Por: Tamara Finardi

A Nigéria é o primeiro desafio da seleção brasileira de futebol feminino nestes Jogos Olímpicos. As duas seleções se enfrentam no dia 25 de julho, às 14h (horário de Brasília).

As Super Falcons, como são conhecidas as jogadoras da seleção nigeriana, carregam uma história de potência e representatividade no futebol de mulheres. Apesar de ser uma das equipes que esteve presente em todas as nove edições da Copa do Mundo, está participando dos Jogos Olímpicos pela 4ª vez, após um hiato de 16 anos. Embora tenha ficado mais de uma década e meia distante da competição olímpica, a equipe nigeriana vem se destacando por suas atuações nos gramados.

Em entrevista exclusiva, o jornalista especialista em futebol africano, Luis Fernando Filho, apresenta um panorama para entendermos como a Nigéria chega à Paris 2024.

Foto: Acervo pessoal

Ninja Esporte Clube: Embora as Super Falcons tenham ficado de fora do último pódio da Copa das Nações Feminina, é a seleção que lidera de longe a conquista da competição – das 14 edições disputadas desde 1991, levou o título em 11 oportunidades. O que faz a Nigéria se destacar com toda esta potência no futebol feminino?

Luis Fernando: A Nigéria, por si só, é o país mais populoso da África. Tende a formar em escala maior no continente africano, mas também fez parte da primeira Federação a levar o futebol feminino mais a sério na década de 90 – quando a modalidade ainda se engatinhava na profissionalização pelo mundo. A década de Ouro da Nigéria no esporte, entre os anos 90, especialmente do masculino, ajudou a alavancar as mulheres dentro do maior projeto do país. E as Olimpíadas, sempre foram pioneiras para ajudar na visibilidade das nigerianas. Mas antes e durante, as Super Falcons dominaram o futebol feminino africano. As participações internacionais também ajudaram outras escolas africanas a se profissionalizar também.

NEC: Mesmo diante deste contexto, onde a Nigéria se coloca como potência no continente africano, o que levou a seleção a ficar 16 anos sem disputar uma Olimpíada?

LF: Parte disso é a competitividade entre as seleções africanas e sua evolução no século XXI. O formato de mata-mata também dificulta que todas as melhores seleções do continente africano, obrigatoriamente, consigam chegar nas Olimpíadas. Mas no meio de tais situações, tivemos algumas edições de Pré-Olímpico em que a Nigéria planejou mal seus jogos e o elenco para focar na classificação – e outras seleções tão boas acabaram aproveitando. 

As eliminações da Nigéria no Pré-Olímpico sempre foram em detalhes pequenos como uma eliminação com gol fora do adversário ou derrota nos pênaltis. Detalhes que fizeram a diferença nas últimas edições.

NEC: As Super Falcons fizeram uma campanha que chamou muita atenção na última Copa do Mundo, chegando até as oitavas de final, onde foi eliminada nos pênaltis pela Inglaterra – que viria a ser a segunda colocada na competição. Inclusive, a seleção da Nigéria foi uma das responsáveis por eliminar a atual campeã Olímpica, o Canadá. Podemos esperar uma performance parecida com a Copa do Mundo nos Jogos Olímpicos de Paris 2024?

LF: Podemos, sim. A diferença da geração 2008 para a atual é a profundidade do elenco nigeriano, com muitas atletas, para além da Oshoala, disputando os melhores campeonatos do mundo, seja nos EUA, Inglaterra ou Espanha. É uma geração com boa internacionalização e acompanhada de qualidade em suas atividades. E as próximas estrelas estão sendo formadas cada vez mais rápidas. Existe sempre uma renovação de 4 em 4 anos, por exemplo.

NEC: Em sua última participação em Jogos Olímpicos, que ocorreu em Pequim 2008, a Nigéria perdeu para o Brasil pelo placar de 3×1. Atualmente, a conjuntura do futebol mundial é totalmente diferente. O que podemos esperar da partida de Brasil x Nigéria na estreia/confrontos do Grupo C? Pode rolar um sentimento de revanche das jogadoras nigerianas? 

LF: A ideia é que a Nigéria seja uma seleção bastante reativa e vertical. Aproveitando muito a velocidade dos contra-ataques, uma marca registrada na Copa do Mundo. As nigerianas conseguem unir o vigor físico e de resistência no meio-campo com o talento do improviso e do drible curto lá na frente. Sobre a revanche contra o Brasil, acredito que exista mais uma admiração pela escola brasileira do que um sentimento de amargura. O Brasil é, e sempre foi, referência para o futebol africano seja masculino ou feminino.

