Quase metade dos focos registrados pelo Inpe neste ano no bioma foram detectados nos primeiros 20 dias de agosto

Foto: Lalo de Almeida

Por WWF Brasil

À medida que os dias quentes e secos avançam, o Pantanal e a Amazônia são mais pressionados pelo fogo. Nem a presença das Forças Armadas em alguns pontos dos biomas e o decreto presidencial proibindo queimadas durante 120 dias no país têm sido capazes de interromper o ciclo de destruição. De 1º de janeiro a 20 de agosto de 2020, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) detectou 8.058 focos de queimadas no Pantanal, alta de 205% ante o mesmo período de 2019.

Os municípios de Poconé, em Mato Grosso, e Corumbá, em Mato Grosso do Sul, são os campeões em focos no mês: 1.397 e 1.310, respectivamente. O site do Inpe disponibiliza dados sobre focos de queimadas para os biomas a partir de 1998. Desde então, o Pantanal nunca viveu uma tragédia como a deste ano.

“Choveu pouco em 2020. O Pantanal vive uma das piores secas dos últimos 47 anos”, explica Júlio Cesar Sampaio, líder da Iniciativa Pantanal do WWF.

De todos os focos de queimadas registrados no Pantanal em 2020, 47,6% foram detectados pelo Inpe no período de 1º a 20 de agosto. De acordo com Sampaio, apesar de agosto ser período de estiagem, muitas áreas do bioma ainda deveriam estar inundadas por conta das chuvas dos meses anteriores. Mas, em vez disso, elas secaram, deixando mais vegetação exposta ao fogo. O rio Paraguai, um dos mais importantes do bioma, apresenta níveis críticos em seu volume de água.

Sampaio salienta que, além da questão climática, ações humanas têm contribuído para o processo de degradação do Pantanal. Muitos incêndios ocorridos nas últimas semanas tiveram início em queimadas feitas para a limpeza de roçados ou pastagens. O bioma está bastante pressionado pelas atividades de agricultura e pecuária extensiva. “Com a seca severa que estamos vivendo, esse problema se intensifica”, diz ele.

Com uma área de 150 mil km2, o Pantanal ultrapassa a fronteira brasileira e se estende pela Bolívia e pelo Paraguai. “É o grande tesouro da América do Sul, único no Planeta. O Pantanal é a maior área úmida continental do mundo. Rico em biodiversidade e em serviços ecossistêmicos, seja pela produção de água ou pela captura de CO2. Mas, a má gestão e o descaso, sem dúvida, trazem perdas enormes para as comunidades tanto do Brasil quanto dos países que compartilham o bioma”, acrescenta Sampaio.

SITUAÇÃO NA AMAZÔNIA

Em paralelo, foram detectados 35.308 focos de queimadas na Amazônia entre 1º de janeiro e 20 de agosto. Embora tenha havido recuo de 9% na comparação com o mesmo período do ano anterior, não há motivos para comemoração. Cerca de 58% dos focos registrados pelo Inpe ao longo de 2020 no bioma foram captados nos primeiros 20 dias de agosto. “O desmatamento na Amazônia saltou 35% nos últimos doze meses. Há muitas áreas de florestas já derrubadas que ainda podem ser queimadas”, alerta Mariana Napolitano, gerente de Ciências do WWF-Brasil.

Além da perda de biodiversidade, o fogo é devastador também para a população, que sofre com o aumento de doenças respiratórias decorrentes da fumaça em um momento no qual o sistema de saúde encontra-se no limite por conta da pandemia da Covid-19.

MORATÓRIA NA AMAZÔNIA

Mais de 60 organizações e coletivos da sociedade civil entregaram no dia 6 de agosto aos presidentes da Câmara e do Senado, a investidores estrangeiros e a parlamentares brasileiros e europeus uma carta com cinco propostas emergenciais para conter a crise do desmatamento na Amazônia. Uma das medidas é o estabelecimento de uma moratória de pelo menos cinco anos ao corte da floresta.

A devastação em 2020 já é a maior desde o início da série de alertas do sistema de monitoramento por satélite Deter B, do Inpe, e pode vir a ser a maior desde 2006. A explosão do corte raso e das ameaças aos povos indígenas no governo Bolsonaro fizeram investidores estrangeiros ameaçarem retirar investimentos do país.

Na carta, as organizações lembram que o Brasil, no começo do século, conseguiu reduzir a taxa de desmatamento e ao mesmo tempo ampliar a produção agropecuária e o PIB.

As cinco medidas emergenciais propostas incluem, além da moratória ao desmate, o endurecimento das penas aos crimes ambientais, inclusive o bloqueio de bens dos cem maiores desmatadores da Amazônia; a retomada imediata do PPCDAm — o plano de controle do desmatamento que vigorou por cinco mandatos presidenciais até ser engavetado por Jair Bolsonaro; a demarcação de terras indígenas, a titulação de territórios quilombolas e criação de 10 milhões de hectares em unidades de conservação; e a reestruturação do Ibama, do ICMBio e da Funai, desarticulados e aparelhados pelo atual governo.

A moratória ao desmatamento comporta exceções: atividades de subsistência de populações tradicionais, agricultura familiar e planos de manejo sustentável de madeira, por exemplo, ainda seriam admitidos.

O documento está disponível em português e em inglês.