Reforçada com naturalizações, Gana tenta repetir campanha histórica de 2010
Federação ganesa trabalhou nos bastidores e garantiu três ‘contratações’ de peso para o técnico Otto Addo utilizar na Copa do Mundo
Por Matheus Pedroso
Logo após confirmar sua classificação para o Mundial, as especulações de que grandes nomes do futebol europeu passariam a defender a seleção ganesa ganharam força. A federação local se movimentou nos bastidores e teve sucesso em algumas negociações, viu outras se arrastarem e ficarem para o próximo ciclo, além de recusas por preferência em defender nações do Velho Continente.
Entre todas as tratativas, duas delas envolviam os irmãos Williams, ambos do Athletic Bilbao, e tiveram destinos diferentes, levando cada um deles a escolher por uma seleção. Iñaki, o mais velho, se cansou de aguardar novas convocações da Seleção Espanhola e irá disputar a Copa do Mundo pelas Estrelas Negras, defendendo o país de origem dos seus pais. Já Nico, o mais novo, recebeu sua primeira convocação para a Furia esse ano e garantiu sua participação no Mundial do Catar.
O caso dos irmãos é raro, mas não único. Também por Gana, o meio-campista Kevin Prince Boateng esteve do lado contrário de seu irmão, o zagueiro Jérôme Boateng, nas Copa do Mundo de 2010 e 2014, com direito a um confronto em campo na edição realizada no Brasil, que terminou empatado por 2 a 2, diante da Alemanha, que se sagrou campeã.
O anúncio da escolha de Iñaki veio através de um vídeo emocionante nas suas redes sociais. Nele, o atacante pontua sobre o desejo de se reencontrar com suas raízes africanas, a vontade de escrever um legado e da importância que teve o país para sua construção como pessoa e jogador.
“É por isso que sinto que o momento chegou para mim de encontrar minhas origens dentro de mim mesmo, com a África e com Gana, o que significa muito para mim e para minha família”, declarou o atleta.
https://twitter.com/Williaaams45/status/1544381100415262720
Além do atacante, outros dois defensores aceitaram o convite de Gana, Tariq Lamptey e Mohammed Salisu, do Brighton e Southampton, da Inglaterra, respectivamente. O primeiro é lateral-direito, nasceu na Inglaterra e colecionou convocações pelo English Team durante as divisões de base, mas a forte concorrência da posição na equipe principal barrou qualquer oportunidade que pudesse ter. O segundo é zagueiro, nascido em Gana, mas tinha rejeitado todos os chamados anteriores, o que não voltou a acontecer com a chance de jogar o torneio. Mas, assim como Nico Williams preferiu a Espanha.
Outro jogador visado pelos ganeses estará em outra seleção nessa Copa do Mundo, é o caso de Jeremie Frimpong, lateral-direito do Bayer Leverkusen, que após longa indefinição preteriu a seleção das Estrelas Negras para defender a Holanda, país onde nasceu e assim garantiu o chamado inédito de Louis van Gaal.
Mas não foram todos os casos que receberam alguma definição, jovens jogadores como Callum Hudson-Odoi e Eddie Nketiah, de Bayer Leverkusen e Arsenal, respectivamente, flertaram durante meses com a possibilidade da naturalização para defender Gana no Mundial, mas novos capítulos devem ficar para os próximos anos, quando terão de escolher entre a seleção africana ou a Inglaterra, onde ambos nasceram.
Hudson-Odoi é um caso que pode até ser mais frustrante, o jogador expôs a possibilidade de naturalização publicamente algumas vezes, até mesmo encontrando o presidente de Gana, Nana Akufo-Addo. O meia-atacante já defendeu o English Team algumas vezes profissionalmente, mas uma mudança feita pela FIFA na regra, permitindo a mudança em casos de jogadores que tenham feito no máximo três jogos por alguma seleção até os 21 anos, abriu essa possibilidade.
Além dos casos já citados, outros três jogadores aceitaram o convite, mas não conseguiram garantir espaço na convocação final. Os zagueiros Patric Pfeiffer (Darmstadt), Stephen Ambrosius (Karlsruher) e o atacante Ransford-Yeboah (Hamburgo), todos eles nascidos na Alemanha, até tiveram suas naturalizações anunciadas pela federação, mas terão que continuar sonhando com a disputa de uma Copa do Mundo.
No Catar, as Estrelas Negras tentarão repetir a histórica campanha de 2010, quando liderados por Asamoah Gyan chegaram até as quartas-de-final, amargando uma trágica eliminação para o Uruguai, em jogo que ficou marcado por um pênalti cometido pelo atacante Luis Suárez. Gana ficou pelo caminho, naquela que foi a melhor campanha da história do continente africano.
No Grupo H, Gana terá como seus dois primeiros adversários Portugal e Coreia do Sul. Na última rodada, o destino reservou um reencontro com os uruguaios, na última Copa do Mundo do ‘vilão’ Luis Suárez, que marcou a infância de muitos que estarão defendendo as Estrelas Negras.
Texto produzido em cobertura colaborativa da NINJA Esporte Clube.