Passagens aéreas caras e estradas ruins isolam Cruzeiro do Sul, no Acre, e problema se repete por toda região
O isolamento da região e a negligência de diversos governos, tanto a níveis estaduais quanto federais para reverter a situação, demonstram e reforçam o isolamento da região norte com o resto do país
Viajar até Cruzeiro do Sul, no interior do Acre, tem sido uma verdadeira saga. Mesmo com a segunda maior população do estado, com 89.760 habitantes, a falta de manutenção na BR-364 e de uma fiscalização com a oferta de voos, que dão acesso à cidade, tem tornado a viagem amarga para quem precisa fazer o deslocamento.
Atualmente, apenas uma companhia aérea opera voos com destino à cidade, e em dias alternados, no período noturno. O alto custo das passagens torna o problema ainda mais grave. Comprada em cima da hora, a passagem pode chegar a R$2.189,11, somente a ida, foi o que simulou a reportagem do G1 sobre o caso. O tempo de voo em Cruzeiro do Sul é de menos de uma hora.
Outra maneira de chegar até a cidade é pela BR-364, mas as más condições da estrada maltratam quem precisa dela para se locomover. A viagem que durava entre 8 a 12 horas de ônibus, agora ultrapassa as 20 horas e, dependendo do dia, pode durar até 24 horas. O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) já chegou a informar que não foram garantidos recursos para a estrada no ano passado e, por isso, a situação ficou crítica.
O time da Casa NINJA Amazônia Tour recentemente fez o percurso por terra de Rio Branco, capital do Acre, a Cruzeiro do Sul, e relatou a dificuldade da estrada, milhares de quilômetros de buracos. Confira abaixo o momento em que NINJAs chegam na cidade. Na legenda do vídeo, Marielle Ramires diz, “Chegamos a Cruzeiro do Sul! Que viagem! Na nossa reta final intensa, enfrentamos uma viagem de mais 13 horas, desde Rio Branco, cruzando os rios Gregório e tantos outros que cortam essa região. A viagem, em uma das piores estradas que você verá na vida, estampa o descaso dos anos de governo Bolsonaro e do governador do AC Gladson Camelo contra a nossa gente. Que tempos melhores venham ao povo acreano. Na imagem, chegando ao Rio Liberdade, comemoramos a os últimos 100 km dos 8 mil rodados em nossa jornada 🙏🏾”
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Região Norte segue isolada
No início do mês, o setor aéreo e congressistas da bancada da região Norte se reuniram em Brasília para discutir o transporte aéreo e as modalidades tarifárias. Um dos principais temas do encontro foi a alta no preço das passagens, pois o querosene de aviação (QAv) custa em média 7,5% a mais nos aeroportos da região Norte do que no restante do Brasil, pressionando ainda mais o preço das passagens. Outro entrave é a questão logística e de distribuição na região Norte, que ainda sofre com problemas relacionados à baixa qualidade das rodovias e custos elevados de transporte.
“Nós, como setor, e os congressistas, precisamos unir forças para discutir medidas estruturantes para a nossa aviação. Somente enfrentando as barreiras é possível tornar o nosso mercado competitivo e fazer mais pessoas voarem, que é o desejo de todos nós”, afirmou a presidente da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), Jurema Monteiro.
O isolamento da região e a negligência de diversos governos, tanto a níveis estaduais quanto federais para reverter a situação, demonstram e reforçam o isolamento da região norte com o resto do país e até mesmo com o mundo.
No final de 2022, foi divulgada pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) a 25° edição da Pesquisa CNT de Rodovias, que mapeou naquele ano, 110.333 km no Brasil, o que representa a totalidade da malha rodoviária pavimentada brasileira. De acordo com o diretor executivo da CNT, Bruno Batista, diz que a situação da região norte, quando comparada a todas as outras regiões, é extrema: “80% da malha foram avaliados como ruim. Estados como o Acre e o Amazonas, por exemplo, não tiveram rodovias consideradas como ótimas. No Acre, 98% da malha foram avaliadas como ruins “, relata.
Ainda de acordo com a pesquisa, estima-se que em 2022 houve um consumo desnecessário de 166,5 milhões de litros de diesel devido à má qualidade do pavimento da malha rodoviária na região. Esse desperdício custa R$ 759,53 milhões aos transportadores.