A iniciativa do CEERT celebra 20 anos valorizando educadores e escolas de todo o Brasil

Projeto premiado que envolve cultura negra e indígena no Distrito Federal

A inovação pedagógica antirracista e pela equidade de gênero garantiu a 16 iniciativas das cinco regiões do Brasil a condição de finalistas da 8ª edição do ‘Prêmio Educar para Equidade Racial e de Gênero’. A homenagem integra a programação do encontro ‘Diálogos para uma Educação Antirracista’, que acontece nos dias 19 e 20 de outubro, no Sesc Vila Mariana, em São Paulo. Além da premiação, o evento terá em sua programação oficinas de intercâmbio entre educadores, pesquisadores, organizações parceiras e lideranças negras, para debater os estudos e práticas antirracistas e de equidade de gênero na educação básica.

O encontro proporciona a troca de experiências por meio da socialização e debates de resultados de pesquisas e de projetos exitosos de ação pedagógica antirracista intercultural impulsionados pelo Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT) e aplicados nas escolas das redes públicas de ensino. Na noite do dia 19 serão anunciados os premiados da 8a edição do Prêmio Educar com Equidade Racial e de Gênero: experiências de gestão e práticas pedagógicas antirracistas em ambiente escolar. Para assistir à premiação é necessário se inscrever pelo site da instituição. Serão 16 práticas premiadas nas categorias Professor e Escola, que se destacaram dentre as 700 inscrições das cinco regiões do país. Os premiados receberão aporte financeiro, materiais didáticos, formação aos professores e equipamentos para a escola. As práticas finalistas e premiadas serão organizadas em uma publicação de referência em educação antirracista.

A premiação ocorrerá nas comemorações dos 20 anos da iniciativa pioneira que tem como finalidade identificar, apoiar e disseminar boas práticas pedagógicas e de gestão escolar antirracistas em todo o Brasil. O prêmio reitera a garantia da concretização do direito ao pleno desenvolvimento escolar de crianças, adolescentes e jovens negros (as), brancos (as), indígenas, quilombolas e de outros grupos étnico-raciais.

Premiados 2022 e seus legados

Com um total de três finalistas da Bahia, a cidade de Salvador se destacou com os projetos: ‘O que há de América em nós’, da Escola Maria Felipa e o ‘Núcleo de Empoderamento, Linguagem e Tecnologia’, do Colégio Estadual General Dionísio Cerqueira. Também da Bahia, da cidade de Lauro de Freitas, o projeto ‘Caminhos Afirmativos para uma Educação Antirracista na Educação de Jovens e Adultos’ da Escola Municipal Jacira Fernandes Mendes foi mais um dos projetos baianos aprovado pelo júri de especialistas do CEERT.

O estado de Minas Gerais tem quatro práticas premiadas, todas da capital Belo Horizonte. São elas: ‘Promoção da Igualdade Racial’, da Escola Municipal Anne Frank; ‘Contos e Dengos por Uma Formação Identitária Positiva’, da Escola Municipal de Educação infantil Itamarati; ‘A Literatura Escrita por Mulheres Negras: uma experiência de leitura na alfabetização’, da Escola Municipal Florestan Fernandes e o ‘Projeto Intercâmbio Raízes Angola Brasil’, das Escola Municipal Lídia Angélica (Brasil) e do Instituto Politécnico Edik Ramon (Angola). Representando a região Centro-Oeste do Brasil, da cidade de São Sebastião, no Distrito Federal, o premiado foi o ‘Projeto e Festival da Valorização da Cultura Afro-Brasileira e Indígena: A equidade nas diferenças’, do Centro de Educação Infantil I de São Sebastião.

Do Norte do país, da cidade de Bujara, no Pará, o projeto selecionado foi o ‘Afrobetizando alunos para a construção de sua Cultura e Identidade’, da Escola Municipal de Ensino Fundamental São Judas Tadeu. A proposta nortista é desenvolver ações que permeiam as características étnicas e culturais dos diversos grupos sociais do povo brasileiro, assim como também as desigualdades socioeconômicas e a abordagem crítica sobre as relações sociais discriminatórias e excludentes, agregando ações relativas à diversidade, visando a inclusão das temáticas étnico-raciais no currículo escolar.

