Por Daniel Santana, para Cobertura Colaborativa Paris 2024

As olimpíadas são marcadas por momentos que ficarão para a eternidade e conquistar uma medalha, independentemente da cor, já é algo fantástico para um atleta. Mas, e quando a primeira medalha da história de um país? Esse feito foi alcançado por alguns atletas nesses jogos. 

Thea LaFond-Gadson, 30 (Dominica – salto triplo) 

Foto: Garvin Richards

Em sua terceira participação em jogos na prova do salto triplo feminino dos Jogos, Thea Lafond, de Dominica, colocou seu nome na história como a primeira de seu país a ganhar uma medalha olímpica.

Seu país é uma pequena ilha do Caribe que conta com pouco mais de 77 mil habitantes, que agora conta com uma grande inspiração no esporte. 

Nas provas em Paris, Lafond obteve uma melhor marca de 15m02 no segundo salto e conquistou o ouro. Vale destacar que em março, no mundial indoor de atletismo em Glasgow, na Escócia, ela também foi a vencedora da prova, sendo a primeira medalha da história de Dominica na competição. 

Em entrevista após a vitória e a conquista da medalha inédita, a atleta exaltou que mesmo seu país sendo pequeno em dimensões territoriais, há inúmeros talentos surgindo para o esporte em Dominica e também pequenas ilhas do Caribe:

“As caribenhas são incríveis. Olha o que podemos fazer. Às pequenas garotas por aí, nunca duvidem de si. Você é poderosa, você é incrível, você vale muito”

Julien Alfred, 23 (Santa Lúcia – 100m rasos) 

Foto: AFP

A fala de LaFond foi feita ao lado de outra caribenha que também conquistou uma medalha inédita para seu país no mesmo dia. 

Ao vencer a prova dos 100 metros debaixo de um temporal no Stade de France, Julien Alfred deixou a ilha de Santa Lúcia em êxtase. 

O feito da atleta foi algo épico para o país caribenho que se mobilizou para acompanhar a prova. Na capital, Castries, muitas pessoas assistiram à disputa em telões espalhados pela cidade. 

Superando todos os prognósticos iniciais, ela bateu atletas favoritas ao ouro, como a estadunidense Sha’Carri Richardson, para ganhar o ouro olímpico em uma das provas mais nobres dos jogos. 

Com o tempo, a velocista se tornou a oitava mulher mais rápida da história, alcançando mais um marco histórico, além de ganhar a primeira medalha olímpica para o seu país. Julien, colocou seu nome nas grandes páginas olímpicas. 

“Significa muito para as pequenas ilhas. Ver como podemos vir de um lugar pequeno, mas também estar no maior palco de nossas carreiras”, ressaltou Alfred.

Adriana Ruano Oliva, 29 (Guatemala – Tiro Esportivo) 

Foto: Charles McQuillan/Getty Images

A história de Adriana por si só já é incrível. Ao iniciar sua trajetória no esporte, ela teve um início promissor na ginástica artística na Guatemala, mas as lesões a afastaram do esporte. 

Os problemas físicos até tentaram, mas o amor de Oliva pelos jogos, não acabou. Em 2016, ela esteve no Rio de Janeiro para atuar como voluntária das provas de tiro esportivo e a partir daí, um novo amor surgiu. 

O que a levou a Tóquio, em sua primeira olimpíada. Os resultados não foram bons em terras nipônicas com o 26º lugar nos jogos. Mas, ela sabia que na França tudo poderia ser diferente. 

No ciclo olímpico, Oliva venceu a prova de tiro nos jogos Pan-americanos de Santiago em 2023, o que já a credenciava como uma potencial medalhista em Paris. 

Até que chegamos ao Centro de Tiro Esportivo de Chateauroux, onde Adriana conquistou o ápice máximo de um atleta nos jogos, o ouro olímpico, entrando para a história, pois essa foi a primeira medalha de seu país. 

Os mais de 18 milhões de habitantes do território localizado ao sul do México, com certeza se orgulharam de tamanho feito de Adriana. Quem sabe, não seja a primeira medalha de muitas dela e de seu povo. 

Letsile Tebogo (Botsuana – 200m rasos)

Foto: AFP-JIJI

Vencer uma das provas que define os atletas mais rápidos do mundo é para poucos. Mas, Letsile Tebogo tinha uma motivação para chegar lá: honrar a memória de sua mãe. 

O atleta de Botsuana, país que fica no sul do continente africano, perdeu sua inspiradora em maio deste ano, chegando até a pensar em largar o esporte. 

Mas, ela sempre esteve com ele durante os jogos. As unhas das mãos e as sapatilhas de Tebogo vinham com as iniciais do nome de sua mãe e a data de nascimento dela, 23 de dezembro de 1980. Com certeza, naquela pista do estádio olímpico em Saint-Denis, ele jamais estaria sozinho. 

“Estou levando ela em cada passo que dou na pista. Ela está me vendo lá de cima. E está muito, muito feliz”, afirmou ele em entrevista. 

E dessa forma, ele chegou, ou melhor, voou em Paris. 

Nesses jogos, ele entrou para a história sendo o primeiro a conquistar uma medalha para seu país e justamente, a mais valiosa, a de ouro, batendo rivais como os estadunidenses Kenny Bednarek e Noah Lyles. 

Além disso, com o tempo de 19s46, ele estabeleceu um novo recorde de um atleta africano na prova dos 200 metros. E mesmo não obtendo medalhas nos 100 metros, ele também fez o melhor tempo da história de Botsuana na prova com 9s86. Em seu país, foi decretado feriado nacional para comemorar as conquistas do atleta. 

Tebogo, entra para a eternidade de seu país, dos jogos e mantém viva a memória de sua mãe. 

Cindy Ngamba (Equipe de Refugiados – Boxe até 75kg) 

Foto: Richard Pelham/Getty Images

A medalha de bronze conquistada pela camaronesa Cindy Ngamba no boxe é a primeira da história da equipe de refugiados em jogos. O comitê criado pelo COI estreou em olimpíadas no Rio de Janeiro em 2016 e até então, nunca havia chegado a um pódio. 

A lutadora foi derrotada no combate contra a panamenha Atheyna Bibeichi Bylon, com decisão unânime dos juízes em 4-1 para a adversária. No boxe, quem é derrotada na semifinal, já garante medalha de bronze.  

Essa é a primeira olimpíada de Ngamba, que por ser uma mulher lésbica, teve de deixar Camarões, já que o país criminaliza a homossexualidade. Ela se mudou para o Reino Unido com seus familiares aos 11 anos e recebeu a classificação de refugiada em 2021 porque poderia ter sido presa no país natal. 

Cindy já havia recebido uma grande honraria nestes jogos ao ser uma das porta-bandeiras do comitê de refugiados na cerimônia de abertura nas águas do Sena. Mal ela sabia o que estava por vir. 

Países que ainda sonham com a primeira medalha

Até o momento, mais de 70 países que participam das Olimpíadas, quase um terço das federações que enviam atletas, nunca conquistaram uma medalha em competições. A falta de investimento, material e estrutura para a fomentação e desenvolvimento do esporte, além de diversas questões sociais, são alguns dos motivos para que várias nações jamais tenham alcançado o ápice em alguma modalidade dos jogos.