Pila Verde: a moeda social no interior do Rio Grande do Sul que também protege o meio ambiente
A Pila Verde tem feito o maior sucesso em Santiago, município no interior do Rio Grande do Sul. A prefeitura criou essa moeda social há três meses, uma iniciativa que engloba economia solidária e meio ambiente.
A Pila Verde tem feito o maior sucesso em Santiago, município no interior do Rio Grande do Sul. A prefeitura criou essa moeda social há três meses, uma iniciativa que engloba economia solidária e meio ambiente. A proposta consiste na coleta e reaproveitamento do resíduo orgânico da cidade para a produção de adubo, que será utilizado no cultivo local de alimentos da agricultura familiar, e no estímulo ao consumo desses alimentos saudáveis comercializados nas feiras da cidade. A Pila Verde é a moeda utilizada em todas as etapas. Tudo isso também tem gerado economia aos cofres públicos. Esta é mais uma iniciativa identificada pela campanha Agroecologia nas Eleições, da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), que acontece em todo país.
Desde 2014, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente vem tentando resolver as questões dos resíduos domésticos na cidade e já vinha apresentando soluções para a coleta seletiva dos lixos orgânicos e eletrônicos. Em alguns casos, como lâmpadas, esponjas e pneus, há empresas que realizam, sem nenhum custo para a prefeitura, a coleta do lixo gerado pelo descarte dos materiais que elas produzem, a chamada logística reversa. Os recolhimentos eram realizados por bairros a cada dia da semana. Após muito diálogo com a sociedade civil, há três meses foi criado o projeto Pila Verde, com foco na coleta e processamento do lixo orgânico. Para fortalecer ainda mais o tratamento do resíduo orgânico gerado na cidade, foi criado um ponto fixo para recebimento desse tipo de material.
Após análise, a prefeitura chegou à conclusão que havia um gasto de quase R$ 500 por tonelada de resíduo, desde o recolhimento até o destino final em Santa Maria, município próximo, o que equivaleria a, aproximadamente, R$ 0,50 o quilo do lixo. Além desse gasto, percebeu-se também que os agricultores tinham um custo de R$ 90 por tonelada de substrato de adubo orgânico comprado em Montenegro, próximo a Porto Alegre.
A Pila Verde surge conectando diversos elos dessa cadeia. O morador da cidade, ao vender 5kg de lixo orgânico da sua casa por 1 pila (equivalente a 1 real), pode utilizar essa moeda nas feiras orgânicas locais. A prefeitura compra o lixo dos moradores da cidade, produz o adubo orgânico e o vende aos agricultores locais por R$ 30 a tonelada, ou seja, R$ 60 mais barato que o valor do mercado.
O processo da compostagem conta com o apoio da Secretaria de Obras, que fornece galhos e folhas secas, dentre outros nutrientes naturais que irão compor o adubo orgânico. O produtor rural, por sua vez, recebe a Pila Verde dos consumidores na feira e pode pagar à prefeitura com essa moeda, inclusive comprando sementes e mudas a preços mais acessíveis. Todo dia da semana tem feira acontecendo em algum bairro da cidade.
A ideia inicial era começar o projeto da moeda local nas escolas, como uma proposta de conscientização ambiental, mas, com a pandemia, tudo foi repensado. Segundo o coordenador de resíduos do município, Dan Martins, essa já era uma preocupação antiga. Em articulação com alguns representantes de bairros foi possível traçar estratégias para o transporte, tratamento e reutilização do lixo orgânico.
“Neste mês de novembro, começaremos o recolhimento em mais dois bairros. As pessoas poderão vender cascas de frutas, legumes e erva mate, que é tradição do gaúcho tomar muito chimarrão e representa uma grande fatia do lixo orgânico. Temos uma fila de produtores esperando adubo, que deve zerar até o final do mês, quando atenderemos a todos. Também percebemos que aumentou o movimento da feira com pessoas que nunca tinham ido comprar lá” afirmou Martins.
A expectativa é que o modelo, que ganhou muita repercussão rapidamente, seja adaptado às realidades de outras cidades, a partir desta experiência. Embora ainda esteja engatinhando, o projeto deve ser potencializado cada vez mais. De acordo com Andriele de Medeiros Martins, secretária de Meio Ambiente, nestes quase três meses já foram distribuídas 3 mil pilas e trocadas mais de 10 toneladas de adubo. O projeto envolveu, até o momento, cerca de 50 agricultores familiares, que compraram, aproximadamente, 5 mil mudas de hortaliças e sementes.
“Esperamos reduzir o custo do lixo. Nossa expectativa é que, a cada 5 kg de resíduos orgânicos trocados por 1 pila na feira, o produtor receba adubo, mudas e sementes. Antes da Pila Verde, nós mandávamos, em média, cerca de 750 toneladas de lixo por mês para o aterro sanitário. No último mês, geramos uma economia de 6 toneladas de lixo. No mês de outubro, distribuímos 4 toneladas de adubos e pretendemos distribuir mais 4 toneladas. Assim, através do projeto, economizamos recursos públicos e investimos na agricultura familiar”, explicou a gestora.
A questão ambiental também é relevante na proposta, na medida em que os produtores não usam adubos químicos na região e a prefeitura estoca menos lixo nos aterros sanitários. Além disso, os moradores se alimentam melhor. De acordo com o agricultor familiar Lucimar Dalenogare, de 44 anos, com o projeto foi possível economizar em torno de 30 a 40% no custo de produção. Ele comercializa muitas variedades de hortaliças, que são vendidas nas feiras dos produtores rurais que acontecem todos os dias na cidade, além de alguns mercados, na merenda escolar e em quartéis.
“O projeto está dando muito certo. É muito bom, principalmente para o meio ambiente, porque diminui o lixo. Ajuda as pessoas, que entregam o lixo orgânico, que será transformado em adubo. Isso é bom para nós, agricultores que plantamos hortaliças, pois, além de o adubo ser barato, não tem nada de produto químico. Além disso, o projeto reduzir os gastos da prefeitura”, afirmou Lucimar.
Edição: Viviane Brochardt
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