Com a terceira maior população negra do Brasil, o estado do Maranhão ganhou destaque na premiação ao abordar a temática sobre o desdobramento da cultura da resistência negra nos quilombos. O projeto ‘Intercâmbio e Cultura: uma análise entre os Quilombos Damásio e Liberdade (MA), do Instituto Estadual de Educação Ciência e Tecnologia do Maranhão (Unidade Plena Itaqui-Bacanga) visa impactar positivamente na autoestima dos estudantes quilombolas da unidade de ensino. A ideia é resgatar, valorizar e disseminar conhecimentos a respeito da cultura dos povos quilombolas.

Da fronteira com a Argentina e o Uruguai, no extremo Sul do Brasil, as cidades de Porto Alegre e Triunfo no Rio Grande do Sul, tiveram selecionados os projetos ‘Akotirene Kilombo Ciência’, que já foram aplicados em escolas da região. O projeto tem como proposta elencar práticas pedagógicas inspiradas na matriz africana, unindo saberes diferentes para formação de seres humanos, além de incentivar estudantes negros e negras nas ciências exatas.

O estado do Espírito Santo emplacou dois projetos de cidades distintas nesta edição do Prêmio Educar. O primeiro é de Vargem Alta, a 136 quilômetros da capital Vitória, intitulado ‘No Chão da Escola Quilombo: o (re)significar do projeto político pedagógico da Escola Municipal de Educação Básica Pedra Branca- Vargem Alta. Já o segundo projeto ‘Malizeck da Diversidade’ vem da Escola UMEF Professor Luíz Malizeck, da cidade de Vila Velha.

Encerrando a lista dos premiados, três vencedores do estado de São Paulo. O primeiro é o projeto ‘Resgatando identidades: o Dia da Consciência Negra e o papel do negro na construção do Brasil’, da Escola Profª Joana de Aguirre Marins Peixoto, da cidade de Monte Mor, município que integra a região metropolitana de Campinas. O segundo projeto aprovado foi o ‘Agenda Antirracista’, da cidade de São Vicente. O último projeto vem da capital paulista: ‘Mulheres negras, símbolo de luta e resistência, uma fonte de inspiração’.

Educação e inovação de mãos dadas

O CEERT, por meio do Prêmio Educar, gera oportunidades de valorização e reconhecimento dos educadores do Brasil, que driblaram as situações adversas e apresentaram propostas inovadoras na educação.

A qualidade técnica e inovadora dos projetos submetidos às análises do júri do Prêmio Educar de 2022 é avalizada pelo especialista na temática, geógrafo e educador Billy Malachias. “Podemos observar que há experiências em todo país que, sem a dependência de verba pública, conseguem implementar a Cultura Afro na sala de aula de forma natural e bem aceita. Esses educadores conseguiram elevar seus projetos ao cenário nacional por meio de metodologias inovadoras e aplicáveis. Os profissionais e gestores da educação básica de todo o país criaram estratégias para oferecer uma educação de qualidade mesmo em condições tão adversas”, avaliou.

O educador reforça que os objetivos do Prêmio Educar 2022 é conhecer melhor esse fazer da gestão escolar, assim como o fazer das práticas pedagógicas antirracistas desenvolvidas durante o período mais agudo de isolamento social, com o objetivo de apoiá-las e difundi-las para que se tornem força inspiradora de novas iniciativas.

20 anos do Prêmio Educar

O Prêmio Educar surgiu em 2002, de forma pioneira, a partir de debates promovidos no CEERT desde 2000, se transformando na atual representatividade que o prêmio tem para o país. A premiação surgiu antes mesmo da implementação das Leis 10.639/2003 e 11.645/2008 que alteram a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB 9.394/96) para incluir a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura africana, afro-brasileira e indígena, nas escolas de todo o país.

O diretor executivo do CEERT, Daniel Teixeira, reforça que a instituição do Prêmio foi fundamental para a contribuição do CEERT na luta antirracista no Brasil. “O ensino é um lugar de mobilidade social, mas também sempre foi um espaço de reprodução dos preconceitos. Alterar esse cenário é uma responsabilidade de todos nós, principalmente dos educadores e gestores da educação pública”, avaliou.

O diretor executivo do CEERT reitera que a criação do Prêmio surge, antes mesmo da lei, para identificar qual método os professores aplicavam para o enfrentamento do racismo. “Depois da criação da Lei, a citação a ela no projeto passou a ser um dos critérios de avaliação. A homenagem a estes educadores é fundamental como reconhecimento de seu papel na efetivação do direito humano à educação a partir de uma premissa básica que é a equidade.”.

