Por que o automobilismo não faz parte das Olimpíadas?
Apesar de já disputado no passado, o automobilismo segue sem ser reconhecido como um esporte olímpico
Por Manu Bianchi e Anny Caroline, para Cobertura Colaborativa Paris 2024
O automobilismo já foi cogitado para entrar no programa de esportes olímpicos diversas vezes, porém o que poucos sabem é que ele já esteve presente na programação uma única vez. Na segunda edição dos Jogos Olímpicos em Paris no ano de 1900, foram realizadas provas de esportes a motor, tanto em quatro, quanto em duas rodas. Os medalhistas incluíram diversos vencedores, destacando-se nomes de fabricantes renomados como Brouhot, Peugeot, Renault e Panhard-Levassor. Houve até competições destinadas a caminhões, táxis, carros de entregas e até veículos com motorizações elétricas.
A principal prova foi a Paris-Toulouse-Paris, com 1347 quilômetros a serem percorridos. Foi disputada em 3 longos dias, e a cada dia, era disputada uma etapa: Montgeron-Toulouse, depois Toulouse-Limoges e Limoges-Montgeron. Contava com três categorias: automóveis, motocicletas e voiturettes — carros leves com motores menores. O vencedor desta prova na categoria voiturettes foi ninguém mais que Louis Renault, um dos fundadores da montadora que leva seu sobrenome, e o pódio foi formado apenas por carros de sua marca.
Entretanto, outras tentativas de incluir o automobilismo tiveram sucesso devido à iniciativa de Felipe Massa enquanto presidente da Comissão Internacional de Kart, o kartismo foi incorporado à programação dos Jogos Olímpicos de Verão da Juventude, realizados em Buenos Aires em 2018. Em uma competição mista, os argentinos Franco Colapinto e María García Plug conquistaram a medalha de ouro. Além disso, em 2021, o Comitê Olímpico Internacional (COI), com a criação da Olympic Virtual Series, deu início ao mundo do eSports, com o automobilismo na programação, representado pelo game Gran Turismo.
Os Jogos Olímpicos estão tendo novos esportes adicionados em todas as edições, porém o automobilismo ainda não foi incluído. A inclusão da categoria já foi avaliada diversas vezes, inclusive para as Olímpiadas de 2028, mas segue sendo negada pelo Comitê Olímpico Internacional (COI).
Um ponto muito discutido sobre a inclusão da modalidade é que poderia se tornar uma competição entre os carros, não entre os atletas. Segundo a Carta Olímpica, conjunto que regula a organização dos Jogos Olímpicos, “esportes, disciplinas ou eventos em que o desempenho depende essencialmente de propulsão mecânica não são aceitáveis”.
Em 2012, a Federação Internacional de Automobilismo (FIA) foi reconhecida oficialmente como uma federação esportiva pelo COI. Mas, apesar disto, a relação entre as duas entidades não seguiu tão bem.
Meses após terem assinado o reconhecimento, e às vésperas das Olimpíadas de Londres, Jacques Rogge, presidente do COI na época, disse que, apesar de respeitar muito as corridas de carro, elas não deveriam ser incluídas no programa pois o torneio é uma competição entre atletas. A fala do presidente não foi bem recebida pela FIA.
Além disso, o automobilismo tem mais um empecilho para ser aceito no evento mundial. A modalidade ainda é pouco praticada mundialmente, principalmente entre as mulheres. Segundo a Regra 52 da Carta Olímpica, “somente esportes amplamente praticados por homens em pelo menos 75 países e em quatro continentes, e por mulheres em pelo menos 40 países e em três continentes, poderão ser incluídos na programação dos Jogos Olímpicos”.