Política habitacional racista deixou negros e imigrantes mais expostos à poluição do ar nos EUA
Locais com altas concentrações de residentes negros, asiáticos, imigrantes ou da classe trabalhadora eram sombreadas em vermelho
Mais uma comprovação da importância de colocar a justiça climática no centro dos debates. Um grupo de pesquisadores americanos das universidades Berkeley e Washington examinou mais de 200 cidades e encontrou uma forte correlação entre os níveis atuais de poluição do ar a que seus moradores estão expostos e os padrões históricos de redlining.
O termo “redlining” diz respeito a uma prática de avaliação discriminatória de hipotecas apoiada pelo governo federal na década de 1930. Esse processo codificava as áreas da cidade em vermelho, se incluíssem altas concentrações de residentes negros, asiáticos, imigrantes ou da classe trabalhadora, considerando essas áreas perigosas e excessivamente arriscadas para investimento e assim, desencorajava empréstimos hipotecários com base nesses mapas.
Os mapas discriminatórios sombreavam essas áreas em vermelho. E a partir disso, acabaram por delimitar a localização de estradas, rodovias, instalações industriais, portos e outras grandes fontes de poluição, influenciando quais bairros têm ou não tem ar limpo na atualidade.
À reportagem da Futurity.org, o professor de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade de Washington, Julian Marshall – que é coautor do estudo -, disse: “o racismo da década de 1930 e as ações racistas de pessoas que não estão mais nem vivas influenciam a desigualdade na exposição à poluição do ar hoje”.
Ao analisar as centenas de cidades, descobriram que as pessoas que vivem nesses locais respiram agora, 56% mais do dióxido de nitrogênio poluente da rodovia, do que quem vive em áreas mais bem avaliadas. Essas pessoas estão mais expostas a partículas de fuligem e possuem taxas mais altas de asma e doenças cardiovasculares, por exemplo.
Yvonka Hall, especialista em disparidades ambientais e diretora executiva da Coalizão de Saúde Negra do Nordeste de Ohio, que “a comunidade afro-americana enfrentou décadas de negligência ambiental”. Ela tem bronquite crônica e viu seus vizinhos lutando com todos os tipos de doenças de longo prazo.
Julian Marshall, desta vez à reportagem do The Guardian, disse que embora a Lei do Ar Limpo, aprovada em 1970, tenha reduzido a poluição para quase todos os americanos, é necessária uma ação imediata para reduzir a discriminação racial sistêmica.
“As desigualdades ambientais são imediatas e locais, mas também sistêmicas e de longo prazo”, disse ele. “Isso significa que as soluções também precisam durar mais do que um governo presidencial. Herdamos esse problema, mas precisamos agir agora para evitar que continue no futuro”.
O estudo foi publicado na revista Environmental Science & Technology Letters