Pfizer confirma à CPI que governo Bolsonaro ignorou cinco ofertas de vacinas em 2020
Depoimento de Carlos Murillo revelou que o governo Bolsonaro ignorou ao menos cinco propostas de vacinas ano passado.
Chamado à CPI da Covid nesta quinta-feira (13), o representante da Pfizer, Carlos Murillo, revelou que o governo Bolsonaro ignorou ao menos cinco propostas de vacinas ano passado. A primeira delas foi ofertada em agosto do ano passado prevendo 70 milhões de doses. Já neste ano, a Pfizer fez mais uma oferta ao governo em 15 de fevereiro oferecendo 100 milhões de doses. De novo, a gestão Bolsonaro não fechou o acordo.
O Ministério da Saúde, porém, assinou contrato com a farmacêutica em março deste ano, prevendo 100 milhões de doses, onde 14 milhões devem ser entregues entregues até julho e os 86 milhões de doses restantes chegarão até o final do ano.
Senadores da oposição avaliam que o depoimento de Murillo foi importante para atestar a inação por parte do governo Bolsonaro diante da pandemia de Covid-19.
Presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM) sublinhou o cálculo feito pelo gerente-geral da Pfizer: se o governo Bolsonaro tivesse assinado o contrato de agosto, o país teria garantido 18,5 milhões de doses da vacina, até o segundo trimestre deste ano. O Brasil recebeu, até agora, apenas 1,6 milhões de doses.
Carluxo e Martins em reunião sobre vacinas
Carlos Murrilo confirmou à CPI a participação do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) em reunião para tratar de vacinas. Ele citou que duas representantes do jurídico da empresa mantinham reunião no Palácio do Planalto com o ex-secretário de Comunicação Fabio Wajngarten e seus auxiliares, para esclarecer pontos relativos à aquisição da vacina.
O representante da farmaceutica citou uma reunião que estivera com o ex-secretário de Comunicação da Presidência, Fábio Wajngarten, que recebeu um telefonema e deixou a sala onde discutiam entraves da vacina. Ao retornar, estava acompanhado de Carlos Bolsonaro, filho do presidente da República, e do assessor internacional da Presidência, Filipe Martins.
Martins é o assessor do presidente no qual a polícia do Senado decidiu indiciar por gesto de conotação racista feito com a mão durante uma sessão da Casa em 24 de março. O assessor de Bolsonaro foi enquadrado no artigo 20 da lei 7.716 que trata dos crimes de preconceito de raça ou de cor.
Para integrantes da CPI da Covid ficou evidenciado que Carluxo e Martins eram integrantes assíduos do “gabinete paralelo”, citado pelo ex-ministro da Saúde, Henrique Mandetta, e que davam uma orientação paralela a Bolsonaro na gestão da pandemia.
Araújo é o próximo a depor
O próximo a depor será o ex-ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. Ele deverá ser inquirido sobre as estratégias internacionais para o Brasil adquirir mais vacinas. Durante sua passagem pelo Itamaraty, Araújo sofreu forte pressão de senadores que reclamavam de sua diplomacia com a China. Os mais recentes ataques de Bolsonaro à China bloquearam envio do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA) e devem atrasar a produção de vacinas pelo Instituto Butantan, em São Paulo.