Pluralidade marca a Greve Geral no Rio
Na cidade do Rio de Janeiro, mais de 50 mil pessoas caminharam da Igreja da Candelária à Central do Brasil aos gritos de “eu não abro mão da Previdência e da educação” no final da tarde. Apesar da repressão policial contra à população, o que marcou o dia foi a pluralidade de vozes nas ruas por diversas bandeiras.
Texto por Filipe Pavão (@filipepavao_)
Fotos por Lia Castanho (@liacastanho)
Milhares de trabalhadores e estudantes paralisaram atividades em adesão à Greve Geral e ocuparam ruas e avenidas do estado do Rio de Janeiro nesta sexta-feira (14/06). Em pauta, a reforma da Previdência pela PEC 06/2019, os cortes da educação federal e o elevado índice de desemprego. Os atos organizados por centrais sindicais ocorreram em pelo menos 18 cidades de norte a sul do estado.
Na cidade do Rio de Janeiro, mais de 50 mil pessoas caminharam da Igreja da Candelária à Central do Brasil aos gritos de “eu não abro mão da Previdência e da educação” no final da tarde. Apesar da repressão policial contra à população, o que marcou o dia foi a pluralidade de vozes nas ruas por diversas bandeiras.
Para o professor da rede estadual de ensino Estevão Pereira (29), a greve é necessária devido aos cortes na educação, porém a mobilização transcende o tema.
“Esse governo representa o oposto do que eu acredito como educador e LGBT. Quem luta pela educação e entende quais são as reais necessidades das escolas do país é absolutamente contra o que governo está fazendo. Em nenhum lugar do mundo é razoável pensar que liberar armas e tirar dinheiro da educação seja o caminho para o progresso, mas sim para o retrocesso”.
O estudante de Pedagogia da Universidade Federal Fluminense – UFF Wellington do Carmo (25) relatou a importância de se colocar em pauta a acessibilidade para estudantes que possuam dificuldades físicas nas universidades.“Estou aqui para representar os universitários cadeirantes e a luta pela inclusão. Eu sou calouro e já posso dizer que o acesso físico fica muito complicado sem verba para manutenção. Eu já fiquei até sem elevador nesse semestre, mas seguirei na universidade porque lá é o meu lugar”.
A professora Ângela Santos (31) levou os alunos do pré-vestibular CEASM, localizado na Maré, para lutar contra medidas que diminuem os direitos trabalhistas dos que estão nas favelas e periferias. Ainda segundo a professora, é preciso mostrar aos jovens a necessidade de “lutar pelos poucos espaços já conquistados”.
“Nessa semana, a gente teve uma série de operações policiais na Maré que, por diversas vezes, interromperam as aulas. […] A gente já está resistindo dentro da favela porque acessar a universidade não é algo fácil. Pouquíssimos favelados, pobres e pretos conseguem ter acesso. Por isso, estamos lá para poder dar mais possibilidade de acesso, mesmo assim, somos barrados com operações policiais e políticas públicas que não nos veem como pessoas de direito. Então, estar aqui é dizer que os favelados, pretos e pobres deveriam ter direito a ir e vir, estudar e entrar na universidade.”
A professora de História da rede estadual Carolina Collantis (32) acredita que a Greve Geral é uma importante forma de mobilização e de dar voz ao povo nas ruas.“O corte de verbas vai prejudicar a educação e, consequentemente, toda a população. Além disso, perseguir filosofia e sociologia compromete a democracia. Você pode cortar tudo menos a educação porque é o alicerce da sociedade.”
Para o diretor do Sindicato dos Advogados do Estado do Rio de Janeiro, Antônio Silva (57), a reforma da Previdência é extremamente prejudicial e que a população brasileira não pode ficar omissa quanto a isso. “Tem de se criar outros tipos de tributação para acabar com privilégios de algumas classes. Por exemplo, tributar as grandes fortunas, o repasse de dividendos para o exterior, cobrar as grandes empresas e bancos que devem bilhões à Previdência. Não podemos aceitar que os trabalhadores brasileiros paguem essa conta e que o governo permita o aumento de lucro das grandes empresas tirando o pouco que os trabalhadores brasileiros tem”
O sindicalista e servidor público da Fundação de Apoio à Escola Técnica – FAETEC Jocélio da Silva (33) enfatizou o desmonte da aposentadoria na PEC 06/2019 e o prejuízo à população negra. “Somos o maior celeiro de formação técnico no Rio de Janeiro e estamos aqui em defesa de nossa aposentadoria. Não é mais uma questão partidária, mas sim de perda de direitos, principalmente para nós pobres, negros e trabalhadores”.
Para professora de Sociologia da rede estadual Lucia Erthal (57), “só a luta resolve”. Ela, que esteve presente em momentos históricos como as Diretas Já, criticou medidas do governo. “O presidente só quer saber de arma, mas arma não dá emprego. Ele não está preocupado com a situação caótica que o Brasil está vivendo. É por isso que a greve é importante. Sem falar da perseguição à disciplina que eu leciono. O governo não quer que eles tenham consciência crítica”