Por que não tem música na apresentação do solo da ginástica masculina?
No passado, associava-se a expressão artística e feminilidade às mulheres, enquanto a força era vista como algo masculino.
Por: Lívia Bernardes
Sabemos que a música faz uma enorme diferença nas apresentações. Seja com o som de Raça Negra acompanhando Júlia Soares ou o ritmo de “Movimento da Sanfoninha” embalando Rebeca Andrade, a música enriquece a experiência. Mas você já notou que, no solo, apenas as mulheres se apresentam com música?
Essa questão está profundamente enraizada na história e na cultura do esporte. A justificativa é “a feminilidade”; quando as ginastas competiram pela primeira vez nas Olimpíadas, há quase um século, as regras foram criadas com base nos papéis de gênero daquela época. O foco das mulheres era nos movimentos artísticos e femininos, enquanto para os homens era uma demonstração de força. Além disso, as apresentações femininas duram 90 segundos, 20 segundos a mais que as masculinas, e incluem música durante toda a performance.
A visão antiga, de que a expressão artística e a leveza eram características “femininas”, enquanto a força era associada aos homens, infelizmente ainda molda o esporte hoje, embora nossa compreensão de gênero e habilidade tenha evoluído. As regras da Federação Internacional de Ginástica (FIG) que permitem música apenas nas apresentações femininas refletem uma visão ultrapassada e sexista, que associa a expressão artística e a leveza às mulheres e a força e a potência aos homens. Essa distinção não só é limitada, mas também reforça estereótipos de uma estrutura machista e muitas vezes homofóbica que ainda permeia as regras da ginástica artística.
Ao manter essas regras ultrapassadas, a ginástica mundial nega aos seus atletas a oportunidade de se expressarem plenamente e de serem reconhecidos por suas capacidades individuais sem serem limitados por normas preconceituosas. Estamos em 2024, nos “Jogos Para Todos”, como o slogan das Olimpíadas de Paris diz, logo esse seria o momento da Federação Internacional de Ginástica (FIG) rever essas normas e criar um ambiente que valorize igualmente todas as formas de expressão e habilidades, permitindo que cada atleta, independentemente do gênero, brilhe e se destaque com base em suas habilidades e talentos.