NEC: A Nigéria também encara a Espanha na fase de grupos. Parte das jogadoras convocadas pela seleção nigeriana atua na liga espanhola. Como você acha que isso pode impactar no duelo entre as duas seleções? 

LF: Impacta muito na percepção sobre o jogo moderno e as adaptações táticas que grandes jogos internacionais pedem. A última Copa do Mundo mostrou que a Nigéria pode enfrentar qualquer seleção europeia ou Brasil de igual para igual. As jogadoras que disputam as grandes ligas já conhecem as adversárias, mas também evoluíram muito taticamente nos últimos 10 anos de experiência fora da África.

NEC: Jogadoras para ficarmos de olho:

LF: Oshoala, sem dúvidas, e a Ajibade, cruciais no ataque nigeriano. Mas também destaco a Chiamaka Nnadozie, a melhor goleira da África, e Michele Alozie, na defesa. E no meio-campo, a Toni Payne, recém-contratada pelo Everton da Inglaterra.

Luis Fernando Filho também é fundador do projeto Ponta de Lança e África Mamba, e está realizando a cobertura dos Jogos Olímpicos no perfil do X (antigo Twitter) @luisfernanfilho

Como a Nigéria se classificou para Paris 2024

Na etapa final do Pré-Olímpico, a Nigéria venceu a África do Sul por 1 x 0 no placar agregado. O jogo de volta, ocorreu dia 9 de abril deste ano, fora de casa, e um empate sem gols foi suficiente para que a Nigéria pudesse carimbar o passaporte de volta às Olimpíadas.

Além da Nigéria, outra equipe a garantir vaga na qualificatória da CAF (Confederação Africana de Futebol), foi a Zâmbia, após superar o Marrocos.

Foto: Reprodução

Nigéria x Brasil: retrospecto com marcos históricos

Brasil e Nigéria se enfrentaram duas vezes em competições oficiais, mas foi o suficiente para que os lances ficassem na história. 

Foto: Getty Images

Legenda: Disputa entre Brasil e Nigéria nos Jogos de Pequim, em 2008

O duelo mais recente entre Brasil e Nigéria foi nos Jogos de Pequim, em 2008, onde as brasileiras superaram as Super Falcons por 3×1. Neste jogo, a seleção canarinho saiu atrás no marcador, após sofrer um gol de pênalti assinalado por Nkwocha. Contudo, virou o jogo com direito a hat-trick e gol de bicicleta de Cristiane. Este jogo representa a última partida das nigerianas nas Olimpíadas, que retornam a competição justamente enfrentando o Brasil. 

Na Copa do Mundo de 1999, Brasil e Nigéria fizeram um jogo duro, que garantiu vaga para a semifinal. No tempo normal, a partida ficou empatada pelo placar de 3×3, com gols marcados pelas brasileiras Cidinha (2x) e Nenê. Já os gols nigerianos foram convertidos por Emeafu, Okosieme, Egbe. Na prorrogação, estava valendo o chamado “gol de ouro”, onde a equipe que marcasse primeiro vencia a partida. Sissi trouxe a vitória brasileira em um gol de falta, reconhecido até hoje como um dos mais bonitos da história do futebol. Esta partida marcou o primeiro confronto do Brasil contra seleções da África. 

Super Falcons convocadas para Paris 2024 – Confira as jogadoras:

Goleiras

Chiamaka Nnadozie e Tochukwu Oluehi

Defensoras

Osinachi Ohale, TosinDemehin, Michelle Alozie, Nicole Payne, Chidinma Okeke, 

Meio-campistas

Deborah Abiodun, Halimatu Ayinde, Christy Ucheibe, Jennifer Echegini, Toni Payne

Atacantes

Rasheedat Ajibabe, Uchenna Kanu, Esther Okorokkwo, Asisat Oshoala, Chinwendu Ihezuo, Chinonyerem Macleans

Suplentes

Jumoke Alani, Gift Monday, Ifeoma Onumonu, Morufa Ademola

Não perca este jogaço:

Data: 25 de julho, quinta-feira

Horário: 14h (de Brasília)

Local: Estádio de Bordeaux, Bordeaux, França

Onde assistir: Olympics.com, Globo, SporTV e CazéTV