Pioneer Ball celebra a Cultura Ballroom no Sesc Pompeia
House of Hands Up, pioneira desta cultura preta e LGBTQIAPN+ no Brasil, realiza segunda edição do evento na Comedoria
No dia 19 de outubro, sábado, a partir das 19h, acontece a 2ª edição da Pioneer Ball, que visa valorizar as pessoas pioneiras da Cultura Ballroom no Brasil e nos Estados Unidos, onde foi criada, a fim de tornar essas pessoas e seus feitos lembrados e registrados. Realizada pelo Sesc Pompeia e pela Pioneer House of Hands Up, o evento acontece na Comedoria. Será a primeira vez que o espaço recebe uma ball. Os ingressos estão disponíveis no site do Sesc SP. Além da ball, será realizada uma roda de conversa na quarta-feira, dia 16, sobre Pioneirismo e legado na Ballroom BR. A entrada é gratuita.
As dez categorias, distribuídas entre dança, beleza e performance, trarão como tema artistas que dedicaram e/ou ainda dedicam suas vidas para a preservação e promoção da Cultura Ballroom – cultura criada por pessoas negras, LGBTQIAPN+, latinas e periféricas. As homenagens também englobam artistas pioneires de categorias que a cultura tem abraçado no Brasil, como o funk. O júri será formado apenas por pessoas pioneiras da Ballroom no país: Ákira Avalanx (SP), Fênix Negra de Mandacaru (AL), Karol Raabe (SP), Rothyer Juicy Couture (RJ) e Yagaga Kengaral (CE). Félix Pimenta (SP) e Eduarda Kona Zion (DF), também pioneires, serão Chanter e MC, respectivamente.
Para Eduarda Kona Zion, Mother da House of Hands Up e uma das pioneiras da Ballroom no Brasil, “a Cultura Ballroom, sendo criada, desenvolvida, mantida e divulgada por pessoas negras, LGBTQIAPN+, latinas e periféricas, é marginalizada e discriminada. Daí a importância de realizar atividades que celebrem as vidas e os trabalhos dessas pessoas”.
A Ballroom é uma inspiração para diversas culturas, tendo sido retratada em séries como Pose (FX-Netflix) e Legendary (HBO Max), nos Estados Unidos, e, mais recentemente, Segura essa Pose (Globoplay), no Brasil.
“É fundamental que as instituições invistam na criação de espaços de acolhimento e valorização das habilidades dessas pessoas. A Cultura Ballroom oferece um ambiente seguro onde elas podem ser verdadeiramente quem são, muitas vezes sendo esse o único lugar em que são valorizadas e aplaudidas”, diz Eduarda.
O que é Ballroom?
A história da Cultura Ballroom remete às drag balls (bailes drags) que aconteciam desde o início do século XIX (1842-1869). Com o Harlem Renaissance, bailes de máscaras aconteciam com frequência em locais como o Palácio Rockland e o Savoy Ballroom, com milhares de pessoas assistindo e prêmios concedidos para os melhores trajes.
Mas a comunidade ballroom vai surgir, com a estrutura que conhecemos hoje, no final da década de 1960-1970. Um marco desse momento pode ser visto no documentário The Queen (1968), em que Crystal LaBeija, pessoa preta, não aceita ter perdido o concurso de beleza de drag queens para pessoas brancas, e resolve se manifestar. Ela criou então a House of LaBeija, primeira com esse formato, inaugurando esse espaço tão fundamental que são as houses. Esse processo aconteceu nas periferias de Nova York, e as houses se tornaram potentes ferramentas de engajamento comunitário, promovendo entretenimento, empoderamento, acolhimento e exaltação de pessoas negras, latinas, LGBTQIAPN+ e vivendo com HIV.
O que é uma Ball?
As Balls (bailes) desde sempre foram esse espaço de apoio, acolhimento e proteção, nas quais várias performances são realizadas em formato de batalhas, com categorias dançadas e categorias comportamentais. Mas são, acima de tudo, o lugar em que pessoas marginalizadas recebem afeto, aplausos, e reconhecimento por serem quem são. Onde seus corpos, que sempre foram alvo do extermínio de países ao redor do mundo, podem se expressar livremente.
Elas são o grande momento em que a comunidade ballroom se encontra para homenagear membros, realizar apresentações e concursos divididos em diferentes categorias, incluindo a dança/performance “Vogue”, elemento de grande visibilidade que atraiu olhares de diversos lugares para essa cultura revolucionária.
Saiba mais sobre a Pioneer House of Hands Up
A Pioneer House of Hands Up é a primeira casa sobre cultura Ballroom e Voguing do Brasil. Nasceu em 2012 com o intuito de promover estudos e eventos para comunidade LGBTQIAPN+ e balls, promovendo, fomentando e preservando a memória performática negra, LGBTQIAPN+, latina, periférica. Iniciou como um grupo de estudos das estéticas de dança Waacking e Voguing e o nome foi escolhido a partir de uma síntese das vivências de seus integrantes na época.
Nesse período, essas estéticas sofriam preconceito dentro dos grupos de danças urbanas da cidade e eram chamadas pejorativamente de “gay style”. O significado de Hands Up rebate esse preconceito, fazendo alusão às movimentações de Waacking e Voguing e representando a atitude de sempre manter seus braços dançando, independentemente das adversidades.
O grupo ganhou destaque no Distrito Federal e chegou a se apresentar em mostras de dança pela cidade e participar de batalhas de Waacking. Em 2015, se autodenomina oficialmente como uma House dentro da Cultura Ballroom, e realiza seu primeiro evento: a Gótica Futurista Kiki Ball (2015 – DF). Desde então, vem oferecendo diversas contribuições para a cena local, regional, nacional e internacional. Com 12 anos de história, a Hands Up já formou centenas de artistas e contribuiu com a formação da cena e de outras houses em Brasília e no Brasil, tendo capítulos no Distrito Federal, Mato Grosso do Sul e São Paulo.
Em São Paulo, já realizou quatro balls: 1ª Pioneer Ball, que homenageou as pessoas pioneiras da cena, em julho de 2023; 1ª Ball da Excelência Negra, primeira atividade da Cultura Ballroom na Expo da Consciência Negra, em novembro; Ball da Geni, primeira ball dentro do Movimento Internacional do Teatro de São Paulo (MIT-SP), em março de 2024; e a Ball dos 4 Elementos, em junho, que homenageou a Cultura Hip Hop na primeira Casa de Cultura voltada para este movimento no Brasil.
Serviço
Ballroom: Pioneer Ball 2024
Com House of Hands Up
Dia 19/10, sábado, às 19h
Local: Comedoria do Sesc Pompeia
Ingressos: clique aqui
Roda de Conversa – Pioneirismo e legado na Ballroom BR
Dia 16/16, quarta-feira, às 18h
Local: Área de Convivência do Sesc Pompeia
Entrada gratuita
Endereço: Sesc Pompeia – Rua Clélia, 93, Água Branca
Não possui estacionamento