“Reconquistando a Terra” | Povos indígenas desfilam na X-9 em SP em enredo sobre devolução do território
Lideranças indígenas de diversas partes do Brasil participaram do desfile nesta última quinta (21/04) no Anhembi
Quase 800 dias depois de acontecer em 2020, o Carnaval das Escolas de Samba do Brasil voltou. E em São Paulo, os povos indígenas foram para a avenida pela escola X-9 Paulistana. O desfile conta com a presença de diversos indígenas, convidados para protagonizar o carro abre-alas da escola, como Sônia Guajajara, pré-candidata a deputada federal por São Paulo, Célia Xakriabá, pré-candidata a deputada federal por Minas Gerais, e Ingrid Sateré-Mawé, pré-candidata a deputada estadual pelo estado de Santa Catarina.
Outros nomes conhecidos na luta indígena, como Puyr Tembé, atual presidenta da Federação Estadual dos Povos Indígenas do Pará (Fepipa), Kleber Karipuna, liderança de base da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), Yaponã Guajajara, da Terra Indígena Arariboia e Sonia Ara Mirim, liderança da Terra Indígena Jaraguá, em São Paulo, também participaram do desfile. Parte deles ficaram hospedados na NAVE Coletiva, sede da Mídia NINJA em São Paulo.
A escola tem com enredo “Arapuca Tupi – A reconquista de uma terra sem dono” que traz uma crítica à devastação do meio ambiente e ao descaso com as lutas dos povos indígenas, trazendo em sua síntese um pedido de desculpas e um plano de devolução aos originários deste país, por séculos de violências, e foi para a avenida nesta última quinta-feira (21).
Esta foi a 2ª noite dos desfiles no Sambódromo do Anhembi, que começou no último dia 20, com as representantes do Grupo de Acesso I, que se encerraram quando Pérola Negra, última escola da noite, finalizou sua apresentação. As escolas que chegarem em 1º e 2º lugar vão para o Grupo Especial no Carnaval de 2023.
Assista ao desfile completo:
Leia a letra completa do samba-enredo de André Diniz, Claudio Russo, Arlindo Neto, Márcio André Filho, Marcelo Valença e Léo Rocha.
Arapuca Tupi – A reconquista de uma terra sem dono
Nosso povo feiticeiro pinta o corpo de urucum
E Deus Tupã vai encontrar com Ogum
X-9 é resistência e quem viver, verá
A zona norte retomando o seu lugar
Gira o maracá
Lágrima no olhar
Esconde a Lua cheia
Tribo em ritual
Cura para o caos
Refaz-se a grande aldeia
Marcha ao destino, alma tecelã
Trança com a ancestralidade guardiã
Lições antigas, visões nativas
Tão vivas pro novo amanhã
A grande arapuca inicia
Invade o deserto que há nos corações
Mil flechas contra a tirania
Floresce o concreto
Soa o som de mil perdões
O pajé quando a nuvem trovejou
Seu encanto espalhou sabedoria
A fé fez a terra prosperar
Caraíba viu raiar um lindo dia
Sentindo o verde da mata
Vestido de fauna, lança e cocar
Planta e divide o poder
Reaprendendo a colher e compartilhar
A pele é mestiça
Não há injustiça, intolerância
Do olhar Curumim
Renasce a esperança
Fartura que faz e alimenta o sonho Tupi
Mudam sentimentos na sociedade
Novo pensamento, irmanar e sentir
O despertar da humanidade