Por: Naiana Gaby. Colaboração na pesquisa: Maria Eduarda Coutinho

Para quem está ligado nas Olimpíadas e no mundo dos esportes, Rebeca Andrade e Simone Biles são dois nomes conhecidos. As duas maiores potências da ginástica são figuras cativas nas principais competições da categoria e têm mais coisas em comum do que imaginamos. Para além da disputa em busca do ouro olímpico nos Jogos de Paris, as atletas dividem um contexto histórico cheio de momentos de superação e resiliência. 

Rebeca nasceu em Guarulhos (SP) e vem de uma família humilde, onde a mãe, Rosa Santos, sustentava Rebeca e mais sete filhos com o salário de empregada doméstica. Simone Biles nasceu no estado de Ohio, nos Estados Unidos, e foi tirada do convívio da mãe biológica, Shanon Biles, aos 3 anos de idade devido ao vício de Shanon em drogas e álcool. A ginasta passou um longo período em lares adotivos, até que aos 6 anos foi adotada pelo avô Ron e pela mulher dele, Nellie. 

As dificuldades enfrentadas durante a infância não fizeram com que as atletas desistissem do esporte, pelo contrário, foi nessa época quando aos 4 e 6 anos de idade, que Rebeca e Simone deram os primeiros passos, ou melhor – saltos -, para trilharem uma carreira brilhante como ginastas.

O início

Foi através do Projeto Iniciação Esportiva da prefeitura de Guarulhos que Rebeca começou a treinar no Ginásio Bonifácio Cardoso, na grande São Paulo. Com o talento nato para a ginástica artística, recebeu o apelido de Daianinha de Guarulhos (em referência à ginasta Daiane dos Santos), e foi crescendo dentro do esporte. Após passar uma temporada em Curitiba, a atleta se mudou para o Rio de Janeiro e passou a integrar o time de atletas do Flamengo. 

Com 1,55m e aos 15 anos, Rebeca teve seu primeiro resultado expressivo em competições de grande porte na etapa da Copa do Mundo de Ginástica Artística, realizada na Eslovênia. Na ocasião, a ginasta conquistou a medalha de bronze nas barras paralelas assimétricas. 

Para Biles o primeiro contato com o esporte veio durante uma visita a um centro de ginástica artística no Texas, onde foi morar com os avós, após ter sido adotada. A menina de 6 anos impressionou os técnicos que estavam presentes quando começou a imitar as ginastas e logo depois foi convidada para treinar. 

Alguns anos mais tarde, foi descoberta pela técnica Aimee Borman, com quem passou a trabalhar, e ganhou destaque internacional em 2013, aos 16 anos com 1,42m, quando conquistou duas medalhas de ouro no Campeonato Mundial de Ginástica Artística.

Desafios 

As lesões de Rebeca Andrade

Rebeca e Simone passaram por períodos desafiadores que fizeram com que se afastassem das competições. Entre 2015 e 2019 a brasileira sofreu três lesões ligamentares no joelho. A primeira ocorreu em 2015 e deixou a atleta fora do Campeonato Mundial. No ano seguinte, após uma cirurgia e o período de recuperação, Rebeca conquistou cinco medalhas nas etapas da Copa do Mundo e fez a sua estreia nas Olimpíadas nos Jogos do Rio em 2016.

Uma segunda lesão, em 2017, atrapalhou novamente os planos da ginasta e a levou de volta ao centro cirúrgico, fazendo com que ela fosse obrigada a abandonar o Campeonato Mundial. Rebeca fez uma nova cirurgia reconstrutiva, se recuperou e voltou a competir em 2018, durante o Campeonato Pan-Americano daquele ano.

Talvez esse seja o pior pesadelo de um atleta: a obrigação de parar por conta de uma lesão. São meses de recuperação para encarar um novo recomeço cheio de desafios, mas isso aparentemente nunca fez Rebeca desistir, mesmo depois da terceira lesão no joelho em 2019, que fez com que a participação da ginástica nos Jogos de Tóquio de 2020 fosse colocada em xeque. 

Com a pandemia da COVID-19 e o adiamento das Olímpiadas para 2021, Rebeca teve tempo de se reconstruir e participar dos Jogos, onde se tornou a primeira medalhista olímpica da ginástica artística brasileira, conquistando a prata no individual geral e o ouro no salto durante a competição, alavancando ainda mais a carreira e mostrando que desistir nunca foi uma opção. 

A saúde mental de Simone Biles

Com sete medalhas em duas participações Olímpicas, o que parou Simone por um período foi a saúde mental. Enquanto Rebeca se consagrava em Tóquio, a norte-americana, que mudou a histórica da ginástica artística mundial ao alcançar recordes considerados insuperáveis, decidiu abandonar a competição. Após cair em uma das apresentações – algo inédito para a atleta -, entendeu que precisava parar, mesmo sem ter sofrido nenhuma lesão. 

Simone fez uma declaração pública trazendo o tema da saúde mental, que até então era um tabu no mundo dos esportes, e deixando claro que a pressão que sentia e como as redes sociais contribuíram para a piora do quadro. Biles não teve medo de parar para cuidar da saúde e, como esperado, voltou triunfante, mostrando o porquê é considerada a melhor ginasta do mundo. 

O documentário “O Retorno de Biles”, disponível na Netflix, traz um mergulho profundo na vida e carreira da atleta, com depoimentos emocionantes dos familiares, equipe e da própria Simone, que diz: nunca vou esquecer de onde eu vim. E talvez também seja impossível esquecer Simone Biles. A ginasta acumula mais de trinta medalhas em campeonatos mundiais, sendo vinte e três delas de ouro.

Paris 2024

A expectativa para ver Rebeca e Simone na Bercy Arena em Paris é alta. Assistir a essas duas atletas que mostraram força e resiliência durante suas trajetórias, não só nos empolga enquanto espectadores, mas também nos emociona. São ginastas que brilham dentro do tatame e sabem, como ninguém, como nos comover com saltos e piruetas. 

A estreia da ginástica artística feminina em Paris está marcada para o dia 28 de julho. Confira a programação completa clicando aqui.