Racismo na universidade: Professor bolsonarista chama indígenas Arapiuns de “xexelentos e cabeludos”
Professor que disse ainda que nada aconteceria com ele caso fosse denunciado à Ouvidoria da Ufopa
“Xexelentos e cabeludos”, foi assim que um professor que ministra disciplina de Química Ambiental na Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), em Santarém (PA) se referiu ao povo Arapiuns. Isso aconteceu quando ele relatava uma incursão no território.
Uma universitária Arapiuns que assistia à aula, contou que dentre diversas declarações equivocadas, ele disse que “os índios daqui são usados pelas Ongs para atrair dinheiro para a Amazônia”. Ouviu a tudo, atônita.
“Desmereceu todas as nossas lutas e o que defendemos”.
Ela denunciou o episódio de racismo à Ouvidoria da universidade. O professor teria dito ainda que “era só pegar dois pretos e dois índios com arco e flecha e levar para as ruas para fazer manifestação” e que ao se referir à pessoas do povo Arapiuns, disse em tom de desprezo que eram “xexelentos e cabeludos”.
Não bastasse o show de horrores, que incluiu apoio à tese do Marco Temporal, declarou apoio ao candidato à reeleição, Jair Bolsonaro. E ainda afirmou à estudante, depois que ela rebateu os comentários racistas, que caso sua conduta fosse denunciada, nada aconteceria a ele.
A tese do Marco Temporal estabelece que as populações indígenas só podem reivindicar terras que ocupavam na data da promulgação da Constituição, em 5 de outubro de 1988.
Em comunicado à ouvidoria da instituição, a estudante reforçou em sua denúncia que “muitos desses povos estavam em seus territórios, mas por serem retirados à força, muitos deles foram dizimados, massacrados e expulsos em nome do progresso e do tal desenvolvimento. Mesmo desenvolvimento ao qual o professor se referiu, dizendo que nossos povos atrapalham. Mas lutamos em defesa da vida, não só de nossos povos, mas de toda a humanidade”.
Ela conta que sem medir palavras, o professor teria ofendido não só o povo indígena, como também, o povo quilombola, os LGBTs, cristãos – de forma intolerante – e acusado organizações socioambientais. “Demonstrando despreparo para ministrar aulas em universidade pública que recebe todas essas populações”.
A indígena lamentou que o professor esteja incluído no corpo docente da universidade. “Me senti ofendida, violada, atacada. Sendo assim, exijo da Universidade Federal do Oeste do Pará, um retorno e que as devidas providências sejam tomadas. A universidade deveria ser um local de acolhimento e não o contrário”. Caso nada aconteça, cogita desistir da disciplina. “Não é assunto de Química Ambiental, não havia necessidade de abordar um tema que não é da área dele. Mas a gente é alvo de racismo, ameaças. A gente fala tanto, mas nunca está preparada”.
A Casa Ninja Amazônia buscou esclarecimentos da Ufopa, que via gabinete da reitoria, disse que a instituição “atua em defesa dos direitos das populações indígenas, portando foi instaurado processo disciplinar para apurar a conduta do docente, enquanto está sendo providenciado suporte à discente pelo fato ocorrido.
Em nota a instituição declarou que:
A Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) informa que está apurando a denúncia de racismo formalizada por uma discente indígena na terça-feira, 27 de setembro.
A denúncia, protocolada na Ouvidoria da Instituição, foi imediatamente encaminhada à unidade competente para instauração de processo administrativo para apuração da conduta do docente citado. Caso seja apurada falta cometida pelo docente, serão aplicadas as medidas disciplinares cabíveis.
Ao mesmo tempo, a Pró-Reitoria de Gestão Estudantil (Proges) foi acionada a prestar acolhimento psicológico e social à estudante, e o Instituto de Ciências e Tecnologia das Águas (ICTA), unidade acadêmica à qual a estudante está vinculada, a tomar as providências necessárias para garantir a permanência da discente na disciplina e para evitar maiores prejuízos aos envolvidos enquanto a denúncia está em fase de apuração.
A Ufopa reforça ainda que atua em defesa dos direitos das populações indígenas, em especial o direito ao ensino superior público, gratuito e de qualidade, e que não concorda com nenhum tipo de postura atentatória à dignidade humana. A instituição está aberta para dialogar com a comunidade acadêmica, em especial os discentes indígenas, e demais entidades que atuam em prol dessas populações para estabelecer estratégias de combate ao racismo estrutural.
Santarém (PA), 28 de setembro de 2022.
ALDENIZE RUELA XAVIER
Reitora da Ufopa