A espionagem internacional tem sido cada vez mais recorrente entre nações, mas a vigilância dos Estados Unidos sobre líderes sul-americanos levanta questões sérias sobre soberania e direitos humanos. Revelações recentes mostram que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi alvo de monitoramento pelo governo dos Estados Unidos por 53 anos. Documentos obtidos pelo escritor Fernando Morais, autor da biografia de Lula, revelam que pelo menos 819 registros foram produzidos sobre sua vida e atividades políticas.

Monitoramento de Lula: um esforço prolongado

O monitoramento de Lula iniciou em 1966, quando ele era líder sindical dos metalúrgicos em São Paulo, e continuou até 2019, enquanto ele ainda estava preso. A maior parte dos documentos, totalizando 613 registros em 2 mil páginas, foi elaborada pela Central de Inteligência Americana (CIA). Os registros detalham a relação de Lula com a ex-presidente Dilma Rousseff, também alvo de grampos, conforme vazamentos do WikiLeaks em 2015 por Julian Assange. Além disso, os documentos revelam interesse dos EUA na proximidade de Lula com autoridades do Oriente Médio e da China, bem como nos planos militares brasileiros e na produção da Petrobras.

“Fui procurar procurações para recolher todos os registros existentes nas agências em nome dele enquanto o presidente ainda estava preso”, disse Morais à Folha de S. Paulo. Ele compilou 111 relatórios do Departamento de Estado, 49 da Agência de Inteligência da Defesa, 27 do Departamento de Defesa, 8 do Exército Sul dos Estados Unidos e 1 do Comando Cibernético do Exército.

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Espionagem de Dilma: um caso reincidente

Esta não é a primeira vez que a espionagem norte-americana sobre líderes políticos brasileiros vem à tona. Desde 2013, foram reveladas ações de monitoramento da Agência Nacional de Segurança (NSA) sobre a ex-presidenta Dilma, com base em documentos obtidos por Glenn Greenwald, fundador do site The Intercept. O WikiLeaks também divulgou o monitoramento frequente de telefones de membros e ex-integrantes do governo Dilma.

Evo Morales e outros líderes sob vigilância

A vigilância não se limitou ao Brasil. Outros líderes sul-americanos, como o ex-presidente boliviano Evo Morales, também foram alvos da espionagem dos EUA. Documentos divulgados pelo WikiLeaks e por outras fontes indicam que a CIA e outras agências de inteligência americanas monitoraram de perto as atividades de Morales, especialmente devido à sua retórica anti-imperialista e suas políticas de nacionalização dos recursos naturais.

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Por que os EUA nunca são punidos?

A pergunta que se impõe é: por que os EUA nunca são punidos por essas ações de espionagem? Vários fatores contribuem para essa impunidade. Primeiro, a posição dos Estados Unidos como uma superpotência global lhes confere uma certa imunidade às repercussões internacionais. Segundo, muitos países dependem economicamente e militarmente dos EUA, o que dificulta a imposição de sanções ou outras formas de punição. Além disso, a falta de um mecanismo internacional eficaz para responsabilizar países por espionagem contribui para essa impunidade.

Conclusão

As revelações sobre a espionagem dos Estados Unidos sobre Lula, Dilma e outros líderes sul-americanos sublinham a necessidade de uma maior transparência e responsabilização nas relações internacionais. A vigilância contínua sem consequências só perpetua um ciclo de desconfiança e violações de soberania, prejudicando a cooperação e a paz global.