Por que atletas com síndrome de Down raramente competem nas Paralimpíadas?
Atletas com síndrome de Down enfrentam barreiras para competir nas Paralimpíadas; Trisome Games os incluem.
Por Paty Zupo e Laura Dozza, para Cobertura Colaborativa #NECParis2024
A participação de atletas nas Paralimpíadas depende de uma classificação esportiva que categoriza cada competidor de acordo com sua capacidade funcional, nível de habilidade ou treinamento. Entre as 10 categorias reconhecidas pelo Movimento Paralímpico, há uma destinada a atletas com deficiência intelectual, que abrange aqueles com limitações significativas no funcionamento intelectual e comportamento adaptativo. No entanto, é raro vermos atletas com síndrome de Down competindo nas Paralimpíadas.
A síndrome de Down é uma condição genética associada à deficiência intelectual, considerada a mais comum no mundo. Segundo a Federação Internacional de Atividade Física Adaptada, a síndrome também impacta o desempenho físico-motor, o que dificulta que esses atletas alcancem os índices exigidos para a classificação esportiva paralímpica. A elegibilidade é o primeiro estágio para qualquer atleta paralímpico, e o processo é gerenciado pela Virtus (Federação Internacional de Esportes para Atletas com Deficiência Intelectual).
Para a Virtus, apenas a elegibilidade é necessária, enquanto para as Paralimpíadas, é exigida também a classificação esportiva, o que impede que muitos atletas com síndrome de Down possam competir.
Deficiência Intelectual nas Paralimpíadas
Atletas com deficiência intelectual competem em modalidades como natação, atletismo e tênis de mesa nas categorias S14, T/F 20 e classe 11, respectivamente. Para serem elegíveis, é necessário apresentar um QI de 75 ou inferior, limitações significativas na adaptabilidade e ter recebido o diagnóstico antes dos 22 anos.
Embora exista espaço para atletas com deficiência intelectual nas Paralimpíadas, pessoas com síndrome de Down enfrentam desafios adicionais devido a deficiências físicas e sensoriais que frequentemente acompanham a síndrome. Como resultado, seus desempenhos tendem a ser inferiores aos de outros atletas com deficiência intelectual, impedindo sua classificação para os Jogos Paralímpicos.
Trisome Games: Um espaço para atletas com síndrome de Down
O Trisome Games é um evento esportivo internacional dedicado a atletas com síndrome de Down, sendo considerado o equivalente olímpico para essas pessoas. Organizado pela Sports Union for Athletes with Down Syndrome (SUDS), o evento inclui diversas modalidades, como atletismo, natação, tênis de mesa, judô, e futebol.
Como alternativa, os Trisome Games foram criados especificamente para atletas com síndrome de Down, oferecendo uma plataforma internacional inclusiva onde esses competidores podem participar de diversas modalidades esportivas em um ambiente adaptado às suas necessidades. A competição organizada pela Sports Union for Athletes with Down Syndrome (SUDS) oferece visibilidade para esses atletas, que, de outra forma, enfrentariam barreiras para competir nos Jogos Paralímpicos devido às exigências de classificação funcional.
A última edição dos Trisome Games ocorreu na Turquia, em março de 2024, reunindo mais de 800 atletas de 32 países. A próxima edição está prevista para acontecer no México, em 2028. Entre os destaques brasileiros na competição de 2024 está o nadador Caíque Aimoré, que conquistou oito medalhas, sendo quatro de ouro nas provas de 50m, 100m e 200m nado livre, além de 50m peito. A equipe brasileira de futsal também se destacou, levando a medalha de ouro (
Os Trisome Games é uma forma importante de proporcionar aos atletas com síndrome de Down o reconhecimento esportivo em nível internacional, ao mesmo tempo que promovem a inclusão e a celebração da diversidade no esporte.
Inclusão no Brasil: Paralimpíadas Escolares
No Brasil, as Paralimpíadas Escolares são consideradas a maior competição para jovens com deficiência em idade escolar. Em 2019, foi criada pela primeira vez uma categoria exclusiva para atletas com síndrome de Down nas modalidades de atletismo e natação. Para o coordenador de esporte escolar do Comitê Paralímpico Brasileiro na época, Ramon Pereira, a inclusão dessas classes foi um passo importante. Ele destacou a importância de separar esses atletas dos demais com deficiência intelectual devido à “desvantagem física” que a síndrome de Down pode representar em relação a outras condições.
Visibilidade e Inclusão
Estima-se que existam cerca de 300 mil pessoas com síndrome de Down no Brasil, e entre 3 a 5 mil crianças nascem com a síndrome anualmente no mundo. Embora as Paralimpíadas sejam um importante palco para dar visibilidade às pessoas com deficiência, atletas com síndrome de Down ainda enfrentam dificuldades para competir nesses jogos. Segundo o artigo “Participação da pessoa com deficiência intelectual e síndrome de Down nas Paralimpíadas: o direito à visibilidade”, da Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, incluir essas pessoas nos Jogos seria uma oportunidade de ampliar sua visibilidade e combater o preconceito, demonstrando que, quando dadas as oportunidades, elas podem alcançar eficiência no esporte.
As Paralimpíadas Escolares são consideradas a maior competição do mundo para pessoas com deficiência em idade escolar. A edição de 2019 apresentou pela primeira vez uma classe específica para os atletas com Síndrome de Down nas disputas de atletismo e natação.
Para Ramon Pereira, coordenador do departamento de esporte escolar do Comitê Paralímpico Brasileiro na época, a inclusão das classes foi de extrema importância, tanto que participaram nesta classificação, 55 atletas. “Como a síndrome de Down não tem disputas exclusivas nos Jogos Paralímpicos e nos Mundiais, nós achamos importante dar essa oportunidade. A diferença é que separamos dos outros atletas com deficiência intelectual, pois reconhecemos uma ‘desvantagem‘ física em relação a eles”, comentou o coordenador
Estima-se que no Brasil existam em torno de 300 mil pessoas com Síndrome de Down; e que no mundo, nasçam a cada ano, cerca de 3 a 5 mil crianças com a síndrome. Os Jogos Paralímpicos são um grande palco para a visibilidade às pessoas com deficiências, porém ainda é necessária atenção à falta de visibilidade social à pessoa com síndrome de Down.
Conforme explicado pelos autores do artigo “Participação da pessoa com deficiência intelectual e síndrome de Down nas Paralimpíadas: o direito à visibilidade” na Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, as pessoas com Down também “podem demonstrar eficiência no esporte quando a oportunidade lhes é dada”.
Outro ponto apresentado pelos autores é, além do direito ao movimento e ao esporte, incluir pessoas com Down nas Paralimpíadas, poderia ser instrumento para maior visibilidade e busca por mudanças e combate ao preconceito.