Racismo estrutural no Big Brother Brasil 2020
Da mesma forma que o machismo se faz evidente nesta última edição, o racismo está cem por cento presente, mas assim como acontece em todos os lugares, é menos evidenciado.
O Big Brother Brasil fala com milhões de pessoas, quer você goste ou não. Por isso mesmo, ele fura a bolha. E nessa bolha furada, não para de jorrar na cara da sociedade, o machismo e o racismo estruturais criados nela. Oportunidade única de discutir, refletir e se conscientizar em grande escala, sobre temas de máxima importância social.
Da mesma forma que o machismo se faz evidente nesta última edição, o racismo está cem por cento presente, mas assim como acontece em todos os lugares, é menos evidenciado. Isso porque mulheres brancas sofrem machismo, mas não racismo, como sofrem homens e mulheres negras. E as mulheres negras passam pelo cruzamento das duas opressões.
A partir daí já é possível saber que sempre, a negritude estará numa escala menor de privilégio do que a branquitude, especialmente as mulheres. A negra é a base da pirâmide, enquanto o branco é o topo. E quanto mais minoria a negritude for (mulher, gordo, trans, gay, pcd, etc), mais racismo e os demais tipos de preconceito, vai sofrer. Por isso os negros sempre precisaram de um esforço sobre-humano, sempre maior do que o de um branco, pra ser reconhecido. E a qualquer sinal ou suspeita de um “problema”, o primeiro e maior culpado, será o negro.
Babu é o homem preto, gordo, que tem personalidade, inteligente e sensível. Único homem lá dentro como bom exemplo a ser seguido. Único que se propõe a ser desconstruído do machismo. Erra, mas reconhece e tenta acertar. É um artista, intelectual. Mas apesar de ser notado, é “mal” notado: parece um “monstro”, “grosso”, o que combina com a “xepa” e não com a ala VIP, o que serve pra “lavar a louça”.
Thelminha é a mulher preta, que tem personalidade, sensível, inteligentíssima e teve 0 defeitos que mereçam atenção, ao contrário dos demais. Não compra briga “à toa” e quando compra, é pra brilhar. Protagonizou a cena mais épica, no maior embate até agora na casa, que se deu contra o machismo e racismo. Falou em alto e bom tom, o que todo mundo queria dizer pro homem machista mais branco e arrogante da casa, Lucas Galina: “você é um macho escroto e vai sentir vergonha da sua postura quando sair daqui.” Lucas disse que “tinha berço” ao contrário da Thelma. Ela é quem faz a melhor e mais acertiva leitura do jogo e assim como Babu, dá aulas de racismo estrutural, mas é ela a quem menos querem ouvir. É considerada a “mais fraca”, a “planta” da casa e pasmem, por várias mulheres que estão lá dentro.
Babu e Thelminha foram das primeiras opções de voto do Gui, o último eliminado. Motivo? “afinidade”. O “príncipe” deu a deixa da maior sutileza que pode existir no machismo e racismo. O topo da pirâmide, da “cadeia alimentar” e primeiro a mirar sequencialmente nos dois únicos negros da casa, educadamente (sem contar que depois, mirou no asiático). Também foi quem protagonizou a maior cena de relacionamento amoroso abusivo, no seu estágio inicial, na sutileza.
Agora, vieram o restante da casa. Quanto mais o tempo passa, mais máscaras caem e mais preconceitos se evidenciam. É claro que a maioria não “faz por mal”, é por condicionamento mesmo, tanto no machismo quanto no racismo. É claro que ninguém merece ser linchado, nem sendo culpados. Porém, enquanto os privilegiados podem “se dar ao luxo” de não se perceberem, os menos privilegiados percebendo ou não, sempre vão sofrer mais as consequências. É preciso um Basta, ainda que pedagógico.
É assim na vida, não seria diferente no reality show do BBB, que afinal, se trata do show da vida. Oportunidade única de se enxergar, nos defeitos e nas qualidades, de cada um que vive ali exposto ao nosso julgamento. Ao julgamento da massa, da “inteligência diversa e coletiva” que somos. É preciso ter coragem! Por isso, como bem disse a @nefertaritati só vamos parar de falar do programa, quando Babu e Telminha chegarem na final 🙂