossa cultura e ancestralidade, nós agradecemos aos orixás, a Exu pelo reconhecimento, e sabemos que cada iniciativa serve também como estímulo ao poder público para que cada vez mais elaborem políticas públicas que protejam efetivamente o povo de axé e suas lideranças. Precisamos da desburocratização para a legalização de terreiros, do acesso a serviços, de leis de incentivo para o povo preto, para os nossos povos tradicionais. É dessa forma, com reconhecimento, reparação, valorização e visibilidade que daremos os primeiros passos nessa longa estrada que é a de sermos verdadeiramente protegidos.

Nosso estado vem apresentando dados alarmantes no que diz respeito aos ataques a casas de santo e a seus filhos. Propostas e ações como o Observatório Mãe Beata, o Abril Verde e todas as iniciativas que visam a valorização de nossa cultura ancestral constroem um caminho de combate real ao racismo religioso, de forma veemente, educativa e definitiva.

Esses são os resultados de uma atuação parlamentar comprometida com os direitos humanos, que precisa estar conectada com movimentos, organizações, terreiros. No que diz respeito ao Dia do Sacerdote e da Sacerdotisa, vale destacarmos o protagonismo das comunidades de axé, que tanto lutaram para que esta lei fosse regulamentada.

Que Bogbô Orixá mesmo possa nos abençoar sempre. Que a baba do quiabo, que Xangô, o orixá da justiça, possa fazer valer leis que nos fortalecem e dignificam nossa história.

É nessa direção que seguimos na luta contra as desigualdades, com articulação, inteligência e estratégia, recorrendo à sabedoria de Exu.

*Pai Dário Firmino é um homem, negro, gay e Babalorixá. Atua como arte-educador, coreógrafo, produtor e diretor artístico, espaços onde levanta sua luta contra o racismo e a LGBTfobia. Iniciou sua trajetória jovem, sempre aprendendo com os
mais velhos.

Conheça outros colunistas e suas opiniões!

Colunista NINJA

Memória, verdade e justiça

FODA

Qual a relação entre a expressão de gênero e a violência no Carnaval?

Márcio Santilli

Guerras e polarização política bloqueiam avanços na conferência do clima

Colunista NINJA

Vitória de Milei: é preciso compor uma nova canção

Márcio Santilli

Ponto de não retorno

Renata Souza

Abril Verde: mês dedicado a luta contra o racismo religioso

Jorgetânia Ferreira

Carta a Mani – sobre Davi, amor e patriarcado

Moara Saboia

Na defesa das estatais: A Luta pela Soberania Popular em Minas Gerais

Dríade Aguiar

'Rivais' mostra que tênis a três é bom

Andréia de Jesus

PEC das drogas aprofunda racismo e violência contra juventude negra

André Menezes

“O que me move são as utopias”, diz a multiartista Elisa Lucinda

Ivana Bentes

O gosto do vivo e as vidas marrons no filme “A paixão segundo G.H.”

Márcio Santilli

Agência nacional de resolução fundiária

Márcio Santilli

Mineradora estrangeira força a barra com o povo indígena Mura

Jade Beatriz

Combater o Cyberbullyng: esforços coletivos