Márcio Verá Mirim, liderança guarani da Terra Indígena Jaraguá, em São Paulo, está à frente de um projeto que reintroduz abelhas nativas sem ferrão na região, espécies fundamentais para a polinização da mata atlântica. O projeto nasceu da necessidade de preservar tradições indígenas e proteger a biodiversidade local, ameaçada pelo desmatamento e mudanças climáticas. Com um meliponário de 140 caixas, Márcio e sua comunidade cuidam de abelhas como uruçu amarela e jataí, cujos produtos são usados na medicina tradicional e em rituais sagrados. O esforço não apenas protege as abelhas, mas também contribui para a preservação ambiental, trazendo benefícios para toda a cidade de São Paulo, destacou a jornalista Flávia Mantovani, da Folha de SP.

Márcio explica que as abelhas nativas estavam desaparecendo do território guarani e que o projeto de reintrodução foi uma forma de resgatar a conexão ancestral com esses insetos, que são vistos como parte da família na cultura guarani. A cera, o mel e o própolis produzidos pelas abelhas têm um papel central nos rituais sagrados, como o batismo espiritual das crianças, onde se utiliza uma vela feita com a cera das abelhas. A iniciativa também envolve o reflorestamento com árvores nativas, essencial para a sobrevivência das abelhas e para a manutenção da mata atlântica.

Além do impacto ecológico, o projeto tem um componente educativo e cultural importante. Márcio recebe visitantes e grupos escolares na aldeia Tekoa Yvy Porã, onde compartilha conhecimentos sobre as abelhas e a importância da preservação ambiental. Ele acredita que, ao manter essa diversidade de espécies, a comunidade guarani não só preserva suas tradições, mas também contribui para um futuro mais sustentável para todos. Para Márcio, cuidar das abelhas e da floresta é uma forma prática de enfrentar as mudanças climáticas, trazendo uma visão de esperança e ação em meio às crises ambientais.