Policiais destroem memorial em homenagem às vítimas da chacina do Jacarezinho
Memorial foi construído por moradores e familiares dos mortos pela operação policial mais letal da história do RJ
Policiais civis destruíram, na tarde desta quarta-feira (11), um memorial que homenageava os mortos na operação policial mais letal da história do Rio de Janeiro. Inaugurado na semana passada, no Jacarezinho, a homenagem foi feita pelos próprios moradores, amigos e familiares, um ano após a chacina que deixou 28 vítimas na Zona Norte da capital fluminense.
Na web, circulam imagens que flagram o momento da derrubada do memorial por agentes da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) da Polícia Civil. A Core, que é considerada a tropa de elite da corporação, pôde ser identificada pelo “caveirão” (blindado) nas imagens.
“O povo não tem nem direito ao luto. Absurdo! Dá muita dor ver essa crueldade com o nosso povo”, escreveu a vereadora Verônica Silva.
“Não basta banalizar o derramamento de sangue, eles ainda tripudiam da nossa resistência!”, escreveu o advogado Joel Luiz Costa ao compartilhar o vídeo no Jacarezinho.
A Polícia Civil justificou a derrubada afirmando que o memorial era uma “apologia ao tráfico de drogas” já que ele teria sido ilegalmente construído “em homenagem aos 27 traficantes mortos em confronto com a Polícia Civil durante operação na comunidade do Jacarezinho”.
“Lembremos que tanto a chacina em Jacarezinho, quanto a derrubada do memorial foram feitos pela POLÍCIA CIVIL, cujo mandato não é de policiamento ostensivo, mas de investigação. No RJ, estudos mostram a militarização (ilegal) da polícia civil”, escreveu o advogado Thiago Amparo.
Para a deputada estadual Renata Souza, “há uma dose de crueldade na derrubada do memorial das Vítimas da Chacina do Jacarezinho que diz sobre quem tem direito à memória neste país. E já respondo: não são as mães pretas”. Para a vereadora Mônica Benício, “na favela é sempre assim, eles não matam só um corpo, mas seguem destruindo a memória e a vida dos familiares”.
A polícia do Rio derrubou o memorial que construímos em homenagem às vítimas da chacina do Jacarezinho.
— Joel Luiz (@joelluiz_adv) May 11, 2022
Não basta banalizar o derramamento de sangue, eles ainda tripudiam da nossa resistência!
Seguiremos resistindo. pic.twitter.com/CrOC9hWB57
A polícia do Rio derrubou o memorial, construído pelo Observatório Cidade Integrada, em lembrança aos 27 moradores e ao policial, vítimas da chacina do Jacarezinho
— Joel Luiz (@joelluiz_adv) May 11, 2022
Um absurdo! pic.twitter.com/psXymUPoAa
O Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) havia denunciado mais dois policiais civis por assassinatos cometidos durante ação na favela do Jacarezinho. Segundo o MPRJ, os agentes, cujos nomes não foram revelados, são acusados de matar dois homens feridos – Richard Gabriel da Silva Ferreira e Isaac Pinheiro de Oliveira – que se esconderam em uma casa na comunidade.
Dois policiais civis entraram na casa e mataram Richard e Isaac com vários disparos. Ainda de acordo com a denúncia, não havia nenhum refém com Richard e Isaac e eles tampouco resistiram aos policiais. Mesmo assim, foram mortos. A perícia teria comprovado que não houve troca de tiros dentro da casa.
Os policiais civis também foram denunciados por fraude processual e por forjar o cenário do crime, porque apresentaram à delegacia pistolas e uma granada com uma alegação falsa de que estavam com as vítimas. A denúncia foi feita pela Força-Tarefa do Jacarezinho, criada logo após a operação policial.
Outras denúncias
Outras duas denúncias foram oferecidas pela força-tarefa. Uma contra dois policiais civis pelo homicídio de Omar Pereira da Silva, que também foi morto depois de já estar encurralado. E outra contra dois suspeitos de integrar a quadrilha que domina a venda de drogas na favela, pelo assassinato do inspetor André Leonardo de Mello Frias e por 11 tentativas de homicídios contra policiais.
Dez procedimentos de investigação foram arquivados porque o MPRJ não encontrou evidências capazes de indicar a prática de crimes por parte de policiais. Essa foi a última denúncia oferecida pela força-tarefa, que encerrou suas atividades.
Com informações de Agência Brasil