Por Giovana Miranda

Em 1970, o Brasil vivia o auge da repressão da ditadura militar. Com a crescente repercussão do filme nas redes sociais, diferentes formas de recepção desse passado emergem — muitas delas, talvez, sem plena consciência do impacto real desse período.

Inspirado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, Ainda Estou Aqui narra a história de Eunice Paiva, mãe do escritor, em sua busca pelo marido, Rubens Paiva, sequestrado, torturado e morto pelo regime militar nos anos 1970, no Rio de Janeiro. Dirigido por Walter Salles, o longa traz Fernanda Torres, vencedora do Globo de Ouro de Melhor Atriz, no papel de Eunice, e Selton Mello como Rubens.

A ditadura militar marcou profundamente a sociedade brasileira, mas, à época, grande parte da população não se envolveu diretamente nos acontecimentos. Os mais atingidos foram parlamentares, jornalistas e opositores do regime, perseguidos, presos e mortos. Entre os casos mais emblemáticos está o de Vladimir Herzog, jornalista torturado e assassinado por lutar pela democracia.

As consequências, porém, não se limitaram aos opositores diretos. Famílias como os Paiva carregam as marcas desse período, lidando com a perda de entes queridos sob circunstâncias brutais — feridas que, mesmo com o tempo, seguem abertas.

Recepção e impacto na cultura brasileira

Apesar do peso da ditadura na história do país, muitos brasileiros, especialmente as novas gerações, desconhecem suas consequências. No entanto, a vitória de Fernanda Torres no Globo de Ouro como Melhor Atriz em Filme Dramático reacendeu o interesse pelo longa e intensificou a torcida na atual temporada de premiações cinematográficas.

O impacto da obra cresceu, gerando uma nova camada de comoção. Revisitar o passado por meio do cinema não é apenas relevante, é essencial. Em um cenário onde movimentos políticos extremistas ganham força e utilizam as redes sociais como ferramenta de influência, a arte se mantém como instrumento de memória e resistência.

A história do Brasil não se resume à ditadura, mas o olhar sensível de quem viveu suas consequências diretas pode levar o público a refletir sobre escolhas e posicionamentos. Ainda Estou Aqui traduz com delicadeza o luto e a dor de uma família que, por anos, permaneceu sem respostas sobre o destino de Rubens Paiva.

Com uma abordagem sensível e emocional, a obra permite que novas gerações compreendam as cicatrizes deixadas pelo regime e reconheçam a importância de preservar a memória histórica, criando uma conexão empática com os acontecimentos retratados no longa.

Texto produzido em colaboração a partir da Comunidade Cine NINJA. Seu conteúdo não expressa, necessariamente, a opinião oficial da Cine NINJA ou Mídia NINJA.