Por: Guilherme Jeffe

A estreia do Brasil no tão esperado basquete masculino em Paris 2024 está chegando e um dos principais nomes dessa seleção é o técnico croata Aleksandar Petrovic, atualmente com 65 anos. O ciclo de Aleksandar como técnico da seleção brasileira iniciou-se logo após a Rio 2016, onde a campanha brasileira foi desastrosa, não conseguindo classificar-se para os playoffs e amargando a nona colocação geral, quinto colocado do grupo B. A expectativa da CBB era que, com bastante tempo para trabalhar no ciclo Rio-Tóquio, a seleção obtivesse êxito e conseguisse classificar-se para o Japão, o que infelizmente não aconteceu. No torneio Pré-Olímpico de 2021, realizado em Split, na Croácia, o Brasil avançou até a final, mas acabou superado pela Alemanha. Após o resultado frustrante, Petrovic pediu demissão. 

Três anos depois, no entanto, as coisas seriam diferentes. Após quase conseguir classificar-se para as Olimpíadas pela vaga da Copa do Mundo de Basquete de 2023, o Brasil precisou participar de um novo torneio Pré-Olímpico, desta vez em Riga, capital da Letônia. Para tanto, a CBB buscou Aleksandar novamente com este objetivo, contando também com uma comissão altamente qualificada, a exemplo de Tiago Splitter, e, com um tempo de preparação muito menor com relação ao ciclo anterior, a seleção brasileira desfilou em Riga. Disputando a final contra a dona da casa, Letônia (que havia nos eliminado em 2023), o Brasil mandou no jogo e venceu os letões pelo placar elástico de 94 a 69, garantindo nossa presença em Paris. Foi a consagração do trabalho de Petrovic.

Foto: Reprodução/Instagram da CBB

O que pouco se correlaciona, no entanto, é que o irmão mais novo de Aleksandar foi Drazen Petrovic, o maior atleta de basquete da história da Europa, sendo referenciado assim por Lebron James, por exemplo. No último dia 23, a CBB publicou imagens nas suas redes sociais em homenagem ao ex-atleta, pois a seleção fez sua preparação para o Pré-Olímpico e para Paris 2024 no Cibona, “templo do basquete iugoslavo e agora croata, a casa do gênio Drazen, o Mozart do basquete” (trecho retirado de post da CBB). Mas quem foi esse atleta tão bem relembrado pelos amantes do basquete?

Nascido em junho de 1964 em Sibenik (atualmente na Croácia), era filho de pai bósnio e etnicamente sérvio e mãe croata, algo que era bastante comum no contexto da ex-Iugoslávia. O irmão mais velho, Aleksandar, foi responsável por introduzi-lo ao basquete, e Drazen iniciou sua trajetória com a bola laranja aos 13 anos de idade, no clube de sua cidade natal, onde já aos 15 anos foi promovido para a equipe principal, e tornou-se rapidamente o grande referencial técnico, levando o time a brigar pelos principais títulos do país. Em 1985, após essa rápida ascensão em Sibenik, foi transferido para o Cibona, juntando-se ao irmão, onde venceram a primeira Euroliga da história do clube ainda naquele ano, permanecendo lá até 1988, quando foi contratado pelo Real Madrid. 

Foto: Reprodução/Instagram da CBB

Drazen, entretanto, havia sido selecionado pelo Trail Blazers em 1986, e decidiu que iria para os EUA em 1989, em busca de novos desafios e de estabelecer-se na NBA, o que acabou não acontecendo na equipe. Em 1991, Petrovic foi trocado para o New Jersey Nets, onde acabou tendo mais tempo de quadra e, consequentemente, melhores números. De qualquer forma, o atleta nunca foi devidamente reconhecido em terras norte-americanas, tendo apreço maior no que tange às participações nas seleções da Iugoslávia e da Croácia. 

Tão logo iniciou sua trajetória em clubes, como citado anteriormente, Drazen também começou a ser convocado para jogar com os iugoslavos, participando das Olimpíadas de Los Angeles de 1984, onde conquistaram a medalha de bronze, e de Seoul (1988), onde ficaram com o prata, derrotados pela União Soviética. Foi destaque também nos EuroBaskets de 1987 e 1989, além dos Campeonatos Mundiais de Basquete de 1986 (terceira colocação) e 1990, onde conquistaram o primeiro lugar contra a URSS, na Argentina. Essa primeira colocação, porém, foi a última de Drazen pela Iugoslávia, pois a comemoração do título ficou marcada pelo “episódio da bandeira” quando o croata rompeu sua amizade com Vlade Divac, ex-pivô sérvio, para defender sua bandeira, em contraponto à iugoslava, dado o contexto de dissolução do país na década de 1990. O caso é explorado e aprofundado no documentário “Once Brothers”, produzido pela ESPN em 2010. 

Nas Olimpíadas de 1992, sediadas em Barcelona, Drazen pôde representar seu país natal, recém independente, fazendo aquilo que mais gostava, sendo o líder da equipe que bateu de frente com o Dream Team americano e ganhando a prata pela modalidade, a maior conquista croata naqueles Jogos Olímpicos. O “Mozart croata” infelizmente nos deixou cedo, falecendo em junho de 1993, pouco tempo antes de completar 29 anos, um episódio triste para a nação croata que, buscando ídolos que a representasse no contexto de guerra da Iugoslávia, encontrou em Drazen uma grande figura dentro e fora de quadra. Assim como quando liderou sua equipe contra os americanos em Barcelona, aguardamos ansiosamente que Drazen inspire nossos atletas a buscarem o melhor resultado possível em Paris 2024, especialmente através do seu irmão mais velho, justamente no ano em que veremos uma nova versão do Dream Team.