Por Laura Dozza Reis, para Cobertura Colaborativa Paris 2024

Até 2011, no Brasil, as competições eram chamadas oficialmente de “Paraolimpíada” ou “Jogos Paraolímpicos” e os participantes eram conhecidos como “atletas paraolímpicos”. Porém, após os Pan-Americanos de Guadalajara, o Comitê Paralímpico Internacional (CPI) determinou que todos os comitês nacionais padronizassem o termo “Paralimpíada” e, por consequência, “Jogos Paralímpicos” e “atletas paralímpicos”. 

O comitê brasileiro, assim como outros de língua latina, acataram a determinação e mudaram a terminologia.

Foto: CPB

Desde a sua fundação em 1989, o CPI usa o termo “Paralimpíada”, do inglês “Paralympics”, e que nunca teria se referido às competições de outra maneira, contudo, alguns países, entre eles os de língua latina, como o Brasil, optaram por utilizar “Paraolimpíada” por questões linguísticas.

Segundo o professor de língua portuguesa Pasquale Cipro Neto, em artigo na Folha de S. Paulo, não faria sentido a retirada do “o” da palavra. Segundo Pasquale, numa junção na língua portuguesa, o que ocorre é a supressão da vogal final do primeiro elemento e não da vogal inicial do segundo elemento.  Portanto, se a regra gramatical fosse cumprida, em “para+olimpíada” o “a” de “para” deveria ser suprimido, e não o “o” de “olimpíada”. 

Foto: Ale Cabral / CPB

Teríamos assim uma forma até mais aproximada de como as pessoas pronunciam o termo, “parolímpico”, como acontece em outros exemplos equivalentes: hidrelétrico e gastrintestinal.

Para, a Secretaria de Comunicação Social do Senado Federal Brasileiro, apesar de recomendar o uso do termo “paraolímpico”, são feitas exceções para o termo “paralímpico” quando fizer parte de nome próprio dos comitês e eventos – Comitê Paralímpico Brasileiro, Jogos Paralímpicos de Paris 2024, Paralimpíada Paris 2024.

Razões comerciais ou evolução do idioma

De acordo com Paulo Ledur, mestre em linguística aplicada pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-RS) em entrevista à BBC, a evolução de um idioma ocorre sempre “de baixo para cima”. Ou seja, as mudanças morfológicas acontecem quando a população usa mais um termo do que outro, desencadeando uma adequação linguística nas gramáticas normativas.

Entretanto, a variação da palavra adotada também foi uma alternativa mercadológica. Segundo o Comitê Paralímpico, a padronização é usada de modo a evitar a violação dos direitos do Comitê Olímpico Internacional, que tem o termo ‘Olímpico’ como marca registrada.

Foto: IPC

Origem do termo “Paralímpico”

As origens do termo, “Paraolímpiada” ou “Paralimpíada”, também trazem certa dúvida. Conforme o artigo “The Genesis and Meaning of the Term ‘Paralympic Games” da Biblioteca Olímpica Mundial, do Centro de Estudos Olímpicos, a crença de que o termo “Paralímpico” deriva da palavra paraplégico traz diferentes versões. 

Pesquisas evidenciadas no artigo, revelam que os primeiros usos do termo apareceram durante os Jogos de Stoke Mandeville de 1949, competição pioneira na participação de atletas paraplégicos, quando em pronunciamento, o seu criador, o Doutor Sir Ludwig Guttmann idealizou “que esses eventos locais de Stoke Mandeville para paraplégicos alcançariam fama mundial como o equivalente masculino e feminino deficiente dos Jogos Olímpicos”. Sendo assim, a expressão seria equivalente à junção das palavras em inglês “Paraplegic” e “Olympic”.

Foto: Raymond Kleboe

No caso da grafia, constata-se que a origem do termo remonta possivelmente a publicações do próprio hospital Stoke Mandeville. A primeira menção ocorre em 1951, quando David Hinds, um paciente paraplégico, redigiu o artigo intitulado “Alice na Paralimpíada”, uma paródia de *Alice no País das Maravilhas*. Posteriormente, em 1954, foram publicados mais dois artigos: um de autoria da fisioterapeuta Dora T. Bell, intitulado “Paraolimpíadas de Stoke Mandeville”, e outro, um artigo publicitário da enfermaria do hospital, que se referia às “Olimpíadas Paraplégicas”. Dessa forma, o uso inicial do termo parece, de fato, resultar da fusão entre as palavras “paraplégico” e “Olimpíadas”.

Oficialmente, o termo “Paralympic” foi utilizado pela primeira vez na edição de Tóquio 1964, quando um dos patrocinadores dos Jogos dedicou uma de suas campanhas publicitárias às Paralimpíadas. Segundo o artigo citado acima, os organizadores de Tóquio 64 consideraram três nomes para o evento: (1) Jogos Internacionais de Stoke Mandeville (a escolha preferida do Dr. Guttmann); (2) Jogos de Tóquio para Deficientes Físicos; e (3) Paralimpíadas (a escolha preferida do Comitê Organizador).

Foto: NPC Japan

Com o tempo, os Jogos passaram a incluir outras formas de deficiência, e a interpretação original do termo — que se referia exclusivamente a paraplégicos — foi gradualmente ampliada. Inclusive, no site do Comitê Paralímpico Internacional (CPI), afirma-se que a palavra “Paralimpíada” deriva da preposição grega “para” (ao lado) e do termo “olímpico”, indicando que os Jogos Paralímpicos ocorrem paralelamente às Olimpíadas, refletindo a coexistência e interdependência de ambos os movimentos.

Embora o significado dos Jogos tenha evoluído, o termo em inglês permaneceu inalterado. No entanto, para línguas latinas, como o português, a forma mais adequada para refletir tanto o significado atual quanto o processo natural de formação da palavra seria “Paraolimpíada”, mantendo a letra “o”.