População LGBTQIAPN+ é das mais impactadas pela crise climática
Frente à escassez de dados e por consequência, políticas públicas, organizações da sociedade civil se articulam para cobrar avanços
Gustavo de Sousa, da Cobertura Colaborativa NINJA na COP30
Pessoas do mundo inteiro estão sujeitas aos impactos da crise climática – de qualquer região, país, ou classe social. No entanto, as populações socialmente vulnerabilizadas, como a LGBTQIAPN+, compõem um dos grupos que mais carecem e têm mais urgência de serem atendidas com políticas públicas. Mas no Brasil, a escassez de dados, se torna um grande obstáculo e isso é reflexo da fragilidade social. Como aponta o estudo Mudanças Climáticas 2022: Impactos, Adaptação e Vulnerabilidade, do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU, a marginalização da comunidade LGBTQIAPN+ a coloca, por exemplo, expostas em locais com poucas condições de adaptabilidade climática.
O pesquisador e doutor em Comunicação e Cultura Contemporânea, Ju Motter, alerta que um dos maiores impasses é a ausência de dados ou levantamentos que ajudem a embasar concretamente a relação entre a comunidade LGBTQIAPN+ e a crise climática.
“É uma população que a gente desconhece quantitativamente e qualitativamente, o que dificulta compreender como ela tem sido afetada”.
Foi apenas em 2022, por exemplo, que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) passou a coletar dados sobre gênero e sexualidade no Censo, com resultados ainda não divulgados.
Já um levantamento do Grupo Gay da Bahia – organização LGBTQIAPN+ mais antiga em atuação no Brasil – o país segue sendo, pela 14ª vez, o que mais mata lésbicas, gays, bissexuais e travestis no mundo.
Iniciativas populares
Enquanto órgãos oficiais seguem em passos lentos para compreender os dados sobre a comunidade LGBTQIAPN+ no Brasil, as organizações da sociedade civil lideram em iniciativas independentes, como a Campanha da Diversidade Criativa Rumo a COP 30, das Themônias da Amazônia, que têm apoio de organizações socioambientais. Dentre seus principais focos de atuação, está o de realizar pressão sobre grandes empresas e o governo para que incluam mais intensamente os temas da sustentabilidade e diversidade em seus discursos.
“A nossa população, por ser vulnerável socialmente, acaba sendo atingida de forma mais intensa, seja por questões geográficas ou pelos preconceitos enfrentados dentro de cada sigla na nossa comunidade”, afirma a artivista e articuladora da campanha, Flores Astrais.
Através da arte, a Associação Cultural das Thêmonias da Amazônia, liderada por Astrais, vêm colocando as pautas da comunidade LGBTQIAPN+ dentro de discussões climáticas e políticas. “Nós podemos, através da arte e cultura, trazer respostas criativas para as questões climáticas”.
Adicionando ainda mais uma perspectiva ao debate, Patrícia Gomes, do Coletivo Sapato Preto Amazônia – grupo de mulheres negras e lésbicas amazônidas – realça que as mulheres LGBTQIAPN+ enfrentam “a injustiça climática e o puro suco do racismo ambiental, principalmente na Amazônia”. O Sapato Preto lançou, em parceria com outros coletivos, a Carta-Manifesto das Mulheres LBTIs da Amazônia Paraense para a COP 30 que busca visibilidade e criação de políticas para o amparo dessas mulheres.
“Vivemos em uma região onde a crise climática se entrelaça com a desigualdade social, a violência e o cerceamento dos nossos direitos. Em um mundo em colapso, somos sempre as primeiras a serem descartadas das Políticas Públicas. Não existe justiça climática sem justiça social”, afirma a carta.
O documento ainda exige participação e representatividade em espaços de decisão, garantia de acesso à terra e qualidade de vida, acesso à educação e cultura e a criação de protocolos de proteção às pessoas LGBTs em contextos de desastres climáticos.
Enquanto os chefes de nações ocupam salas para discutir o futuro de populações inteiras, os grupos sociais estão se movimentando por fora das paredes da COP 30 em busca de seus direitos. No país que mais violenta pessoas LGBTQIAPN+, não são discutidas políticas efetivas para a proteção dessas pessoas seja no cotidiano, ou em calamidades ambientais.



