Projeto no Amazonas é alternativa para que jovens fiquem longe do garimpo
Garimpo passa a ser fonte de renda mais fácil e lucrativa em uma realidade onde o acesso à educação é dificultado por grandes distâncias
A pandemia e chuvas constantes trouxeram prejuízos para comunidades no Amazonas, ao ponto que muitas famílias mudaram a relação que mantinham com a natureza. Caso da comunidade Boa Esperança, localizada na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Rio Amapá, no município de Manicoré (AM). A dificuldade de subsistência fez com que muitas famílias que se dedicavam à agricultura e ao extrativismo, se vissem obrigadas a migrar para o garimpo ilegal. Em uma região onde chega pouca assistência, é a alternativa que encontraram.
Como por decreto, houve a suspensão da circulação de barcos no estado durante a pandemia, agricultores desistiram das plantações, pois não havia como escoar a produção. O aumento dos preços dos insumos de produção e fortes chuvas que acometem a Bacia Amazônica nos últimos anos – alagando a terra e impossibilitando a plantação e o roçado -, agravaram a situação.
Nesse cenário, um projeto da Fundação Amazônia Sustentável (FAS) chegou como uma alternativa, principalmente, para os jovens. Reportagem de o site O Eco destaca que a iniciativa tem possibilitado que muitas famílias se mantenham distantes do garimpo. Trata-se do “Solar Community Hub” (SCH – Centro Comunitário Solar, em tradução livre), lançado no dia 15 de março de 2022 pela FAS, em parceria com a empresa de tecnologia Dell.
O projeto vem suprir uma dificuldade comum aos moradores de comunidades rurais da Amazônia, que é de conseguirem estudar, atendimento de saúde ou treinamento profissional. Muitos, acabam por renunciar aos estudos. Indiretamente, esses desafios contribuem para o desmatamento ou mineração ilegal, pois são fontes de renda que se mostram mais fáceis e lucrativos.
O coordenador de Monitoramento Ambiental da FAS, Marilson Silva, diz que os desafios de educação e emprego na região podem tornar as atividades de mineração ilegal e desmatamento mais atraentes. “É uma alternativa fácil de ganhar para os jovens”, diz ele. A falta de oportunidades de ensino a distância, cursos de aperfeiçoamento e treinamento para novos empregos deixa poucas opções para as comunidades indígenas. Há também um monitoramento ambiental limitado e pouca informação sobre a importância da conservação e dos recursos sustentáveis.
Novas perspectivas
É essa realidade que o projeto pretende mudar. Em entrevista ao site da Dell, a diretora do projeto na comunidade, Luziete Mar, disse que o centro de internet está entregando educação digital para a Amazônia.
“O projeto está beneficiando muitos jovens com a oportunidade de participar de cursos superiores e profissionalizantes e prepará-los para o mercado de trabalho”, afirma. “Além disso, tem ajudado muitos membros da comunidade, principalmente nas áreas educacional e de empregabilidade.”
Os Solar Community Hubs são construídos para apoiar uma economia circular. São feitos de contêineres reformados que, de outra forma, seriam sucateados. Estas estruturas utilizam tecnologia energética de baixo consumo e painéis solares como fonte de energia. Uma vez instalados, os SCHs funcionam com energia renovável. No caso da região amazônica, madeira e móveis de origem sustentável também estão sendo utilizados. Os painéis solares permitem que cada local funcione com energia renovável.
Silva destaca que o acesso a computadores e internet, abriu um mundo de oportunidades para os moradores da região. Além da educação por meio de aulas de informática e acesso a cursos online, os alunos recebem capacitação para conseguirem oportunidades no mercado de trabalho. E, como parte das iniciativas da FAS, eles facilitam o treinamento e monitoramento ambiental, o que incentiva os membros da comunidade local a registrar e comunicar informações sobre o uso da floresta na área.
Luziete destaca que o centro da FAS, em parceria com a Dell, está proporcionando a uma nova geração de moradores da Amazônia, ferramentas e novos caminhos para o futuro. “Eles estão fazendo cursos a distância e não precisam se deslocar de suas comunidades e residências para a cidade para isso.”
Notavelmente, o projeto Brasil só pode existir na região se os moradores concordarem com os termos do programa Bolsa Floresta, uma iniciativa do governo que visa diminuir o desmatamento por meio da construção da comunidade.
“As famílias entendem que os projetos chegam até elas porque cumprem as regras, como não realizar o desmatamento”, relata Silva. Os moradores também devem colher outros recursos florestais de maneira que não comprometa a resiliência da floresta.
O resultado é um efeito de círculo completo: o SCH ajuda a melhorar a vida das pessoas que vivem na Amazônia e, ao fazê-lo, o SCH ajuda a cultivar uma relação mais sustentável entre a floresta tropical e seus moradores. Mais impactante, este centro único transforma vidas e permite que os membros da comunidade vivam e trabalhem na região por gerações.