Petro herda os desafios de superar a crescente violência de um país dividido e promete uma nação com menos desigualdade e com justiça ambiental

Petro e a vice, Márquez, durante a cerimônia solene. Foto: Juan Barreto/AFP

Gustavo Petro tomou posse neste domingo (7), como o primeiro presidente de esquerda da Colômbia, diante de centenas de milhares de pessoas que acompanharam a cerimônia na Plaza de Bolívar, em Bogotá. O ex-guerrilheiro de 62 anos, que fez carreira na política como senador e prefeito de Bogotá, promete transformações profundas em um país desigual e sitiado pela violência do narcotráfico.

Com a chegada de Petro ao poder, a Colômbia iniciou uma nova era política no país em 200 anos de história republicana. Ele governará a Colômbia ao lado da ambientalista Francia Márquez, de 40 anos, que ocupará o cargo de vice-presidenta. Ela é a primeira afro-latina do país a ocupar o cargo que historicamente esteve governada pelas elites de homens brancos.

A senadora María José Pizarro, filha de Carlos Pizarro, companheiro do presidente na guerrilha M-19 e assassinado por terrorismo de Estado em 1990, quando era candidato à Presidência, colocou a faixa presidencial em Petro. “Juro a Deus e prometo ao povo cumprir fielmente a Constituição e as leis da Colômbia”, disse o Petro em frente ao chefe do Congresso, na Plaza de Bolívar.

Depois de se tornarem os novos chefes do governo da Colômbia, Petro e França se abraçaram, um gesto de força e unidade para o país andino atravessado pelo conflito armado que hoje inicia um novo ciclo.

Desafios

Com a faixa presidencial, Petro herda os desafios de superar a crescente violência que ceifou a vida de mais de 560 defensores de direitos humanos desde 2016, a inflação mais alta das últimas duas décadas e a busca por consenso em um país dividido.

Ele substitui o impopular Iván Duque e governará por quatro anos um país de 50 milhões de habitantes. Petro prometeu uma nação com menos desigualdade, que garantirá os direitos de todos os seus cidadãos – especialmente os mais vulneráveis – e que dará prioridade ao meio ambiente.

“Vai começar o primeiro governo que esperamos que seja da paz. Que possa trazer à Colômbia o que têm faltado durante séculos que é a tranquilidade e a paz. Aqui inicia um governo que luta por justiça ambiental”, disse Petro no sábado (6), em um ato na capital Bogotá.

Petro parte de uma posição invejável, com a maioria ampla no Congresso e, em relação às ruas, conta com apoio que nenhum governo anterior teve nos últimos anos, comenta o analista Jorge Restrepo, do Centro de Recursos para el Análisis de Conflictos (Cerac).

O presidente reuniu um governo de diversas tendências, com mulheres à frente de vários ministérios e a missão de levar à diante reformas que começarão no período legislativo a partir desta segunda-feira (8). Entre elas estão o projeto que eleva os impostos aos mais ricos, reduz a arrecadação e tributa bebidas açucaradas, em busca de recursos para os projetos sociais. Petro propõe reduzir a distância entre ricos e pobres, uma das mais amplas do continente junto com a do Brasil, com maior acesso ao crédito, subsídios e educação pública.

Antes da posse oficial, Petro participou de uma primeira cerimônia simbólica de posse perante o povo indígena Arauhaco, em Serra Nevada de Santa Marta, no norte do país. Um dos mamos – a mais alta hierarquia da comunidade – pediu-lhe que respondesse às exigências da sociedade e deu-lhe uma bengala que representa a sabedoria.

Política internacional e negociações de paz

Na frente internacional, Petro reativará as relações diplomáticas e comerciais com o governo de Nicolás Maduro na Venezuela, rompidas desde 2019, e buscará apoio para retomar as conversações de paz com o Exército de Liberación Nacional (ELN), a última guerrilha reconhecida no país.

Embora o acordo de paz com as Farc, antiga organização armada de extrema esquerda, tenha reduzido a violência, a Colômbia ainda não conseguiu extinguir o último conflito armado interno no continente.

Segundo a analista política Sandra Borda, o objetivo de melhorar as relações com a Venezuela está ligado à possibilidade desse país facilitar o diálogo com o ELN. Após ser eleito, Petro adotou uma postura mais moderada em algumas questões, disse, e buscou o diálogo com seus adversários políticos.

Além do ELN, poderosos traficantes como o Clã del Golfo, chefiado pelo capo ‘Otoniel’, extraditado este ano para os Estados Unidos, impõem sua lei em várias áreas do país.

O grupo anunciou neste domingo um cessar “unilateral de hostilidades ofensivas”, para buscar os “caminhos da paz”, a partir do início de “uma era distinta” na Colômbia, com a posse de Petro. “Por fim, termina o regime do presidente (Iván) Duque”, aponta no início o comunicado daquele que é considerado o maior grupo criminoso do país sul-americano.

As dissidências que se marginalizaram do pacto de paz também desafiam o estado graças aos recursos do garimpo ilegal e principalmente do narcotráfico.

Petro também recebe um país com a maior produção de cocaína do mundo, para o qual propôs repensar a fracassada política de proibição das drogas em conjunto com os Estados Unidos, principal consumidor do derivado da folha de coca.

Juntamente com o convite para dialogar com o ELN, Petro vai propor aos grupos armados que se rendam em troca de benefícios criminais, enquanto reforma ou dissolve a tropa de choque implicada em violações de direitos humanos durante a repressão aos protestos massivos dos últimos anos.

Com informações das agências internacionais