Por Patrick Simão / Além da Arena

Com uma campanha histórica em Paris, o Brasil encerrou uma Paralimpíada pela primeira vez no top 5 do Quadro de Medalhas. Os recordes foram absolutos para o país, seja em Jogos Paralímpicos ou Olímpicos: 25 ouros, 26 pratas e 38 bronzes, totalizando 89 medalhas.

Ao todo, são mais de 500 medalhas brasileiras nos Jogos Paralímpicos e, em Jogos ParaPan-Americanos, o Brasil é dominante desde a edição de 2007, no Rio de Janeiro. Estes dados nos levam à pergunta: por que somos uma potência paralímpica e não olímpica? Também podemos nos perguntar: em um país tão excludente com pessoas PCD, por que os atletas desempenham em tão alto rendimento?

Fazendo um recorte histórico, o Brasil participou do evento pela primeira vez em 1972, doze anos depois da primeira edição. A primeira medalha veio em 1976, com Robson Sampaio e Luiz Carlos no Lawn Bowls (semelhante à bocha). Mas o primeiro pico de medalhas do país foi em 1984, com 28, após a redemocratização.

Desde os anos 80, o Brasil conquistou muitas medalhas especialmente na natação e no atletismo. E a partir daí temos a primeira justificativa para o sucesso brasileiro: essas modalidades geram muitas medalhas, pois há diferentes modelos de provas, divididos também pelas características físicas dos atletas.

Portanto, nossos principais atletas conquistam muitas medalhas em uma só edição. O maior exemplo é o nadador Daniel Dias, maior medalhista brasileiro, com 14 ouros e 27 medalhas no total.

Desde 2016, o Brasil tem um Centro Paralímpico moderno e com ótima estrutura, que dá espaço para 15 modalidades desenvolverem seus atletas com qualidade. O sucesso crescente também tem relação com o investimento do governo federal em programas de incentivo ao esporte nas duas últimas décadas. Dos paratletas brasileiros em Paris, 97,8% recebem incentivo governamental.

O investimento público em projetos sociais e em desenvolvimento de atletas visou inicialmente o Pan e ParaPan de 2007, e depois a Olimpíada e Paralimpíada de 2016, ambos no Rio de Janeiro.

Além disso, podemos acrescentar algumas hipóteses. Muitas pessoas com deficiências física ou intelectual sofrem historicamente um processo de exclusão social e de oportunidades. Dessa forma, o esporte se torna, para muitos deles, a única ou uma das únicas possibilidades de ascensão social e financeira.

Quantos atletas brasileiros teriam reconhecimento social e oportunidades de emprego sem a trajetória esportiva? Porém, vale lembrar que o capacitismo ainda segue e é demonstrado pelo menor apelo comercial e midiático dos eventos Paralímpicos em comparação com os Olímpicos.

Este cenário vem melhorando nas últimas edições, principalmente na de 2024, com maior cobertura das mídias digitais e com resultados cada vez mais impactantes. Esse caminho ainda é muito longo e o reconhecimento parte também da nossa divulgação sobre os atletas durante todo o ciclo paralímpico.