Por que os filmes estão ficando menos tempo nos cinemas?
A principal janela de comercialização dos filmes ainda luta para recuperar seu público após a pandemia, mas os estúdios têm diminuído o período de lançamento dos seus títulos
Por Victor Meira
A pandemia de Covid-19 mudou a forma como o público consome conteúdo audiovisual. Antes, o streaming já estava em alta com seus catálogos extensos e preços atrativos, mas, após 2020, a situação mudou drasticamente. Os lançamentos começaram a chegar direto para o streaming ou aluguel digital, sendo a única forma de assisti-los. Essa prática pode ter acostumado o público a esperar que os filmes cheguem rapidamente às telas de suas casas. Em meio ao cenário de recuperação do cinema, os títulos ficam cada vez menos tempo nas salas de exibição, pois precisam estrear logo no digital.
Essa tendência pode ser notada em grandes lançamentos deste ano. “O Dublê”, estrelado por Ryan Gosling e Emily Blunt, estreou nos Estados Unidos em 3 de maio e ficou disponível para aluguel digital no dia 21 do mesmo mês. Menos de três semanas para atrair o público às salas de cinema.
Outro exemplo é “Um Lugar Silencioso: Dia Um”, que chegou às telonas em 28 de junho e está previsto para ser lançado no digital em 30 de julho. Antes da pandemia, a maioria dos lançamentos tinha uma janela de no mínimo 90 dias nos cinemas. Alguns estúdios ainda mantêm essa estratégia.
“Divertidamente 2”, que recentemente se tornou o filme de maior bilheteria no Brasil, terá uma janela de 100 dias antes de sair para aluguel digital. Embora essa seja a expectativa, o sucesso do filme pode confirmar sua longevidade nas salas.
Segundo o analista de mídia da Comscore, Paul Dergarabedian, a janela curta do cinema não foi tão prejudicial para os donos das redes de cinema como se esperava. No entanto, a ideia de que um filme pode chegar muito rápido para o aluguel digital pode prejudicar sua performance nas bilheterias, se causar a sensação de que vale a pena esperar poucas semanas para assisti-lo em casa.
“Contudo, cada filme tem seu próprio apelo demográfico único e atrativo, e houve muitos casos em que filmes tiveram janelas reduzidas, mas os espectadores ainda optaram pela experiência no cinema”, contou Dergarabedian ao Digital Spy.
Cenário brasileiro
No mercado brasileiro, outros fatores permeiam a discussão. A chegada de um filme ao digital também pode facilitar a pirataria. Segundo uma matéria do Metrópoles, essa prática está em alta no país novamente.
“É urgente a ampliação do combate à pirataria. A indústria audiovisual como um todo sofre demais com isso. O parque exibidor, especificamente, é bastante afetado. O único momento em que os cinemas rentabilizam é quando o filme está em cartaz e ter, simultaneamente, esses conteúdos à disposição de forma ilegal na internet prejudica a adesão do público e traz grandes prejuízos”, comenta Marcos Barros, presidente da Abraplex, para o jornal Metrópoles.