Temática e dinâmica do encontro

A programação orienta-se pelas abordagens temáticas da educação com equidade racial, antirracista intercultural, propostas na síntese das pesquisas do Edital – educação da infância (educação infantil e ensino fundamental I); educação da adolescência e juventude (ensino fundamental II e ensino médio); e educação escolar quilombola – e será dinamizada em rodas de conversa e debates; além de mesas temáticas com enfoque no programa Prosseguir e no edital Equidade Racial na Educação Básica, ambas iniciativas do CEERT também no campo da educação antirracista; além disso, haverá atividades culturais como exposições e shows artísticos.

As conversas em cada um dos espaços organizados por abordagem da temática (Infância; Adolescência e Juventude; Educação Escolar Quilombola) partem da apresentação pelos professores (as) dos resumos das suas práticas e/ou projetos premiados na 8ª edição do Prêmio Educar; seguida da apresentação dos resumos das pesquisas do Edital concluídas em 2022, por seus/suas coordenadores (as).

Cada grupo de conversa será composto pelos professores (as) e gestores (as) dos projetos/práticas e escolas finalistas na respectiva modalidade de ensino; pelos (as) pesquisadores coordenadores e supervisores das pesquisas com foco de intervenção na respectiva abordagem temática; e representantes convidados (as). A mediação dos diálogos será conduzida por pesquisador (a) da Rede ANANSI de pesquisadores (as) e/ou convidado (a) e acompanhada por colaborador (a) do CEERT.

Práticas e projetos pedagógicos

As práticas pedagógicas e projetos de gestão da escola apresentados são finalistas do Prêmio Educar com Equidade Racial e de Gênero. A iniciativa pioneira está completando 20 anos e tem como objetivos identificar, apoiar e difundir boas práticas pedagógicas e de gestão escolar que promovam a equidade racial e de gênero, com vistas a concretizar com qualidade o direito ao pleno desenvolvimento escolar de crianças, adolescentes e jovens negros (as), brancos (as), indígenas e de outros grupos étnico-raciais.

Pesquisas

O Edital Equidade Racial na Educação Básica teve execução exitosa dos 15 projetos de pesquisas aplicadas contemplados, distribuídos nas diferentes etapas da educação básica nas cinco regiões do país, sendo 12 deles desenvolvidos por mulheres e cinco atuando na temática quilombola.

As pesquisas que serão objeto dos diálogos entre professores (as) e pesquisadores nas rodas de conversa resultam do Edital Equidade Racial na Educação Básica, que teve o objetivo de selecionar e apoiar pesquisas aplicadas, bem como premiar artigos que apontam soluções para os desafios da construção da equidade racial na Educação Básica no Brasil.

Tecnologias

O Observatório ANANSI visa contribuir no monitoramento e controle social da Lei 10.639/2003 e incidir nas pautas das políticas públicas de educação a partir da produção, divulgação e compartilhamento de conteúdos, tecnologias e materiais, com a finalidade de subsidiar a construção da equidade racial na educação brasileira. No eixo Tecnologia, o ANANSI implementa a Tecnologia de Gestão da da Educação para Equidade Racial, com percursos formativos gratuitos e a distância para profissionais das redes de ensino, a partir do fortalecimento das secretarias municipais de educação.

Prosseguir

O programa Prosseguir une educação e área de trabalho. A iniciativa tem o objetivo de desenvolver futuras lideranças negras, apoiando a juventude negra em vulnerabilidade socioeconômica nas regiões metropolitanas de São Paulo e Salvador e Rio de Janeiro, por meio de estratégias de fortalecimento e permanência acadêmica, além de estabelecer diálogos e pontes com o mundo do trabalho.

O Programa oferece 90 bolsas no valor de R$ 700 reais por mês, além de uma formação extracurricular para o desenvolvimento de habilidades socioemocionais, capacidade de liderança, preparação para o trabalho, relações raciais e aulas de inglês. Nessa reunião os debates serão atravessados pelas reflexões da juventude negra, a partir dos relatos dos participantes presentes.

CEERT 32 ANOS – 1990/2022

O Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT), organização da sociedade civil, desde a década de 1990, atua nas articulações do movimento social na defesa dos direitos e demandas da população negra, em especial, por uma educação pública com equidade racial e antirracista na infância e juventude, bem como nas lutas das mulheres negras. Nessa trajetória de 32 anos realizou relevantes intervenções com programas de promoção da equidade racial e de gênero, em instituições públicas e privadas, por meio de projetos nas áreas de trabalho, educação, justiça racial e juventude.