Professor é afastado após usar charge em sala de aula
Professor é afastado de colégio no interior do Rio de Janeiro após utilizar charge com presidente Jair Bolsonaro em sala de aula.
Por Mariana Gama
Na última semana, o professor Marcos Antônio Tavares, 45 anos, foi afastado da escola onde trabalha após aplicar uma atividade pedagógica para alunos do 3º ano do ensino médio. Ele lecionava aulas de português e literatura no colégio Liceu da Humanidade de Campos, em Campos dos Goytacazes (RJ). Na segunda-feira, 18, o professor usou uma charge para incentivar a livre interpretação crítica, como o ENEM utiliza em suas provas, e a atividade foi repassada por um dos alunos e postado nas redes sociais, distorcendo a proposta de Marcos Antônio. A charge trazia os presidentes Jair Bolsonaro e Donald Trump, respectivamente do Brasil e EUA, envoltos juntos em lençóis e uma legenda sobre patriotismo.
“Sempre usei charges para trabalhar em sala de aula. Não existe doutrinação nenhuma”, disse o professor. O afastamento foi informado pela diretora do colégio na sexta-feira, 22, sob justificativa de um pedido do governador do Estado do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, para “acalmar os ânimos”. No mesmo dia, a Comissão de Educação da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), junto ao deputado Flavio Serafini, recebeu o professor para descrever e reportar a situação. Marcos ainda relatou a grande manifestação de ódio que está sofrendo na internet. “Vivi um dia de terror” disse o professor.
Desde que surgiu como proposta em 2016, o projeto conhecido como “Escola sem Partido” levanta o debate sobre a pluralidade de ideias e concepção pedagógica nas escolas e universidades, que é previsto pela Constituição mas é colocado como doutrinação por partidos e entidades conservadoras.
’Escola sem Partido’ é um disfarce conservador para ‘escola do meu partido e minha igreja”, diz o filósofo Leandro Karnal.
Na segunda, 25, o professor foi à delegacia de crimes virtuais para reportar o linchamento virtual que vem sofrendo. Em defesa da liberdade pedagógica e do professor, alunos do Liceu realizaram um ato na terça-feira, 26, em frente à escola.
O cartunista e autor da charge usada na atividade, Vitor Teixeira, 32 anos, também foi alvo de perseguição na internet. Cerca de um mês atrás sua conta no Instagram, onde expõe seu trabalho, foi tirada do ar, sob alegação de que era uma conta falsa. Vitor entrou com um processo contra o Facebook, empresa dona do Instagram.
“Acho que isto é um aperitivo do que eles querem colocar como escola sem partido” disse Vitor para Mídia Ninja.