Produtor de café “sustentável” é autuado por trabalho análogo à escravidão em Minas Gerais
Os fiscais afirmam que até o resgate no dia 06 de julho os trabalhadores não haviam recebido salários
Por Maria Vitória de Moura
Segundo o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), uma fiscalização do Grupo Especial de Fiscalização Móvel do órgão resgatou na última colheita de café em Minas Gerais, em julho do ano passado, sete trabalhadores em condições análogas à escravidão, sendo três mulheres e quatro homens.
A fiscalização foi feita em uma propriedade da empresa Fazendas Klem Importação e Exportação de Cafés em Manhumirim, na Zona da Mata, em Minas Gerais. Após o resgate, durante audiência no Ministério do Trabalho e Emprego, o proprietário das Fazendas Klem, Cesar Viana Klem, pagou os atrasados aos trabalhadores resgatados, que retornaram para a Bahia.
Depoimentos dos sete trabalhadores e trabalhadoras aos fiscais mostram a situação precária pela qual passaram os trabalhadores. Segundo os relatos, não havia banheiro com descarga, o esgoto corria a céu aberto próximo à casa em que foram colocados. Também não lhes era fornecidas ferramentas, material de proteção e de abrigo para alimentação quando estavam na lavoura.
“A moradia estava completamente suja; não eram fornecidas roupas de cama, não havia local para tomada de refeições, lavanderia para higienização das roupas e objetos de uso pessoal. As refeições preparadas pelos próprios trabalhadores eram realizadas no alojamento que não possuía condições de conservação, asseio, higiene e segurança”, aponta relatório da fiscalização.
Os trabalhadores, todos de Caetanos, região centro-sul da Bahia, chegou a Manhumirim na madrugada do dia 20 de junho de 2022. Os fiscais afirmam que até o resgate no dia 06 de julho não houve pagamento de salários aos trabalhadores.
A Fazendas Klem estava dentro de um seleto grupo de produtores de café no Brasil que ostenta o selo Rainforest Alliance, uma ONG com atuação em todo o mundo que atesta a sustentabilidade de produtores agrícolas. Utilizando selos como “gourmet”, “premium” e “especial” o café produzido pela empresa é vendido a preços altos nos supermercados, chegando a R$ 112 o quilo.
A Rainforest Alliance, que afirma em seu site que seus selos representam “que o produto (ou um ingrediente específico) foi produzido por agricultores, silvicultores, e/ou empresas trabalhando em conjunto para criar um mundo onde as pessoas e a natureza prosperam em harmonia”, informou que a empresa Fazendas Klein não conta mais com a certificação sustentável.