A potente trajetória brasileira na história dos Jogos Paralímpicos
Leis de incentivo, DNA paralímpico, multi-medalhistas são pontos a destacar no sucesso do paradesporto brasileiro.
Por Laura Dozza Reis, para Cobertura Colaborativa Paris 2024
O Brasil é uma verdadeira potência paralímpica. Em Tóquio, o país conquistou 72 medalhas, e este ano contamos com a maior delegação da nossa história fora do território brasileiro, sendo a segunda maior de Paris 2024, atrás apenas da China. Mas de onde vem essa trajetória vitoriosa?
A primeira participação brasileira nos Jogos Paralímpicos foi em Heidelberg, na então Alemanha Ocidental, em 1972, mas a primeira medalha veio quatro anos depois, nos Jogos de Toronto 1976. A única edição sem medalhas foi em Arnhem 1980. Desde então, a delegação brasileira subiu ao pódio em todas as edições, acumulando até o momento 109 ouros, 132 pratas e 132 bronzes – números que ainda não incluem as medalhas de Paris 2024.
Desde Pequim 2008, o Brasil figura entre os dez primeiros colocados no quadro de medalhas, e alguns fatores contribuem para essas conquistas. Um exemplo é a Lei Piva, uma das principais fontes de renda do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB). Desde 2003, parte do dinheiro das Loterias Federais é destinada ao CPB, e os resultados logo começaram a aparecer: já no ano seguinte, o Brasil entrou no top 15 do quadro de medalhas, e, como mencionado, desde 2008, permanecemos no top 10.
Além disso, em 2015, foi inaugurado o Centro de Treinamento Paralímpico em São Paulo, o maior legado esportivo da Rio 2016. Com uma estrutura de ponta de 95 mil metros quadrados, o centro oferece instalações para diversas modalidades, tecnologia de última geração e é acessível à população.
DNA Paralímpico
Outro destaque é o que podemos chamar de “DNA paralímpico” brasileiro. Nossos paratletas se destacam em várias modalidades adaptadas. O sistema de classificação paralímpico e as subdivisões das categorias aumentam não apenas o número de eventos, mas também as chances de medalhas e a oportunidade para “multi-medalhistas”.
Entre os paratletas brasileiros, temos exemplos como Clodoaldo Silva, que conquistou seis ouros em Atenas 2004. André Brasil e Daniel Dias levaram quatro ouros cada um em Pequim 2008. Em Londres 2012, Daniel Dias conquistou seis títulos, e na Rio 2016, subiu ao lugar mais alto do pódio quatro vezes. Já em Tóquio 2020, Maria Carolina Santiago ganhou três ouros, uma prata e um bronze, tornando-se a mulher brasileira mais premiada em uma edição dos Jogos.
O Brasil se destaca não apenas pelo número significativo de paratletas que conquistaram múltiplas medalhas, mas também pela sua capacidade de se diversificar em várias modalidades. Enquanto a natação e o atletismo continuam a ser os carros-chefe, impulsionando o país ao topo do quadro de medalhas, outras modalidades têm ganhado espaço e visibilidade. Esportes como judô, bocha, parataekwondo, tênis de mesa, além dos coletivos, como futebol de 5 e goalball, têm se consolidado com a presença de brasileiros no pódio, demonstrando a amplitude e o talento da delegação nacional.
No judô, o Brasil tem uma tradição de conquistas, com atletas como Antônio Tenório, que acumulou quatro ouros em edições anteriores dos Jogos Paralímpicos. Na bocha, o país também brilhou, especialmente com Dirceu Pinto e Eliseu dos Santos, que conquistaram medalhas de ouro em mais de uma edição. O parataekwondo, estreante nos Jogos de Tóquio 2020, já trouxe resultados promissores, com medalhas que mostram o potencial da modalidade para o Brasil. No tênis de mesa, figuras como Israel Stroh e Bruna Alexandre têm se destacado tanto em competições individuais quanto em duplas, levando o país ao pódio em várias edições.
Os esportes coletivos, como futebol de 5 e goalball, são outros pontos fortes da delegação brasileira. O futebol de 5, em especial, tem sido uma verdadeira potência, com o Brasil conquistando o ouro em todas as edições desde que a modalidade foi introduzida em Atenas 2004. O goalball, por sua vez, trouxe ao Brasil o ouro inédito na Rio 2016, consolidando-se como um dos esportes mais emocionantes e competitivos do programa paralímpico.
Apesar dos resultados expressivos, o crescimento do esporte paralímpico brasileiro depende, em grande parte, de uma maior visibilidade para essas modalidades e suas competições. A cobertura midiática, o apoio de patrocinadores, e a inclusão de mais eventos no calendário esportivo são fundamentais para que o esporte paralímpico alcance novos patamares e continue a inspirar futuras gerações de atletas e espectadores. Expandir a conscientização e o interesse do público não só ajudará a revelar novos talentos, mas também a fortalecer o movimento paralímpico como um todo, garantindo que o Brasil continue a ser uma potência global nos Jogos Paralímpicos.