Por Mauro Utida

Nesta quinta-feira (28), o Tribunal de Justiça de Minas Gerais absolveu, em segunda instância, dois irmãos da acusação de racismo contra seguranças em uma partida entre o Galo e Cruzeiro pelo Brasileirão de 2019. No vídeo divulgado pelo jornalista Lucas Von Dollinger, um dos agressores fala: “você pôs a mão em mim, olha sua cor”, além de chamar de “macaco”.

Mesmo com as palavras de cunho racista, os desembargadores apontaram que os torcedores Adrierre Siqueira da Silva e Nathan Silveira da Silva, agiram em “crescente e justificável ira” já que o segurança teria impedido de irem para um ponto mais seguro. Veja o vídeo:

 

 

Em 2019, o Observatório Racial no Futebol, projeto que monitora casos de racismo no esporte, contabilizou 70 atos racistas no futebol brasileiro, um recorde de denúncias registrado pela entidade. Desde então, o combate ao racismo teve algumas ações tímidas, mas não foram suficientes para melhorar a situação e, o ano de 2022, está muito próximo de superar estes números. Segundo o Observatório, até esta sexta-feira (29), existem 59 denúncias envolvendo clubes brasileiros, sendo 12 delas acometidas na Taça Libertadores da América.

Para o diretor do Observatório Racial no Futebol, Marcelo Carvalho, existem dois fatores que podem estar contribuindo para o aumento de casos: o discurso de ódio entre governantes no Brasil e no mundo que deixam os racistas cada vez mais a vontade, mas também o aumento da conscientização entre jogadores, clubes e a imprensa, que aborda cada vez mais o assunto.

“O discurso de ódio tem aumentado no mundo todo, porém tem aumentado a conscientização das pessoas e acontecido uma mudança de comportamento dentro e fora dos campos”, diz Marcelo.

O último caso de racismo no futebol brasileiro com grande repercussão nacional, aconteceu na partida entre São Paulo e Fluminense, no último dia 17, no Estádio do Morumbi. O caso foi denunciado por um torcedor do Fluminense, morador de São Gonçalo, que filmou um torcedor são-paulino fazendo gestos de macaco para ele. A polícia civil de São Paulo abriu inquérito para investigar a denúncia de racismo. O tricolor paulista se manifestou cerca de 40 minutos depois de o primeiro vídeo ter sido postado, registrou a ocorrência e prometeu proibir os agressores de entrarem no estádio.

Racismo estrutural

No caso da decisão dos desembargadores do Tribunal de Minas Gerais a favor dos agressores, o diretor do Observatório declara que, infelizmente, estes tipos de decisões são comuns. Na opinião dele, há um racismo estrutural dentro do judiciários, dos clubes de futebol e das federações, que ainda não se deram conta que o racismo é um crime grave.

“O Brasil é um dos países com mais casos de racismo do mundo. Somos um país de maioria negra, mas nunca tratamos o racismo como um problema estrutural, combatendo com ações educativas”, declara.

Segundo ele, o país passa por uma transformação, apesar de ainda ser tímida. Ele cita como exemplo a movimentação dos clubes de futebol que criaram diretorias da diversidade e núcleos de ações afirmativas. “Há 10 anos, os clubes não se manifestavam contra casos de racismo e outros tipos de preconceitos, hoje eles fazem algumas ações tímidas como notas de repúdio e ações em redes sociais. É muito pouco, mas já é um começo”, lamentou.

No início de maio, a Conmebol anunciou um aumento no valor da multa para clubes cujos torcedores cometerem atos racistas. Agora o valor mínimo chega a US$ 100 mil, o equivalente a cerca de R$ 500 mil. Para Marcelo, o aumento das multas é importante, mas ele diz que as federações também precisam pensar em ações educativas, do que apenas punitivas. “Punir é importante, mas também precisamos avançar na conscientização destes tipos de crimes que só serão combatidas com sucesso se houver educação”, afirmou.