Por Marilda Campbell

“Por Trás da Linha de Escudos” aborda a questão da segurança pública no Brasil, assumindo uma postura crítica sobre o caráter militar da polícia. O documentário sugere que, ao atribuir à polícia a lógica de um exército, o Estado implementa um aparato de violência voltado ao controle de parcela da população, que é tratada como inimiga.

Não por acaso, esse setor da população corresponde às camadas periféricas, não-brancas, historicamente desprovidas de direitos. Ao levantar a bandeira da desmilitarização da polícia, o filme se alinha à luta histórica de movimentos em defesa da justiça social.

O documentário, dirigido por Marcelo Pedroso, estreou em Maceió no dia 6 de julho, no Centro Cultural Arte Pajuçara; e chega em Porto Alegre nesta quinta-feira, 13 de julho, na Cinemateca Capitólio.

“Por Trás da Linha de Escudos” segue em cartaz no Cinema Dragão do Mar, em Fortaleza, e no Cinema do Museu/Fundação Joaquim Nabuco, em Recife.

Foto: Reprodução/Símio e Vilarejo Filmes

Pedroso apresentou pela primeira vez “Por Trás da Linha de Escudos” nos Festivais de Cinema de Cachoeira (BA) e de Brasília (DF), ambos em 2017. Nessas ocasiões, o documentário foi recebido pelo público de forma crítica, levando a equipe realizadora a retirar o título de circulação. “Diante do momento histórico que estávamos vivendo, nos pareceu impossível continuar veiculando aquele filme”, afirma o diretor.

O longa teve como ponto de partida os embates entre a Polícia Militar de Pernambuco e os ativistas do Movimento Ocupe Estelita (MOE), do qual Pedroso fez parte. O uso de força durante a reintegração de posse, com uso de spray de pimenta, gás lacrimogêneo e balas de borracha, ficou marcado na história da militância pelo direito à cidade, no Recife.

A equipe de produção do filme conseguiu acesso ao Batalhão de Choque da Polícia Militar (BPChoque) de Pernambuco para filmagem.

O BPChoque foi criado em 1980 com o objetivo de controlar distúrbios civis, rebeliões em estabelecimentos prisionais, garantir a segurança em estádios desportivos e em eventos com multidões. No documentário, o diretor e sua equipe acompanharam algumas operações de rotina, registraram o interior da corporação e os treinamentos no Batalhão.

A pesquisa para realização do filme começou em maio de 2016 e as filmagens aconteceram entre agosto e setembro. Era um período bastante simbólico para o Brasil por conta do golpe contra a ex-presidenta Dilma Rousseff. A nova versão de “Por Trás da Linha de Escudos” utiliza parte desse material e comenta a própria feitura do documentário, seus dilemas e contradições.

Marcelo Pedroso

Trabalhando na área do audiovisual há quase 20 anos, Marcelo Pedroso é cofundador da produtora de cinema recifense Símio Filmes. Entre as obras que realizou estão os longas-metragens “Brasil S/A” (2014), premiado como Melhor Roteiro e Melhor Direção no Festival de Brasília; “Pacific” (2009), Melhor Longa no Cine Esquema Novo; “KFZ-1348” (2008), que recebeu o Prêmio do Júri da Mostra de São Paulo; e os curtas-metragens “Câmara Escura” (2012), eleito o Melhor Filme no Curta Cinema, no Rio de Janeiro; e “Corpo Presente” (2011), Melhor Montagem na Mostra de Londrina.

A produção de “Por Trás da Linha de Escudos ” é assinada por Kika Latache e Lívia de Melo, com fotografia de Luís Henrique Leal, som direto de Rafael Travassos e direção de arte de Carlota Pereira. O documentário teve financiamento do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), Ancine, BRDE e do Governo do Estado de Pernambuco, através do Funcultura – 8° Edital do Programa de Fomento à Produção Audiovisual de Pernambuco.

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