A duas semanas das eleições gerais no país, milhares de pessoas saíram às ruas em diversas cidades da Alemanha neste sábado (08) em protesto contra a ascensão da extrema direita, especialmente do partido Alternativa para a Alemanha (AfD).

Em Munique, mais de 250 mil pessoas protestaram sob o lema “A democracia precisa de você”. Grupos contra o extremismo de direita, como as “Avós contra a direita”, ajudaram a articular a mobilização.

Organizadores da iniciativa “Munique é colorida” explicaram que queriam enviar um sinal de diversidade, dignidade humana, solidariedade e democracia antes das eleições federais, que acontecerão em 23 de fevereiro.

No domingo passado, mais de 160 mil pessoas se reuniram no centro de Berlim, iniciando a recente onda de manifestações.

O principal motivo dos protestos foi a crescente aproximação entre a o partido União Democrata Cristã (CDU), liderada por Friedrich Merz, favorito na disputa a chanceler federal, e a AfD – partido com retórica nacionalista e postura anti-imigração.

No fim de janeiro, Merz contou com o apoio da AfD para aprovar uma moção no Bundestag, a câmara baixa do Parlamento alemão, propondo a ampliação das restrições à entrada de migrantes. Até então, o partido de ultradireita seguia isolado pelos demais membros do Bundestag. A medida desencadeou críticas de que Merz rompeu com esse compromisso.

Lideranças políticas também marcaram presença nos protestos. Em Hanover, o ministro da Defesa, Boris Pistorius, do Partido Social Democrata (SPD), falou, durante discurso, que a aproximação com a AfD foi uma quebra de tabu. “A porta da extrema direita deve permanecer fechada”, disse Pistorius.

Houve protestos em outras cidades alemãs, como Colônia, Leipzig e Berlim.

O chanceler federal Olaf Scholz apoiou os protestos e classificou as manifestações como um “forte símbolo de compromisso com a Constituição”.

Dedo mindinho
Enquanto pessoas iam para as ruas protestar contra a aproximação do centro com a ultradireita, o candidato a chanceler Friedrich Merz insistiu que seu partido não consideraria “nenhum tipo de cooperação, muito menos coalizão” com a AfD.

“Eu trairia a alma da CDU se estendesse a mão, mesmo com meu dedo mindinho, para esse tipo de política”, disse Merz a uma multidão, durante conferência da União Social Cristã (CSU), partido irmão na Baviera, na cidade de Nuremberg.

O líder da CDU também defendeu que uma vitória eleitoral seria a melhor maneira de conter a ascensão da AfD. A aliança CDU/CSU está à frente na maioria das pesquisas – em torno de 30% das intenções de voto.

Por que a AfD é vista como uma ameaça?

Os alemães vão às urnas a cada quatro anos para eleger os membros do Parlamento, que escolhem o chefe de governo da Alemanha.

A AfD atualmente ocupa o segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto, com cerca de 20% de apoio. Se os números se confirmarem, o partido irá aumentar sua influência na política nacional, com a segunda maior bancada do Bundestag. No último pleito, em setembro de 2021, o partido obteve 10% dos votos.

Assim como o recém-eleito presidente americano Donald Trump, o partido tem idéias ultranacionalistas, defende posições duras contra imigrantes e controle mais rígido de fronteiras. Uma parcela do partido já esteve sob observação da inteligência alemã por suspeita fundamentada de afronta à Constituição e à ordem democrática alemã.

Há um ano, membros do partido foram acusados de participar de um encontro com neonazistas na cidade de Potsdam, em que teria sido discutida a deportação em massa de milhões de imigrantes e “cidadãos não assimilados”. O episódio gerou forte indignação e ampliou as preocupações sobre o avanço de políticas ultranacionalistas no país.

Alguns membros da AfD fizeram declarações que relativizam crimes nazistas.

Em janeiro de 2025, por exemplo, durante uma conversa transmitida ao vivo com Elon Musk, a candidata a chanceler federal do partido, Alice Weidel, afirmou que Adolf Hitler era “comunista” e expressou opiniões que minimizavam o impacto do nazismo.