Pessoas acima do lucro: Saúde como direito humano em todo o Mundo
Durante a People’s Summit for Democracy, aconteceu uma mesa para debater a saúde como direito humano globalmente, em todos os países.
Por Laura Uyeno para Cobertura Colaborativa NINJA People’s Summit
“A pandemia de Covid-19 já custou mais de um milhão de vidas nos Estados Unidos e deixou claro que o país mais rico do mundo continua valorizando o lucro econômico em detrimento do bem-estar da humanidade. Nesta mesa, serão discutidos outros modelos de solidariedade social e lutas contra a privatização da saúde em um outro possibilidades em que se possa priorizar a saúde para todos.”
Sameena Rahman abre os trabalhos da mesa. Ela é ativista da Coalizão ANSWER (Act Now to Stop War and End Racism) e mestre em Saúde Pública e Ciências Biomédicas. Durante sua formação teve contato com questões relacionadas à saúde e imigração que a incentivaram a lutar por saúde acima do lucro e por um sistema socialista. A mesma fala sobre as subsequentes crises que o mundo vem passando e como são as próprias pessoas que fazem parte desse mundo que encontrarão as soluções para que essas crises sejam superadas juntos e muito além de barreiras. Dessa forma, critica como a Cúpula das Américas começa errado, quando bane da participação países (Cuba, Venezuela e Nicarágua).
Convoca de forma online a Dra. Tania Crombet Ramos, imunologista cubana, especialista em imunoterapia para câncer e contribuiu para o registro em Cuba e no exterior de uma vacina contra o câncer e anticorpo monoclonal para diversos tumores epiteliais. A Dra. Tania fala do sucesso a partir do embargo à Cuba, do processo obrigatório de encontrar uma solução para o COVID que fosse produzido dentro do país. O protocolo mensurava o PCR (marcador inflamatório) e tratava-se precocemente com alfa interferon recombinante. Os números mostram que 99% dos portadores de COVID tiveram completa recuperação e que o índice de mortalidade foi de 0,77 e a taxa de morte/ milhão é de 753. Desenvolveu-se internamente 5 vacinas candidatas e 3 delas foram aprovadas pela agência reguladora. Foi o primeiro país a implementar vacinas em crianças, gestantes, puérperas e convalescentes. O país também tem uma das maiores taxas de vacinação no mundo, na casa de 94% da população vacinada. Já tem novos protocolos para tratar sequelas renais, respiratórias e cardiovasculares do COVID-19 e seguem em avanços de suas principais pesquisas que são para tratamento de câncer e Alzheimer.
Na sequência se apresenta a Dra. Ana Malinow, pediatra estadunidense que trabalhou durante décadas com crianças refugiadas. Escreveu artigos de opinião sobre como o single-payer nacional, um modelo similar ao SUS, poderia melhorar o atendimento e se aproximaria da justiça social. Abre sua palestra dizendo que teria que explicar como seu país como um dos mais ricos do mundo faz a gestão de sua saúde, e já questiona essa métrica, uma vez que em que parâmetros estaríamos medindo essa riqueza. Conta que em sua prática de 30 anos, já viu situações agravadas de saúde por falta de acesso a saúde ou tratamento que não seriam assistidas no “país mais rico do mundo”. Fala dos oito princípios que mensuram o direito individual a atenção a saúde que seriam: acesso universal, disponibilidade de infraestrutura de saúde e serviços, cuidado aceitável e digno, igualdade e não discriminação, alta qualidade de serviços, participação, transparência e acesso a informação e responsabilidade. Caso forem utilizar essas métricas os EUA falharam miseravelmente. Reforça que quem ganha com um sistema caro, com medicações caras e inacessíveis não é o povo americano, mas as empresas de seguro. Questiona porque durante o governo Trump houve tanta pressa em derrubar o Obamacare e como na gestão Biden o mesmo não se repete, e reforça o quanto a implantação do single-payer (Medcare For All Act) poderia trazer justiça social.
