Queda precoce em Paris pode aposentar seleção do ouro de 2016
Lucão e Bruninho se aposentaram após a derrota nas quartas para os EUA, encerrando possivelmente a era dourada na seleção.
Por Rafael Lisboa, para Cobertura Colaborativa Paris 2024
Sempre dizem que mais difícil do que chegar ao topo é se manter. E, talvez, para um campeão, seja ainda mais complicado entender e saber a hora de parar. Mas, depois de um duro momento, pode ser mais fácil de entender que a hora chegou.
Ouro olímpico em 2016, a Seleção Brasileira de Vôlei Masculino tinha um grande elenco marcado, principalmente, pela melhora na fase final das Olimpíadas. Ainda que o elenco siga na história do voleibol, os anos posteriores não foram fáceis para a equipe, que mesmo com um título mundial em 2019 e a vitória da Liga das Nações em 2021, sofreu uma grande queda de rendimento e perdeu, pela primeira vez, o torneio sul-americano.
Se para Serginho, bicampeão olímpico, a final em 2016 junto a sua aposentadoria da seleção foi o melhor dos sonhos e para Lipe, Éder, William e Evandro puderam também decidiram parar de atuar pelo Brasil e seguir apenas a carreira por clubes após uma medalha de prata no Mundial, os jogadores que seguiram viveram momentos difíceis e quase como um pesadelo.
Entre os atletas que seguiram, Douglas Souza é o mais novo, porém recusa convocações desde a Olimpíada de Tóquio, quando optou que daria uma pausa por questões de saúde mental. O ponteiro, que chegou a ser chamado por Bernardinho na Liga das Nações deste ano, vê como encerrado o ciclo pela seleção e não espera um retorno.
Em situações mais problemáticas, Maurício Souza e Wallace fizeram publicações que culminou em punições para ambos no esporte. O central, após uma postagem homofóbica em 2021, teve seu contrato rescindido no Minas Tênis Clube e trocou o vôlei pela política, sendo eleito como deputado. Maurício já havia sido acusado de homofobia outras vezes, porém sem culminar em punições.
De crucial em 2016 para afastado do voleibol pelo Comitê Olímpico Brasileiro, Wallace postou uma enquete questionando quem daria um tiro no atual presidente Luís Inácio Lula da Silva, tendo inicialmente postado a foto de uma arma. Em abril de 2023, o jogador foi suspenso por 90 dias pelo Conselho de Ética do COB, mas pôde atuar nesse período após uma liminar do Superior Tribunal de Justiça Desportiva. Em maio, o COB ampliou a punição de 5 anos para o jogador e a perda de repasse de verbas para a Confederação Brasileira de Vôlei, não ocorrida após um acordo entre as partes. Wallace voltou às quadras pelo time mineiro, mas não pela seleção.
A situação de despedida, ainda que triste, foi mais tranquila para Maurício Borges. O ponteiro do Campinas chegou a voltar à seleção e atuou na Liga das Nações de 2024, mas foi cortado por Bernardinho na lista final das Olimpíadas, que seguia com três campeões olímpicos: Lucarelli, Bruninho e Lucão, questionados no ciclo, mas mantidos pelos treinadores Renan Dal Zotto e Bernardinho.
Com atuações abaixo do esperado e uma eliminação nas quartas de finais – inédita na carreira de Bernardinho, os três jogadores foram bastante criticados e estavam longe de sua melhor forma. Bruninho, chegou inclusive a perder a titularidade, garantida por mais de uma década para Fernando Cachopa, levantador que disputou sua segunda edição de Jogos Olímpicos. Capitão desde 2013, Bruno indicou, em entrevista, que a eliminação contra os Estados Unidos seria a sua última partida pela seleção. O jogador também fez um post bastante emocionante nas redes sociais.
Central conhecido por seus ataques fortes e velozes no chão. Lucão foi outro a anunciar a aposentadoria pelo Brasil, relatando a necessidade de ter um tempo de férias com a família, após 19 anos atuando por clube e seleção. Há a expectativa, mas ainda sem anúncio formalizado, de que Lucarelli seja o próximo e consequentemente, o último campeão olímpico de 2016, a deixar de atuar pela seleção brasileira.
Com a urgência de um melhor resultado na próxima edição da Olimpíada, é necessária e esperada uma reformulação. Sem mais campeões olímpicos, com a dúvida da permanência de Bernardo Rezende e uma jovem geração por vir, o Brasil pode ganhar uma nova cara para 2028.