Todos os anos, durante o mês do Orgulho, diversas marcas colorem suas identidades com as cores da bandeira da comunidade LGBTQIAP+ declarando seu apoio. Infelizmente, existem casos em que o único interesse é o retorno financeiro, acontece a apropriação da pauta para o aumento do engajamento e, consequentemente, do lucro gerado pelos membros da comunidade que acreditam na seriedade da marca.

Por Mariane Kairalla

O dia 28 de junho ficou marcado na história pelos confrontos entre policiais e manifestantes durante a revolta de Stonewall – clube privado voltado ao público LGBT, localizado em Nova York. Anos depois, esse dia e o que ele representa se tornaram motivo de orgulho.

Em 1969, as repressões e leis contra homossexuais e membros da comunidade Queer, eram severas, apesar dos ideais progressistas que começavam a se destacar na época. Neste período, a população pertencente à comunidade era proibida de consumir bebidas alcoólicas em bares entre a sociedade; o que levou a fundação de um espaço seguro para receber essas pessoas.

Infelizmente, a paz duraria pouco, já que a cada dia a repressão da polícia se fazia mais presente; até que, em 24 de junho, uma violenta invasão policial culminaria em uma série de confrontos e acontecimentos fatídicos que perduraram por seis dias, tendo seu ápice no dia 28.

Junho de 2023, 54 anos depois dos acontecimentos que marcaram e trouxeram os olhares de todo o mundo à comunidade LGBT, celebramos neste mês o orgulho de fazer parte de uma parcela da sociedade que não se encaixa nos padrões de gênero e sexualidade impostos pela massa, o orgulho de ser livre para se expressar e celebramos o orgulho de amar.

Entretanto, nem tudo são cores, é importante celebrar com orgulho sem esquecer que ainda há um longo caminho a ser percorrido, muitas barreiras ainda precisam ser derrubadas e espaços necessitam ser ocupados. A união dentro da comunidade é a base, e o apoio externo fortalece a caminhada.

Com logomarcas coloridas e publicidade LGBTQIAP+ friendly durante todo o mês de junho, diversas marcas declaram seu apoio à pauta LGBT. É inegável que diversas empresas trabalham com seriedade e abraçam a diversidade, mas para algumas, tudo isso não passa de uma grande e eficaz estratégia de marketing.

Em uma simples visita ao feed das redes sociais, somos bombardeados por diversas campanhas publicitárias voltadas ao mês do orgulho que, para um olhar inocente, ao se deparar com toda essa representatividade, é o que basta para fazer com que uma empresa que não apoie verdadeiramente a causa lucre com o famoso pink money.

Pink money ou dinheiro rosa, em uma livre tradução, se trata da movimentação econômica gerada através do consumo de produtos e serviços pelas pessoas que pertencem à comunidade LGBTQIAP+. Essa expressão tem se tornado cada vez mais comum dentro do mercado e brilha aos olhos das grandes marcas e empresas que dedicam campanhas e ações durante um mês inteiro a este determinado público.

Tem desde posts alegres e coloridos em redes sociais até mesmo itens exclusivos, produzidos especialmente para essa “temática”, tudo em nome da causa. Mas… será mesmo?

Para saber se uma marca é verdadeiramente engajada em uma determinada pauta, basta uma simples pesquisa na internet para conhecer suas ações e comportamentos durante o decorrer de todo o ano.

Será que a famosa marca de roupas que lançou uma moderna e exclusiva coleção pride, é aberta à diversidade em sua equipe de colaboradores? Como a grande multinacional lida com as adversidades em relação aos seus produtos que representam a comunidade?

Em alguns casos ao menor sinal de complicações, todo um discurso diverso e inclusivo, pode deixar de ter tanta importância.

Que tal celebrar o mês do orgulho apoiando a mona ou a mana que começou a empreender nas redes sociais?

Não há nada de errado em querer adquirir um determinado produto de uma grande marca, afinal estamos a todo momento sendo manipulados pela influência do marketing digital. Porém, dar voz e oportunidade ao pequeno empreendedor pode ser mais significativo do que usar a camiseta com as cores da bandeira.

Apoiar membros da comunidade que estão diariamente em busca de espaço é a tendência que deveria estar em alta, não somente durante o mês de junho, mas durante o ano todo.

Um mês, dentre outros 11, é dedicado às questões de representatividade e diversidade de toda uma comunidade em todo o mundo. Carregar com orgulho essa bandeira pode ser algo difícil de se conseguir sem apoio, defender essa causa é um dever de todes durante os 12  meses do ano.

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