Na sequência é convocado Bill McKibben, ambientalista, autor e educador dos EUA que escreveu sobre o impacto do aquecimento global. Seu livro, The End of Nature, é considerado o primeiro livro sobre mudanças climáticas. Ele se opôs a projetos de oleodutos como o Keystone XL e apoiou a campanha de desinvestimento em combustíveis fósseis. Fundou o Third Act, organização com mais de 60 anos para ação sobre justiça climática, e é co-fundador do grupo de campanha climática 350.org. Dá uma dimensão de saúde do perigo dos combustíveis fósseis, não somente enquanto emissão de monóxido de carbono, como também de partículas que acometem os pulmões. 9 milhões de pessoas ao ano morrem ao respirar essas pequenas partículas dos combustíveis, afetando principalmente os mais vulneráveis como aqueles que vivem ao lado de rodovias e fábricas. São causas evitáveis uma vez que já há tecnologia para se obter energia limpa, como solar ou eólica. Entretanto, fala que há interesses econômicos e políticos que impedem a mudança completa para novas formas de energia.
A próxima palestrante é Tynetta Hill-Muhammad é a Organizadora do Capítulo de Chicago para BYP100 e Organizadora do Scholar for Social Justice. Seu trabalho se dá em torno de organizações negras, queer, feministas e abolicionistas e iniciativas transformadoras de educação em saúde e espaços de movimentos transnacionais. Acredita no poder das narrativas pessoais na construção de uma visão organizada de futuro. Fala de uma visão mais integrada do que é saúde, fora do contexto hospitalar, mas dentro da comunidade. Dessa forma entende que o indivíduo tem direito de acesso a transporte, alimentação, saúde mental, educação em saúde. Destaca o quanto a raça interfere no quanto de acesso a essas ferramentas mudam, como no caso dos indigenas e dos negros, assim como o fato também se forem pessoas queer. Também destaca que a expectativa de vida é completamente diferente com distância de alguns quarteirões já que o acesso a cuidados de saúde está diretamente relacionado com o poder financeiro.
O seguinte palestrante é Carlos Marroquin, ativista e líder comunitário em Los Angeles. É o diretor nacional dos programas de alimentação para saúde, membro do conselho do Urban Partners de Los Angeles e membro do Healthcare for All LA. Trabalha no fortalecimento de comunidades pobres e classe trabalhadora por expansão de programas de alimentação e educação. Fundou o Occupy Fights Foreclosures e foi o principal organizador do Bernie Sanders Brigade. Faz conexão das pessoas acima dos lucros no tema da segurança alimentar, como a falta de acesso a alimentos saudáveis. São várias as causas como a violência, conflitos, desperdício, desastres naturais, falta de terras para plantios, regras econômicas injustas, a mudança climática, ações de grandes corporações e ganância. Relata que o maior detentor de terras dos EUA é Bill Gates e o quanto trata-se de controle, domínio, lucro sobre o maior direito humano que é o acesso a alimento saudável. Fala o quanto os mais pobres e minorias como negros e índigenas foram os mais afetados.
A última palestrante é a Dra. Bita Amani, epidemiologista social com foco nas relações entre saúde e política. Ela investiga como o desinvestimento e a violência sancionados pelo Estado perpetuam a desigualdade racial por meio de crises de saúde pública e como a saúde pública pode manter um sistema de supremacia branca. Ela prioriza soluções de promoção da saúde, como o Modelo de Saúde Cubano, que conheceu em intercâmbio, e apoia parcerias com organizações de base como Stop LAPD Spying Coalition e Youth Justice Coalition. Diz que o sucesso do modelo está relacionado a alguns pontos, em comparação ao modelo americano. O modelo cubano está relacionado ao enfoque na saúde e não na doença, dessa forma, é um modelo que trabalha na prevenção das doenças e num modelo de saúde primária e não hospitalar. Também fala da grande parcela do currículo médico cubano, relacionado às questões sociais e o quanto isso influencia na maneira de se ver o paciente do ponto de vista holístico (biopsicossocial). Por fim também destaca o modelo econômico que não prioriza lucros e que se foca na distribuição mais igualitária de saúde a todos.